A Vila Nova Cachoeirinha é a segunda favela a virar arte a céu aberto em Belo Horizonte. O projeto, idealizado pela artista visual Criola reuniu apoiadores, artistas e moradores para a decoração de 37 casas do local. A obra é uma espécie de mirante para quem transita pela avenida e contempla uma figura geométrica com cores chamativas, que, segundo Criola são símbolos que representam um portal de povos ancestrais no meio da favela.
A realização contou com a participação do Mamu - Morro Arte Mural e da Pública Agência de Arte. Criola esteve presente em todo processo, desde a criação da arte, marcação, organização das casas, montagem de andaimes, reboco e pintura. Os moradores abraçaram a ideia e foram os protagonistas também na mão de obra que deu vida às imagens das casas.
Juliana Flores, fundadora da Pública explica que a escolha da comunidade foi baseada nas pessoas do local, que se sentem esquecidas e invisíveis. E pela região ser propícia para a criação de um macro mural localizado na principal avenida da regional Pampulha e uma das mais importantes e movimentadas da capital mineira.
O pintor Cléber Antônio, 38 anos, sempre viveu na Nova Cachoeirinha e foi um dos escolhidos para ajudar na pintura: eu vejo a vista aqui da minha laje e me orgulho desse colorido da vizinhança. Cléber conta que além da alegria em fazer parte da equipe que produziu a obra, teve uma grande oportunidade de trabalho e de mostrar o próprio talento.
A autoestima dos moradores foi fortalecida com a inclusão deles no projeto. O líder comunitário Rogeris Alberto concorda e acrescenta que essa credibilidade para a comunidade chama atenção e desperta a sensação de pertencimento. “É importante para atrair novas experiências e novas conquistas”, completa Rogeris.
A idealizadora reflete que assim como essa, muitas outras quebradas são esquecidas pelo poder público. “Esses lugares precisam ser vistos. Aqui tem muita potência”, concluiu Criola. Novos talentos também foram revelados durante as ações. Foi promovida uma oficina de grafite com as crianças e jovens que aprenderam se divertindo nos 30 dias da produção da arte. Outras oficinas como emprenderdorismo criativo e dança foram incluídas nas ações.
O vendedor de abacates, Augusto da Costa, 43, mora nas ruas da região e se sente parte de toda a arte que visualiza diariamente durante seu trajeto. “É algo bonito de se ver, faz bem pro ego”, diz. Augusto conhece os moradores de todas as casas coloridas e diz que quem mora lá dentro está representando a própria arte, e que essa, só pode ser vista por inteiro por quem avista da parte de baixo.