Criado em setembro de 2020, ano que deu início à pandemia da Covid-19 no Brasil, o Mulheres no Corre busca atender às necessidades de jovens empreendedoras da periferia de São Paulo. Em dois anos, a iniciativa já atendeu pouco mais de 30 mulheres em diversos bairros do extremo sul da capital paulista.
Idealizado por Ana Paula, de 29 anos, cria da periferia e fotógrafa desde 2013, o projeto social tem a finalidade de auxiliar mulheres empreendedoras da quebrada a terem vídeos e fotos profissionais que possa dar ainda mais visibilidade aos seus negócios. Além disso, a iniciativa visa entender o corre dessas empreendedoras e dar um suporte básico em marketing, mídias sociais e financeira, incluindo uma consultoria por doação de colaboradoras.
Com empreendedores migrando ao ambiente digital durante o período de pandemia, Ana viu a necessidade em ajudar a manter os negócios de algumas mulheres. "Duas amigas, moradoras da periferia, queriam desistir de suas empresas, e me ofereci para dar imagens profissionais delas. Com isso, percebi que outras mulheres tinham uma presença digital boa para vender seus produtos e serviços, e foi aí que tive a ideia de criar o Mulheres no Corre".
Para ela, a principal dificuldade no andamento foi diferenciar uma empresa concentrada em bairros nobres a uma que está enraizada na periferia. "É questão de posicionamento de imagem, porque essas mulheres têm um produto tão bom quanto marcas mais famosas. O que falta é essa notoriedade digital".
Quem pode participar
Ana conta que logo no lançamento o projeto recebeu mais de 15 inscrições. O projeto é exclusivo para mulheres (cis ou trans) que empreendem na periferia e que não possuem fotos profissionais do seu negócio. "Ela precisa estar disposta a participar de um projeto intenso. Faço elas pensarem no básico do branding da empresa -- quem elas são, qual o público-alvo, como querem atingir os clientes, que tipo de ilustração querem e o que podemos abordar".
Fotógrafa lifestyle, Ana faz as imagens no espaço comercial ou na casa da empreendedora. Ela conta que as empreendedoras chegam até o projeto por indicação e que ainda falta uma mídia na periferia que divulgue iniciativas como esta.
"O projeto tem um impacto social gigante, porque além de mostrar e incentivar essas mulheres a se verem como empresas e mudarem a imagem dela com o público-alvo, indiretamente fomentamos as vendas por conta da mídia, ajudando na renda família", reforçou a fotógrafa.
A jovem entende que muitas mulheres tiveram empregos perdidos na pandemia e a renda extra passou a ser a renda principal. "Poucas tiveram ajuda para ser empreendedora por vocação. A maioria está por necessidade, porque tem um filho e precisa ter mais qualidade de vida e tempo para criá-lo".
Segundo ela, existem projetos que ajudam empreendedores nas periferias, alguns hubs espalhados, mas falta algo voltado para mulheres. "Empreender é solitário, ter que tomar decisões importantes sozinha traz uma carga emocional gigantesca, e para mulher que empreende, dona de casa, estudante, custa ainda mais demanda e atenção".
Não é cobrado nenhum valor para que mulheres participem do projeto, pois todo o custo é da empresa de Ana, a APhotos. Ela exige apenas o comprometimento das beneficiadas. "As fotos não funcionam se você não se aplicar e entender como elas podem te ajudar".
Expansão do projeto
A princípio, o projeto está concentrado na capital paulista, mas Ana estuda expandir em outras quebradas como um lugar de acolhimento para o corre das mulheres da periferia que buscam sua independência financeira.
Para ela, fotografar exige tempo e também demanda custos para manutenção de equipamento, edições dos materiais. Por isso, quer aumentar sua equipe. "Hoje não consigo atender mais que 3 mulheres por mês por conta da demanda da minha empresa. E para aumentar essa demanda do projeto eu precisaria aumentar a equipe de fotógrafas e editoras".
Atualmente, o projeto não tem aporte financeiro. Segundo ela, os custos com alimentação, transporte, manutenção aos R$ 2.500. Por falta de verba, a meta de Ana é atender 10 empresas até dezembro.
"O ideal para mim, seria fotografar uma média de 5 empresas por mês, mas sozinha não consigo. A dificuldade é de manter uma equipe de consultoria ativa para me ajudar no branding dessas mulheres. Eu sou fotógrafa e aplico o pouco de conhecimento que tenho em certas áreas e para que elas possam crescer. Preciso de pessoas especialistas nas áreas para ajudar nesse suporte".