Eurico acusa Pelé de vender jogadores

Eurico Miranda concedeu entrevista a Lilian Witte Fibe no Portal Terra (AE)

Quarta, 25 de outubro de 2000, 22h48min
O deputado Eurico Miranda (PPB-RJ), vice-presidente da CPI da Nike, deseja que Pelé seja um dos investigados pela Comissão Parlamentar. E com muito rigor. "É um escândalo que um Ministro de Esportes participe da compra e venda de jogadores de futebol. E também de promoção de eventos. Pelé fez isso e deve ser investigado, sem dúvida alguma. Eu até dou uma dica a vocês, repórteres. Vão atrás da venda de Giovanni para o Barcelona. Investiguem isso", sugeriu Eurico, após a estréia do Programa da Lilian, dirigido por Lilian Witte Fibe, no Portal Terra.

Eurico participou do programa com Aldo Rebelo (PCdoB-SP), presidente da CPI da Câmara. Ao contrário de seu estilo, o dirigente do Vasco estava calmo e polido, não abdicando, porém, da ironia que sempre o acompanha.

Aldo Rebelo também foi muito discreto. "Vim até esse programa em consideração à Lilian. Não estou aqui para bater boca com Eurico, o que isso vai acrescentar à minha vida?", questionou o deputado. "O importante é que ele e outros não queriam que a CPI fosse instalada. Disse que eu nunca conseguiria cem assinaturas e tivemos 237. É uma vitória nossa e vamos investigar tudo."

Aí é que entra a discussão maior. No "tudo", Eurico não admite que se incluam os clubes de futebol. "Clubes são uma entidade sem fins lucrativos. Não tem o que investigar. A CPI deve ser bem focada, investigar o essencial para não se transformar em vitrine. Vamos investigar por que a seleção olímpica ficou em um hotel cinco estrelas em Sydney e deu vexame. Agora, discutir porque o Zagallo escalou ou não escalou o Ronaldinho na final da Copa não é da nossa conta", explicou o dirigente vascaíno.

Eurico diz que o clube de futebol é uma religião no País e por isso não pode ser contestada. "Troca-se de mulher e de partido político, mas de clube não. Isso é muito importante, não pode ser alvo de demagogia". Para o deputado carioca, a investigação sobre venda de jogadores para a Europa, por exemplo, deve se restringir ao intermediário da venda. "A comissão dele deve ser investigada, não se pode sonegar imposto de renda. Agora, clube de futebol não paga imposto, não tem sentido discutir-se se entrou muito ou pouco dinheiro. É fora de propósito."

A grande maioria de perguntas dos internautas era dirigida a Eurico e não a Aldo Rebelo. Muitas delas eram referentes à um assalto que o dirigente sofreu há alguns anos, após um jogo do Vasco. Ele estava com a renda do jogo e o dinheiro nunca foi achado. "Esses flamenguistas ficam falando de assalto. Dei queixa e agora, a Polícia é que tem que saber do dinheiro, não eu. Fui vítima."

A boa educação de Eurico acabou junto com o programa. Assim que terminou, ele soltou então uma de suas pérolas. "Não é uma rima, mas é verdade. A CPI do Futebol tem muito de sexual. Tem muito invertido enrustido querendo aparecer".

Para Aldo Rebelo, Eurico comete um erro ao dizer que o clube de futebol é a grande paixão do brasileiro. Para ele, a paixão é o futebol e por isso não se pode deixar de investigar todos os aspectos que o rodeiam, inclusive os clubes. "Quem escuta o Eurico falando, parece que clube de futebol é Santa Casa de Misericórdia, parece que é algo que não pode sofrer suspeita. Vamos atrás de tudo o que for possível", garante o deputado.

Se Eurico criticou Pelé, Aldo não poupou Tostão, que disse haver coisas mais importantes a serem discutidas do que o futebol. "Acho essa declaração muito elitista. Futebol é tão importante que o Tostão deixou a Medicina para escrever sobre futebol. Pode não ser importante para a classe média, que tem um clube para tratar do seu lazer. Para o pobre, não. Futebol é tão importante quanto as mazelas nacionais e merece respeito. Não podemos ter esse olhar preconceituoso sobre a religião do povo."

Outro assunto que preocupa Aldo é o caso de jogadores com passaportes falsos. "Para mim, existe uma Máfia internacional. Vamos pedir ajuda à Interpol para tratar do assunto. E, se o jogador não tiver 18 anos, pode ser caracterizado como tráfico de menores."

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Agência Estado

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