Maestro de Osasco se torna 1º assistente de João Carlos Martins

O instrumentista Wallas Pena já se apresentou em 20 países e sonha em realizar um concerto no continente africano

22 dez 2022 - 05h00
(atualizado em 13/1/2023 às 13h44)
Wallas Pena tornou-se regente-assistente do ídolo e maestro João Carlos Martins
Wallas Pena tornou-se regente-assistente do ídolo e maestro João Carlos Martins
Foto: Jacqueline Maria da Silva/Agência Mural

“O maestro João Carlos Martins é uma força da natureza, com todo o carisma e a história de vida dele. Então, dividir um espetáculo com ele não é fácil. O que fiz foi me preparar artisticamente para poder honrar a oportunidade”, diz Wallas da Silva Gonçalves Pena, 41, sobre se tornar o primeiro regente-assistente de um dos maestros mais consagrados do Brasil. 

Violinista na Bachiana Filarmônica do Sesi (Serviço Social da Indústria) São Paulo desde 2016, em agosto deste ano surgiu o convite para se tornar o braço direito do pianista. 

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“Ele conversou com a diretoria do Sesi e acharam interessante a ideia de um assistente, porque ele faz muitos shows. O maestro perguntou se a orquestra tinha indicações e uma colega disse de forma despretensiosa: ‘coloca o Wallas, ele é estudioso e gosta de regência’”, lembra. 

A proposta foi feita em um sábado. Na segunda-feira, o violinista já estava preparado para reger uma sinfonia completa de Mozart em um ensaio fechado para os músicos. Pouco tempo depois, Wallas estreou como maestro oficial na temporada. 

O nome dele foi escolhido por unanimidade pelos integrantes da Filarmônica e, assim como em outros momentos da vida, Wallas agarrou o sonho. “As pessoas já me respeitavam como artista, mas ser maestro é um símbolo universal de competência e poder”, afirma. 

Wallas foi o primeiro da família a se tornar um músico profissional
Foto: Isabela Alves/Agência Mural

O início na música por meio do samba 

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Criado no Jardim São Victor, atual bairro Veloso, em Osasco, na Grande São Paulo, o primeiro acesso de Wallas à música veio por meio da família e do samba. Aos 10 anos, aprendeu a tocar o cavaquinho e outros instrumentos de percussão. 

A inspiração veio do pai, de tios e primos, mas o violinista foi o primeiro da família a se tornar profissional e viver exclusivamente da música. “A gente era uma família simples. Meus pais sempre me deixaram estudar e seguraram as pontas. Em momento algum tiveram dúvida do meu talento”.  

Aos 15, veio o contato com o violino e as apresentações na igreja do bairro. Depois começou a estudar mais profundamente a viola no Conservatório Musical Villa Lobos, em Osasco. Para se tornar profissional, pediu para participar gratuitamente das aulas do músico Emerson de Biaggi, uma referência na área. “Devo muito da minha carreira a ele.” 

Para estar mais próximo das salas de concertos, saiu da periferia aos 22 anos e se mudou para o centro da capital paulista. Prosseguiu os estudos na EMESP (Escola de Música do Estado de São Paulo) Tom Jobim, que na época se chamava ULM (Universidade Livre de Música). 

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Mais tarde, passou na Unesp (Universidade Estadual Paulista), mas estudou lá apenas por um ano e meio, pois no ano seguinte ganhou uma bolsa de estudos no Festival de Inverno de Campos do Jordão, grande evento da música erudita do Brasil, que premia o aluno de maior destaque durante a competição.  

O prêmio lhe rendeu uma quantia em dinheiro para que estudasse em qualquer lugar do mundo. “Pensava em ir para Europa, mas escolhi os Estados Unidos, porque ficou na minha mente o basquete e os filmes que assistia quando era criança”, diz ele, que entrou na Lynn University Conservatory of Music, na Flórida. 

Um momento que o marcou durante a graduação foi quando a instituição organizou um concerto de cordas no Haiti, país caribenho da América Central. “Os alunos nunca tinham tido a oportunidade de ver ótimos músicos tocando juntos e o fato de eu ser negro foi especial para eles, como também foi para mim”, diz. 

Na volta ao Brasil, integrou a equipe de instrumentistas da OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) como músico convidado, onde permaneceu por quatro anos. 

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O sonho de Wallas é se tornar um grande maestro brasileiro e tocar em um país da África
Foto: Jacqueline Maria da Silva/Agência Mural

Wallas também atua como professor no Conservatório de Tatuí, cidade no interior de São Paulo onde reside atualmente, e na EMESP Tom Jobim, pois acredita no poder de transformação da música na vida de crianças e adolescentes. 

Autodidata, o músico revela que muitas adversidades na vida dele foram superadas pela criação dentro da periferia. “Não quero romantizar a dificuldade, mas a imaginação me ajudou a resolver problemas. Soluções criativas brotam porque a gente fica meio treinado desde cedo”, conta. 

O sonho dele é se tornar um grande maestro brasileiro, assim como o ídolo João Carlos Martins. Um dos sonhos de Martins é levar uma orquestra jovem de um país africano para tocar no Carnegie Hall, em Nova York – a sala de concertos mais importante do mundo. Um sonho semelhante é compartilhado por Wallas, que almeja tocar em algum país da África em um futuro próximo. 

O jovem que cruzou fronteiras, tocou em mais de 20 países e realizou o sonho de ser maestro, ressalta que tem orgulho das próprias origens e vai levá-las para qualquer lugar do mundo. “Fico feliz de ter resistido e por não ter nenhuma espécie de vergonha em relação ao meu passado, a minha cultura e ao meu povo”, conclui. 

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