O debate em torno do uso de medicamentos e vacinação no veganismo é muito comum, e esse assunto gera muitas dúvidas. As vacinas são importantes e diversos medicamentos são extremamente necessários, e realmente há um nível de exploração animal bastante significativo no processo de produção, debatido inclusive entre cientistas da área.
Em momentos pandêmicos que envolvem diversas questões econômicas, sociais e de saúde pública é de extrema importância se vacinar. Na história, as vacinas foram fundamentais contra doenças como caxumba, varíola, febre amarela, gripe e diversas outras, salvando milhares de vidas e evitando epidemias e crises de saúde global.
Um exemplo recente é a vacinação contra o coronavírus, que foi extremamente eficaz. Assistimos à tragédia causada pelo atraso do Governo em garantir um programa de vacinação, o que causou mais de 600 mil mortes. Após a vacinação em massa, houve drástica redução de casos graves e óbitos. Portanto, ser antivacina é uma tremenda irresponsabilidade social e coletiva.
Além das vacinas, os fármacos não podem ser ignorados. Inclusive, dependendo da situação e da gravidade, é um equívoco questionar o uso de medicamentos. Um ótimo exemplo, são os medicamentos antirretrovirais utilizados para HIV, que controlam a infecção e permitem que as pessoas possam viver de forma saudável.
Em um evento, depois de uma roda de conversa no interior de São Paulo, uma adolescente bastante preocupada fez uma pergunta que me deixou chocado: "Eu sou vegana e uso muitos medicamentos para tratamento de câncer, é errado eu usar esses medicamentos testados em animais?’’.
Eu respondi: "de forma alguma, numa situação como essa, não existe nem a possibilidade de pensar se deve ou não tomar o remédio ou deixar de fazer qualquer tratamento'’.
Quando mencionamos que não utilizamos produtos ou marcas que testam em animais, não estamos dizendo que devemos ser negligentes e evitar se cuidar quando a única opção são medicamentos ou vacinas testadas.
A pergunta que mais recebemos é: ‘’Não é incoerente ser contra a exploração de animais e fazer o uso de medicamentos e vacinas que envolvem testes em animais?’’.
Seria incoerente se tivéssemos opções. A produção de medicamentos e vacinas sem testes em animais ainda não é uma realidade, diferente dos produtos de limpeza e cosméticos que não testam em animais e que tem muitas opções no mercado, e inclusive já tem até legislação em diversos países da Europa que proíbem essa prática.
Com base nesse contexto, o veganismo deve ser compreendido dentro do possível e do praticável, ou seja, o que está dentro das nossas possibilidades, sem ignorar a realidade.
Apesar de nos últimos anos ser possível observar uma redução relevante, infelizmente o uso de animais no meio científico ainda é muito comum. Diversos animais como cachorros, coelhos, porquinhos-da-índia são utilizados, seja para testes ou para a produção de vacinas e medicamentos.
Existe um nível de exploração animal no processo da vacina e dos medicamentos que não deve ser negligenciado. Não existem números exatos, mas estima-se que, por ano, 190 milhões de animais inocentes e capazes de sentir sejam criados para viver como cobaias em laboratórios, tendo seus olhos, pele e órgãos internos utilizados como meras ferramentas de experimentos, e no final do processo, são abatidos.
Devido ao avanço da conscientização em relação à causa animal, a utilização de animais tem diminuído no meio científico. Um exemplo é o Instituto Butantan que reduziu em cerca de 30% a utilização de ratos e camundongos em testes. Diversas alternativas estão sendo testadas e a sua popularização é uma questão de tempo.
Embora façamos o uso de medicamentos quando necessário e nos vacinamos por questões óbvias, nada muda em relação à nossa luta pelo fim da exploração animal. Além disso, continuaremos firmes e fortes nos opondo à utilização de animais no meio científico, para que um dia esses animais não sejam mais vistos como ferramentas, objetos ou mercadorias.
Acreditamos que a tecnologia no meio científico irá substituir por completo o uso de animais, mas enquanto isso não acontece, cabe a nós agir com responsabilidade, sabedoria e nos munir de boas informações.