O presidente da CPI do Futebol, senador Álvaro Dias (PSDB-PR) saiu hoje do depoimento do empresário J. Hawilla convencido de que a ligação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) com a empresa Traffic, de marketing esportivo, superou "uma situação ideal".Dias questionou o fato da entidade ter atrelado à empresa grande parte dos direitos da seleção brasileira, sem ter em troca uma remuneração que considere justa. "As transações são benéficas para a Traffic, mas péssimas para o futebol brasileiro", alegou. Ele disse que vai cobrar esclarecimentos do presidente da entidade, Ricardo Teixeira, que vai depor na comissão na próxima quarta-feira. "A Traffic é parte dos contratos e não apenas a intermediária da CBF", protestou.
O empresário J. Hawilla considerou os contratos que intermediou "excelentes". Ele disse que só começou a trabalhar com a confederação na gestão de Ricardo Teixeira porque antes a direção da entidade era "muito conservadora". "Ele chegou com o propósito de querer profissionalizar o futebol", alegou.
O relator da comissão, senador Geraldo Althoff (PFL-SC), considerou "preocupante" esse tipo de relacionamento. Segundo ele, a impressão deixada pelo depoimento do empresário é que a CBF, hoje, serve unicamente para cadastrar os jogadores de futebol, uma vez que as demais atividades foram terceirizadas pela Traffic. Um desses contratos, que dá a Traffic os direitos dos jogos da seleção brasileira, fora do País, nas próximas duas eliminatórias, se estende até 2010. "A CBF ficou com pouca funções", constatou. Althoff informou que o empresário será chamado a depor novamente, quando a CPI estiver com os documentos que espera receber do Banco Central e da Receita Federal.
J. Hawilla mostrou que possui uma ligação muito estreita com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Ele fez questão de dizer que conversa todos os dias com Teixeira, por telefone. "Ligo muito", afirmou. "Converso todos os dias com ele". A CPI vai quebrar o sigilo dos telefones utilizados por eles, de 1989 até este ano, a pedido do senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT). O empresário não quis informar o valor de seu patrimônio à CPI. Ele atribuiu o prejuízo que a Traffic declarou à Receita Federal no ano passado, de R$18 milhões, ao fato de ter investido para assumir a programação esportiva da tevê Bandeirantes. Segundo ele, a empresa sofreu quatro autuações da Receita Federal "de evidente engano" e agora está se defendendo.
"Fizemos um investimento de R$26,64 milhões, mas o lucro foi de R$8 milhões, daí o prejuízo" afirmou. Mas não soube explicar porque a Traffic, também no ano passado, fez um empréstimo de US$3,6 milhões para sua coligada T&T, localizada no paraíso fiscal das ilhas Cayman. "Pode ser a necessidade de caixa por um período curto", alegou.
Hawilla ficou de mandar explicações para o fato de a empresa ter feito um empréstimo externo no valor de US$3,6 milhões, quando poderia ter se socorrido nos R$20 milhões que a empresa mantinha como aplicações financeiras. Ele disse ter recebido R$81,25 milhões na venda de 49% das ações da Traffic ao fundo de pensão norte-americano Hicks Muse Tate & furst (HMTF). O empresário atribuiu a essa negociação o fato de ter pago, como pessoa física, R$12, 38 milhões ao imposto de renda, no ano passado. Ele se propôs a abrir espontaneamente suas contas bancárias e fiscal. A CPI vai aceitar a oferta.
Um dos momentos mais constrangedores do depoimento do empresário ficou por conta da denúncia de que ele teria intermediado a venda de ingressos dos jogos do Brasil para empresa não credenciadas pela Fifa.
De acordo com Rogério Vianna, dono de uma agência de viagem, Hawilla teria se comprometido a intermediar junto à CBF a cota de 2 mil ingressos para cada fase da copa da França. Receberia em troca 10 pacotes aéreos e terrestres, que seriam usados por seus convidados. A pedido de Althoff, Vianna será convidado a depor para explicar o que realmente aconteceu, já que nem mesmo o depoente quis se defender dessa acusação.
Saiba mais no especial:
O futebol no Congresso