Coletivo Favela Vertical ajuda na formação de jovens do Rio

Projeto que nasceu na Gardênia Azul, na zona oeste do Rio, visa democratizar o acesso à cultura e a educação para os moradores da região

14 nov 2022 - 05h00
Gabriel Cardoso professor de filosofia em sala de aula com os alunos do Pré-Vestibular Conceição Evaristo
Gabriel Cardoso professor de filosofia em sala de aula com os alunos do Pré-Vestibular Conceição Evaristo
Foto: Arquivo pessoal

Pensando em formas de ocupar espaços dentro da favela, para estimular os jovens a ter novas perspectivas de vida, o produtor cultural Rafael Oliveira, de 26 anos fundou em 2019 o Coletivo Favela Vertical que oferecem aulas de pré-vestibular social e também realizam diversas ações dentro da comunidade.

Depois de uma experiência que teve em sua formação como produtor cultural, Rafael aprendeu muitas tecnologias e descobriu meios que existem e são possíveis para esculpir um projeto, e a partir dai começou a escrever e pensar o Favela Vertical. Com a ideia no papel o próximo passo era encontrar um espaço e pessoas para contribuir nessa trajetória e assim o fez.

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“A primeira coisa foi encontrar pessoas que fossem não só do território, mas que eu pudesse trazer para que a gente pensasse em formas de melhorar o território. O professor André foi uma das primeiras pessoas, está comigo desde a primeira reunião que não foi nem aqui no Gardênia, porque a gente não tinha esse espaço, não tinha uma sala, a gente sabia como fazer, tínhamos um norte que era educação, cultura, empregabilidade, então a gente começou a se movimentar”, conta Rafael que atualmente é diretor executivo do Favela Vertical.

Mas foi só em março de 2020 que o espaço que existe hoje, onde acontecem às aulas do Pré-Vestibular Social Conceição Evaristo, foi conquistado. A sede do projeto foi cedida por uma organização que trabalha com saúde e fisioterapia na comunidade, eles tinham um espaço parado há mais de três anos e cedeu para que o Coletivo ocupasse. Rafael lembra que não tinha nada quando receberam o local. “Não era nada do que é hoje. A gente entrou aqui e começou a fazer as coisas acontecerem e agora o espaço é nosso de verdade”. Atualmente o espaço conta com uma sala de aula, laboratório digital e a sala de coordenação.

Para dar início ao pré-vestibular, com uma equipe já reunida, o fundador organizou uma feijoada para conseguir arrecadar dinheiro e comprar as primeiras coisas para o espaço. Na semana seguinte aconteceria a primeira aula, se não fosse a chegada da pandemia causada pelo Covid-19. “Tivemos que paralisar tudo, não sabia muito o que fazer mas acabamos indo pro formato online”, relembra Rafael. O projeto seguiu e as aulas do pré-vestibular aconteceram no formato online que durou todo o ano de 2020 e em 2021 conseguiram retomar aos poucos presencialmente.

Rafael Oliveira, fundador e diretor executivo do Favela Vertical
Foto: Arquivo pessoal

Durante esse período de dificuldades para muitos moradores da Gardênia Azul, o Coletivo Favela Vertical foi essencial, arrecadou e doou mais de 500 mil cestas básicas para os moradores e familiares de alunos do projeto dentro da comunidade. Para Rafael, o Favela Vertical é um espaço que ele gostaria de ter conhecido quando jovem, dentro do território em que cresceu. “Esse é um lugar pra você ter o mínimo de esperança e oportunidade sabe. Pra mim é isso, pra mim é isso é o que a gente tenta fazer todo dia”.

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Uma das pessoas que ajudou e ainda ajuda a construir esse espaço de aprendizado e conhecimento, é o vice-diretor do Favela Vertical, André Ferreira, de 26 anos, nascido e criado na comunidade, se formou em História e atualmente dá aulas de História Geral e Sociologia para os alunos do Pré- vestibular. André que também estudou em pré-vestibular social,  compreende a importância do Coletivo como forma de  aproximar os jovens do ensino e incentivar a buscarem territórios maiores. “O Favela Vertical e o Pré- Vestibular Conceição Evaristo, eu sinto que são muitas potencias. Primeiro, que coloca que a universidade é algo possível  para esses jovens e depois que também estabelece  um espaço seguro assim”.

André Ferreira, vice-diretor do Favela Vertical e professor de história do Pré-Vestibular Conceição Evaristo
Foto: Arquivo pessoal

Gabriel Cardoso de 24 anos, também cresceu na favela Gardênia Azul, está concluindo a graduação em filosofia na UERJ, é também um dos professores no Pré- Vestibular Social Conceição Evaristo. Para o professor de filosofia, o vestibular é uma possibilidade de modificar o futuro da pessoa, de criar uma diferença dentro da favela. “Eu tô ali pra dar essa abertura de pensamento usando a filosofia como um instrumento também, mas mostrando que eles podem muito mais do que só serem moradores ir pro baile todo final de semana ou trabalhar no segundo emprego. A minha motivação vem de poder oferecer o que não existia pra mim, entende, não existia projetos antes. Então eu acho que a minha maior motivação é poder fazer com que as pessoas pensem diferente, sabe”.

Mariana Moreira, de 18 anos estudou no Pré- Vestibular Social Conceição Evaristo em 2021 a falta de incentivo no 3° ano do ensino médio pós-pandemia foi o motivo que a fez frequentar as aulas no projeto. Ela prestou vestibular e ingressou no curso de Produção Cultural pelo IFRJ. “Ter estudado no Pré tem uma importância de outro mundo, eu não tinha tanta consciência do que eu podia ser, do quanto eu podia almejar até que eu caí lá meio que "de paraquedas" e eu sinto até hoje que eles me lapidaram de forma que nem a rua ou mundo ensinariam. o Pré com toda certeza do mundo foi responsável por isso. Eu quero poder fazer o mesmo por outras pessoas, nem todo mundo sabe o quanto a educação pode transformar mas a gente está com essa missão de mostrar isso aqui no Gardênia Azul”.

Em agosto desse ano o Coletivo Favela Verfical recebeu uma moção da Câmara Municipal do Rio de Janeiro pelo trabalho desenvolvido com a juventude carioca, pelo trabalho que desenvolvem todos os dia com a juventude da Gardênia Azul.

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