Caso Marielle: acompanhe o julgamento de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz
Reús confessos do assassinato da vereadora e do motorista Anderson Gomes vão a júri popular no Rio de Janeiro
Acompanhe o julgamento ao vivo
Catarina Carvalho, repórter do Terra, fala sobre ato no Buraco do Lume que contou com a presença da família de Marielle Franco
Catarina Carvalho, repórter do Terra, esteve na manifestação organizada pelo Instituto Marielle Franco e apoiadores na noite desta quinta-feira, 31, e falou sobre como foi o ato, que contou com a participação da família da vereadora. pic.twitter.com/8eSqRNHb0V
— Terra (@Terra) October 31, 2024
Luyara Franco, filha de Marielle Franco, fala sobre como difícil "ver a frieza com que os réus estavam falando"
Luyara Franco, filha de Marielle Franco, fala sobre como difícil "ver a frieza com que os réus estavam falando, como se nossos corpos fossem descartáveis". pic.twitter.com/JNWbl6eVqZ
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"Ainda tem muita luta, ainda tem muita coisa pela frente. A gente sabe que [condenar] o mandante não vai ser fácil", declara Anielle Franco
"Ainda tem muita luta, ainda tem muita coisa pela frente. A gente sabe que [condenar] o mandante não vai ser fácil", diz Anielle Franco em manifestação no Buraco do Lume pic.twitter.com/bfnSARTHhN
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Luyara Franco, ao lado da estátua em homenagem a sua mãe, Marielle Franco
Anielle Franco em manifestação: "Tá pra nascer a pessoa que vai 'calar' isso aqui"
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, chegou acompanhada da família em manifestação realizada na noite desta quinta-feira, 31, no Buraco do Lume, no Centro do Rio de Janeiro. Em discurso, ela disse que estava com "saudades" da militância.
"[Estava com saudades] de olhar para todas as mães e pais que estão aqui. Assim como a gente se reconhece na vida, na história de vocês, a gente quer que vocês se reconheçam e que a gente sempre caminhe lado a lado. Tá pra nascer o dia que a pessoa vai 'calar' isso aqui".
Erika Hilton, Marcelo Freixo e outros: veja repercussão após condenação de Ronnie e Élcio no caso Marielle e Anderson
A condenação de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz nesta quinta-feira, 31, pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, repercutiu nas redes sociais de amigos, familiares e figuras públicas em geral.
Erika Hilton, Marcelo Freixo, Duda Salabert, José Guimarães, entre outros, utilizaram seus perfis no X (antigo Twitter) para falar sobre o resultado da sentença após 6 anos e 7 meses da morte da vereadora e do motorista. Além disso, a viúva de Marielle Franco, Mônica Benício, também usou a rede para afirmar que "nenhuma condenação é restauradora da ausência". [LEIA MAIS]
Família de Marielle Franco chega ao ato realizado no Buraco do Lume, no Centro do Rio de Janeiro, na noite desta quinta-feira (31)
Família de Marielle Franco chega ao ato realizado no Buraco do Lume, no Centro do Rio de Janeiro, na noite desta quinta-feira (31) pic.twitter.com/QvxYAYsdcb
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"Talvez Justiça fosse Anderson e Marielle presentes", diz juíza ao ler sentença para Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz
A juíza Lúcia Glioche, responsável pelo julgamento dos assassinos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, chamou atenção para o sofrimento que os homicídios provocaram nos familiares das vítimas ao proferir a sentença, na noite desta quinta-feira, 31, no 4º tribunal do júri do Rio de Janeiro.
"A sentença que será lida, agora, talvez não traga aquilo que se espera da Justiça. Talvez Justiça fosse que o hoje o dia jamais tivesse ocorrido, talvez Justiça fosse Anderson e Marielle presentes. Como se a justiça tivesse o condão de trazer o morto de volta", iniciou a magistrada. [LEIA MAIS]
Familiares de Marielle e Anderson Gomes se emocionam após condenação de assassinos
A leitura da sentença contra Ronnie Lessa e Élcio Queiroz pelas mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes marcou o encerramento de um julgamento intenso, carregado de fortes emoções, nesta quinta-feira, 31. A família de Marielle estava na primeira fila do plenário, com o pai, a mãe, a irmã Anielle, e sua filha, Luiara, acompanhados de figuras próximas como Marcelo Freixo e Mônica Benício, além da esposa de Anderson, Ágatha Arnaus. O momento da sentença foi marcado por lágrimas, abraços e consolo, especialmente entre Ágatha e Mônica, que não conseguiu conter a emoção ao ouvir a decisão que condenou Lessa e Élcio. [LEIA MAIS]
Marcelo Freixo, ex-parlamentar e amigo de Marielle, fala que condenação é "histórica"
Marcelo Freixo, ex-parlamentar, amigo de Marielle Franco e atual presidente da Embratur, afirmou que a condenação de Ronnie e Élcio é "histórica". Em depoimento na quinta-feira, Ronnie Lessa chegou a contar que recebeu uma oferta pra matar Freixo, antes do assassinato de Marielle.
Essa é uma condenação HISTÓRICA.
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Demorou muito. Foram 6 anos de espera e de muita batalha contra a sabotagem para tentar encobrir esse cr1me brutal.
Finalmente a Justiça por Marielle e Anderson começou a ser feita.
Quero mais uma vez me solidarizar com a família da Mari,… pic.twitter.com/kzhqNg5iTP
Manifestantes se reúnem no Buraco do Lume, no Centro do Rio de Janeiro, após condenação de Ronnie e Élcio
Manifestantes estão reunidos no Buraco do Lume, no Centro do Rio de Janeiro, após a condenação de Ronnie e Élcio pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. A sentença foi proferida no fim da tarde desta quinta-feira, 31, após mais de 18 horas de julgamento.
Manifestantes se reúnem no Buraco do Lume, no Centro do Rio de Janeiro, após a condenação de Ronnie e Élcio pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes pic.twitter.com/l6JXCdaOEY
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"Choro não é sincero", afirma pai de Marielle
O pai de Marielle Franco, Antônio da Silva, falou brevemente com a imprensa após a condenação de Ronnie e Élcio no fim da tarde desta quinta-feira. Emocionado ao lado da família, ele disse: "Aquele choro que eles exibem em suas oitivas [os condenados] não é um choro sincero. Nós podemos até dar o perdão pra eles, mas eles não estão arrependidos. A Marielle não vai voltar, o Anderson não vai voltar, mas esse vazio nós vamos ter eternamente nas nossas vidas enquanto estivermos vivos".
Ágatha Arnaus: "A morte deles foi encomendada com dinheiro nosso"
A viúva de Anderson Gomes, Ágatha Arnaus, disse em coletiva de imprensa após a condenação dos réus confessos pelo assassinato de seu marido e de Marielle, que a morte deles "foi encomendada com dinheiro nosso", ao se referir às acusações contra o deputado federal Chiquinho Brazão e ao policial civil Rivaldo Barbosa, suspeitos de terem sido os mandantes do crime.
"Eu ouvi o pedido de perdão de alguém que claramente não apresenta qualquer arrependimento. E ainda diz qu eé pra aliviar a consciência. Quem tem que perdoar é Deus ou qualquer coisa no que ele acredite. Eu não perdoo nunca. Eu tenho paz na minha vida, mas não preciso perdoar", desabafou.
"Que eles eram assassinos a gente já sabia. Agora, a gente também tem ex-parlamentar e um ex-chefe de polícia que têm que ser responsabilizados também. E muito mais do que eles [Ronnie e Élcio], porque eles sim estavam gastando dinheiro [público] com isso, ao invés de estarem olhando para a população. É um absurdo, é dinheiro nosso, a morte deles foi encomendada com dinheiro nosso", completou.
"Quando assassinaram minha irmã com 4 tiros na cabeça, não imaginavam a força que esse País levantaria", diz Anielle Franco
Em coletiva de imprensa após a condenação de Ronnie e Élcio no fim da tarde desta quinta-feira, a irmã de Marielle Franco e ministra da Igualdade, Anielle Franco, afirmou: "A gente sempre falou desde o começo que a gente não ia desistir, que a gente não ia parar, minimamente quando a justiça começasse a ser feita. Foram muitas noites cuidando dos meus pais, da Luyara [filha de Marielle], e vendo a dor".
"Como minha mãe disse ontem, [a dor] não tem nome. Eu falei e repito: o maior legado da Marielle, que ela deixa para esse País, é a prova de que mulheres, pessoas negras, favelas, quando chegam em seus postos, merecem permanecer vivas. Quando assassinaram minha irmã com quatro tiros na cabeça, eles não imaginavam a força que esse País, que o mundo, levantaria", continuou.
"Hoje foi o pedaço de uma resposta, a justiça começou a ser feita e eu repito, mais uma vez, justiça mesmo teria sido se a gente não estivesse aqui. Nós estávamos bem, nas nossas vidas simples e humildes, mas trabalhadoras. A gente sai daqui com a certeza de que a gente cumpriu nosso papel. É um grito guardado na nossa garganta, uma dor que tava guardada no peito de cada pessoa que está aqui na frente de vocês", finalizou.
Luyara Franco, Anielle Franco e Antônio da Silva se emocionam após sentença
Júri popular foi formado por 7 homens brancos
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro selecionou 21 civis para integrar o júri popular do julgamento do caso Marielle e Anderson. Destes, foram sorteados 5 homens e 2 mulheres. No entanto, partindo da prerrogativa de que é possível dispensar até 3 membros do júri sem critério, as mulheres foram substituídas a pedido da defesa de Lessa. Um novo sorteio foi realizado, fazendo com que o júri fosse composto por 7 homens brancos. Segundo a defesa de Ronnie Lessa, a presença de juradas mulheres poderia condenar os réus de maneira imparcial.
Familiares e amigos de Marielle e Anderson se emocionaram após o resultado da sentença
Ronnie foi condenado a 78 anos e 9 meses e Élcio a 59 anos e 8 meses
"A justiça por vezes é lenta, é cega, é burra, é torta, mas ela chega", diz juíza
A juíza Lúcia Glioche, do julgamento do caso Marielle Franco e Anderson Gomes, leu a sentença da condenação de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz no fim da tarde desta quinta-feira, 31, por volta das 18h20.
"A justiça por vezes é lenta, é cega, é burra, é torta, mas ela chega. Ela chega mesmo para aqueles, que como os acusados [Ronnie e Élcio], acham que jamais serão atingidos pela justiça. A justiça chega aos culpados e tira deles deles o bem mais importante, depois da vida, que é a liberdade. A justiça chegou para os senhores, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz", decretou.
Ronnie Lessa é condenado a 78 anos e 9 meses e Élcio Queiroz a 59 anos e 8 meses pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes
Após seis anos e meio das execuções de Marielle Franco e Anderson Gomes, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram julgados. Lessa, que atirou contra a vereadora e seu motorista, foi condenado a 78 anos de prisão, 9 meses de reclusão e 30 dias de multa. Já Queiroz, que dirigiu o veículo no dia do crime, foi condenado a 59 anos de prisão, 8 meses de reclusão e 10 dias de multa. Eles foram condenados por todos os crimes dos quais foram acusados.
Além disso, os dois foram condenados a pagar uma pensão mensal para o filho de Anderson Gomes, Arthur, de 7 anos, até ele completar 24 anos. Eles também deverão pagar, juntos, R$ 706.000 de indenização por dano moral a cada uma das vítimas: Arthur, Ágatha [viúva de Anderson], Luyara [filha de Marielle], Mônica [viúva de Marielle] e Marinete [mãe de Marielle]. A prisão preventiva de ambos foi mantida e eles arcarão com as custas do processo, sem o direito de recorrer a liberdade.
A sessão, promovida no 4º Tribunal do Júri da Justiça do Rio de Janeiro, começou às 10h30 da quarta-feira, 30, e seguiu até 23h50. A ideia era que o julgamento fosse finalizado no mesmo dia, mas, após cerca de 13 horas de duração, a sessão foi suspensa e retomada nesta manhã.
No total, foram mais de 18 horas de julgamento. Lessa e Queiroz foram presos em 2019, um ano após o crime, e participaram do julgamento por videoconferência da cadeia onde estão presos. Lessa está no Complexo Penitenciário de Tremembé, no interior de São Paulo, e Queiroz, no Complexo da Papuda, em Brasília.
Como foi o julgamento?
Na manhã de quarta-feira, dezenas de pessoas começaram a se reunir em frente ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro com lenços amarelos, cartazes e girassóis, símbolo da campanha de Marielle para vereadora do Rio de Janeiro durante a eleição municipal de 2016.
"Marielle, justiça", "Anderson, justiça", e "Seremos resistência", gritaram os participantes durante o ato. Eles também questionaram: "Quantos mais têm que morrer para essa guerra acabar?".
O protesto continuou até a viúva de Anderson, Agata Arnaus, os pais e a filha de Marielle, e sua irmã, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, entrarem no tribunal.
O julgamento começou com o depoimento das testemunhas de acusação. A principal foi Fernanda Chaves, então assessora da parlamentar, que estava no carro no momento do assassinato. Ela foi a única sobrevivente do atentado.
Durante o depoimento, Fernanda contou em detalhes como foi o momento do ataque e o que fez para se proteger.
“A Marielle estava imóvel. Senti o braço dela por cima de mim, o peso do corpo dela sobre mim. Eu estava sem cinto, por isso consegui me abaixar atrás do banco. Eu percebi que o carro estava em movimento, eu via um pouco de luz entrando pelas janelas, que estavam estouradas, e então fiz o carro parar", relembrou.
Além dela, falaram, na ordem:
• Marinete da Silva, mãe de Marielle
• Monica Benício, viúva de Marielle
• Ágatha Arnaus Reis, viúva de Anderson
• Carlos Alberto Paúra Júnior, agente da Polícia Civil do Rio
• Luismar Cortelettili, agente da Polícia Civil do Rio
• Também estava cotada para depor a perita criminal Carolina Rodrigues Linhares, mas ela não compareceu ao júri popular. Por isso, foi exibido um vídeo com a oitiva da testemunha durante a fase de investigação inicial do caso.
Por parte da defesa, testemunharam pela parte de Ronnie Lessa o agente federal Marcelo Pasqualetti e o delegado da Polícia Civil Guilhermo Catramby. A defesa de Queiroz desistiu dos depoimentos das testemunhas que havia requerido anteriormente.
Depois disso, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz foram interrogados separadamente. Eles assumiram, mais uma vez, o envolvimento nos assassinatos.
O interrogatório de Lessa durou cerca de duas horas. Ele chegou a pedir desculpas às famílias de Marielle, de Anderson e à sua própria pelas execuções. Queiroz foi ouvido durante outras duas horas e chegou a dizer que entrou no “trabalho” (o assassinato de Marielle) apenas no dia do crime.
O julgamento foi suspenso no fim da noite de quarta-feira e retomado na manhã desta quinta, por volta das 9h30. A sessão começou com a fala da promotora Audrey Castro que afirmou que "não iria se acovardar" quando foi chamada para estar à frente do caso. Em 2021, outras promotoras deixaram a investigação caso.
Em seguida, ela passou a palavra para o promotor Fábio Vieira, que por sua vez disse que crime foi motivado por 'ideologia'.
"Esse processo mostra, a gente vê o que é a potência dessa mulher. Ela não é essa beleza, essa potência, porque escolheu a esquerda. Porque se ela tivesse escolhido a direita, ela também seria uma beleza. É uma mulher que acredita. [...] Independente da ideologia, eu tenho que fazer o certo. É isso é que é Marielle, o Anderson e a Fernanda fizeram. Foram pessoas que escolheram fazer o certo", em uma tentativa de desassociar a parlamentar da esquerda.
Depois, ele questionou arrependimento de Queiroz e Lessa, durante o interrogatório que ocorreu na quarta. “Que arrependimento é esse que se pede algo em troca? Os senhores já pediram arrependimento para alguém, falando, 'eu quero o seu perdão se me der algo em troca?', porque é isso que eles fizeram. Eles são réus colaboradores. Foi isso que vieram fazer”, declarou.
Vieira ressaltou que, até fechar a delação premiada, ambos diziam que não conheciam Marielle e Anderson ou até que não estavam no carro usado para a prática do crime no dia dos fatos.
O Ministério Público também abriu as pesquisas feitas pelo ex-policial antes do assassinato. Os documentos dão que ele buscou rastreador de veículos, 'acessórios' para uma submetralhadora HK MP5, a mesma usada no crime, como silenciador e adaptador. O ex-PM ainda buscou como 'desincronizar a conta de e-mail' de seu navegador para tentar apagar rastro da pesquisa.
O relatório do MP também aponta que entre os dias 17 e abril de 2017 e 20 de fevereiro de 2018, Lessa utilizou o Google para fazer diversas pesquisas relacionadas ao então deputado Marcelo Freixo (PSOL), o partido dele e sua ex-esposa. A partir de 20 de fevereiro daquele ano, a busca foi feita por familiares e também pela identificação da filha do parlamentar.
No dia de dia prisão, conforme Vieira, em 12 de março de 2019, Lessa tinha R$ 60 em espécie no carro, além de passaporte e contador de notas.
Além dos promotores, também tiveram uma hora para dar suas considerações os defensores públicos, que estavam como assistente de acusação, Daniele Silva e Fábio Amado.
“Mexeu com as estruturas”, disse Daniele ao afirmar que Marielle foi morta violentamente com quatro tiros na cabeça. Ela ainda ressaltou o medo que toda mãe negra tem do filho sofrer alguma violência. "É isso que toda mãe preta faz quando sai para trabalhar, de madrugada, ela beija o testa do filho, como se estivesse benzendo o seu corpo. Marinete não vai ter mais ninguém para benzer o corpo". E encerrou sua fala com "Marielle presente, hoje e sempre".
Apesar das provas apresentadas pelo Ministério Pública, pedindo a pena máxima aos réus, a defesa dos dois tentou reverter. Enquanto o advogado de Lessa, Saulo Carvalho, declarou que a Polícia só chegou aos mandantes do assassinato "graças" a delação premiada de Lessa, senão “nunca triam chegado", a defensora de Queiroz, Ana Paula de Araújo Fonseca Cordeiro, imputou ao atirador a maior responsabilidade, pois seu cliente não teria planejado o assassinato.
"A defesa reconhece a gravidade dos crimes que o Élcio praticou, mas o que a gente busca é que ele seja responsabilizado de acordo com a sua culpabilidade. A divergência da acusação e da defesa não é contra os fatos, mas da imputação aos fatos", disse a advogada.
Ana Paula alegou que Élcio enfrentou dificuldades financeiras após ser expulso da polícia, mas que “era um trabalhador normal” e valorizava sua família.
Relembre as mortes
A vereadora Marielle Franco e o motorista dela, Anderson Gomes, foram mortos a tiros em uma noite de quarta-feira, em 14 de março de 2018, no centro do Rio de Janeiro.
Marielle tinha saído de uma reunião com mulheres negras na Lapa e voltava de carro para a sua casa, no bairro da Tijuca, na zona norte da cidade. Além dela e do motorista, também estava no veículo a assessora parlamentar da vereadora, Fernanda Chaves.
Nas imediações da Praça da Bandeira, na Rua Joaquim Palhares, um Chevrolet Cobalt prata emparelhou à direita do veículo onde estava Marielle. Em delação e também no julgamento, o ex-policial militar Ronnie Lessa confessou que disparou contra Marielle. O carro prata era dirigido pelo ex-PM Élcio Queiroz, que também assumiu que teve participação no atentado.
A vereadora foi atingida por três tiros na cabeça e um no pescoço; Gomes foi alvejado três vezes nas costas. Os dois morreram no local. A assessora de Marielle foi ferida por estilhaços.
Investigações
Lessa e Queiroz foram presos um ano após o crime, em março de 2019, pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, apontados como autores dos disparos e motorista do carro usado no crime, respectivamente.
Nos anos seguintes, pouco se avançou em direção à motivação e aos possíveis mandantes do duplo homicídio. Por conta disso, em fevereiro de 2023, o Ministério da Justiça e Segurança Pública determinou a abertura de um inquérito da Polícia Federal para investigar o assassinato de Marielle e de Anderson Gomes.
Em março deste ano, Lessa fez um acordo de delação premiada, que resultou nas prisões do deputado federal Chiquinho Brazão e do conselheiro do Tribunal de Contas do Rio Domingos Brazão, suspeitos de serem os mandantes, e do delegado Rivaldo Barbosa, que chefiou a Polícia Civil do Rio e teria atuado para proteger os irmãos. As defesas negam envolvimento deles no crime.
Segundo a investigação da PF, há evidências de obstrução criminal às investigações, originadas dentro da própria Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro. O inquérito aponta que a investigação foi sabotada desde o começo, “mediante ajuste prévio dos autores intelectuais com o então responsável pela apuração de todos os homicídios ocorridos no Rio de Janeiro”, o delegado e ex-chefe de Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa.
Ronnie Lessa é condenado a 78 anos e 9 meses e Élcio Queiroz a 59 anos e 8 meses pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes
Após seis anos e meio das execuções de Marielle Franco e Anderson Gomes, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram julgados.