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A influência dos filtros de redes sociais e chamadas de vídeo na busca por procedimentos estéticos

Uma pesquisa realizada pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética e Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, em 2021, revela que mais de 1,4 milhão de procedimentos foram realizados no Brasil

11 jul 2022 - 06h11
(atualizado às 11h14)
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Quantas vezes já usamos filtros que mudam a aparência para aparecer em vídeos nas redes sociais, como Instagram? Diversas, não é mesmo? Com a desculpa de "acordei com olheiras" ou "não estou em um dia bom" algumas pessoas até se tornam dependentes de filtros que alteram a aparência.

A fisioterapeuta Karina Rissi, que tem 37 anos, fez botox no início de 2022 e revela que a motivação para realizar o procedimento veio pelas fotos que tirava e as chamadas de vídeo que precisava realizar em seu trabalho.

"Você vai falando e cria muita linha de expressão, muita ruga e isso estava me incomodando. Dava um aspecto de cansaço na imagem e eu nem estava cansada. Nem a maquiagem adiantava porque eu gostava de algo leve e precisaria pesar mais", diz a fisioterapeuta.

Por ser muito vaidosa e se observar nas chamadas de vídeo, Karina Rissi fala que além desses motivos o trabalho também estava atrelado a isso. Por mais que ela seja fisioterapeuta, a sua especialidade é em estética e, segundo ela, a aparência é seu "cartão de visita".

"Eu vendo a minha imagem e meu paciente pode me usar como referência. A partir disso não consigo me observar. Me vendo na imagem, me gerou muito desconforto. Além disso, o fator de que o tempo vai passando, o espelho grita e a lei da gravidade atua para todos", fala.

A psicóloga Ana Gabriela Andriani acredita que as pessoas começaram a utilizar mais vídeos durante a pandemia e que isso acaba resultando na busca por procedimentos estéticos.

"As pessoas se depararam com a própria imagem, talvez antes não ficavam o tempo inteiro olhando para a própria imagem. Ao se observar, muitas vezes as pessoas passam a ver o que elas consideram pequenos defeitos e considerar os procedimentos estéticos", fala.

Um estudo realizado pela Academia Americana de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva Facial revelou que o número de procedimentos estéticos aumentou e isso "graças" ao Efeito Zoom, onde 79% dos entrevistados relataram que os pacientes buscam os procedimentos para melhorar a aparência nas chamadas de vídeo.

Já a pesquisa realizada pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps) e pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, em 2021, divulgou que só no Brasil foram mais de 1,4 milhão de procedimentos realizados. Em seguida, estão Estados Unidos e México.

"É crescente o número de cirurgias plásticas e principalmente crescente o número desses procedimentos estéticos no rosto", explica Dr. Wendell Uguetto, cirurgião plástico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e do Hospital Albert Einstein.

O impacto do Efeito Zoom na saúde mental

Além do botox, que precisa de manutenção, a fisioterapeuta revela que pensa em realizar outros procedimentos, como rinoplastia, lipo e mastopexia.

Já sobre o uso de filtros no Instagram, a Karina fala que gosta de usar efeitos que melhoram a aparência. Além disso, ela ainda fala que as redes sociais, de alguma forma, a influenciaram em buscar o procedimento.

"Gosto do efeito que os filtros criam. E quando vejo pessoas que buscam por procedimentos e melhoraram a aparência, de alguma forma, acabava instigando", fala.

O Dr. Wandemberg, médico-cirurgião e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), explica que a redes sociais pode sim estimular a busca por procedimentos estéticos e que é possível associar com a pandemia, que foi o período que as pessoas ficaram em casa e precisaram participar de muitas reuniões online.

"A rede social pode estimular isso [busca por procedimentos] através de modelos de pessoas, por exemplo, influenciadores que têm altos números de seguidores e é sinônimo de sucesso. E, na maioria das vezes, sucesso é se apresentar bem. Associamos também ao fato da pandemia, quando as pessoas precisaram fazer mais reuniões online e, consequentemente, ficaram mais tempo se auto examinando", diz.

A psicóloga Ana Gabriela Andriani explica que há causas tanto emocionais como sociais para esse aumento na busca por procedimentos estéticos.

"Vivemos em um tempo em que há uma supervalorização da imagem e do corpo, há uma preocupação intensa em ter o corpo perfeito e uma comparação intensa com o outro. Nas redes sociais, sempre temos corpos perfeitos, momentos felizes, e as redes supervalorizam essas coisas. Isso causa uma falsa sensação de que o problema está com a gente", fala.

A psicóloga também explica que existe um perigo em lidar com o próprio corpo dessa forma, sem aceitar falhas e faltas. "A gente chama de dismorfia corporal, onde a pessoa passa a ter uma visão distorcida dela mesma e essa pessoa se sente extremamente frustrada, e com vergonha do próprio corpo a pessoa passa a se isolar", conta.

Ana Gabriela fala que o grande desafio está em cada pessoa e que é importante aceitar as "impotências, falhas e imperfeições do nosso corpo" para conviver bem. "O corpo faz parte do que somos, e ao mesmo tempo que é familiar, ele é estranho também. Quando a gente olha para o que a gente não gosta, para as falhas, a gente se relaciona com certa estranheza", diz.

"O grande desafio é esse: integrar as imperfeições ao nosso psiquismo. No caso de realizar um procedimento estético é importante que a pessoa tenha bastante consciência do que está fazendo e do motivo, para depois não ficar frustrada achando que a felicidade está garantida após o procedimento e notando que, na verdade, não é bem assim", conclui.

Estadão
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