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A jovem que construiu a própria a casa e é a única brasileira a dar dicas de reforma no YouTube

Com mais de meio milhão de seguidores, Paloma Santos diz ter aprendido a lidar com o preconceito por ser mulher em um ramo dominado por homens e, hoje, se mantém, paga a faculdade e ajuda a família com o que ganha graças ao seu canal.

23 mar 2019 - 11h45
(atualizado às 18h16)
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Paloma Cipriano começou no YouTube com a intenção de falar sobre moda e, hoje, tem meio milhão de seguidores em perfil sobre construção
Paloma Cipriano começou no YouTube com a intenção de falar sobre moda e, hoje, tem meio milhão de seguidores em perfil sobre construção
Foto: Arquivo Pessoal / BBC News Brasil

Paloma Cristina Pereira Santos sonhava com a fama no YouTube ao falar de moda, viagens e maquiagem. Só havia um problema: a moradora de Sete Lagoas, no interior de Minas Gerais, nunca tinha saído do Estado nem sabia fazer maquiagem.

Quem trouxe a solução foi sua mãe, Ivone. "Ela sugeriu que eu me filmasse colocando piso e colocasse no canal. Não achei a ideia sensacional, mas gravei e postei."

Passados quatro anos, ela acumula mais de meio milhão de seguidores no canal Paloma Cipriano. Agora, fala principalmente de um assunto que conhece bem, a construção civil, embora também se aventure em outros assuntos, como limpeza e organização.

No vídeo de maior sucesso, com 7,5 milhões de visualizações, ela ensina a rebocar uma parede. Em outros, mostra como instalar pisos, trocar torneiras, construir pilares de concreto e até erguer paredes.

Única youtuber mulher a ensinar construção no Brasil, Paloma, de 25 anos, conquista os espectadores com sua linguagem simples, mesmo quando o assunto é complicado. "Mostro que, se eu consigo, todos conseguem."

'Eu sou a pedreira, minha mãe, a servente'

Paloma e sua mãe foram as responsáveis pela ampliação da casa onde moram, construída originalmente com apenas dois cômodos
Paloma e sua mãe foram as responsáveis pela ampliação da casa onde moram, construída originalmente com apenas dois cômodos
Foto: Arquivo Pessoal / BBC News Brasil

Paloma e sua mãe foram as responsáveis pela ampliação da casa onde moram há 25 anos, que tinha originalmente apenas dois cômodos. Hoje, são quatro quartos, dois banheiros, cozinha, sala, varanda e quintal - e, em todos estes ambientes, a youtuber já fez alguma obra.

Ela aprendeu a fazer as reformas com os amigos da mãe, que ajudaram a ampliar o imóvel quando o dinheiro da família para as reformas acabou. Logo, descobriu que gostava de fazer isso e, mais, que tinha talento.

Com o passar dos anos, Paloma e Ivone se tornaram as únicas "mestres de obras" da casa. Embora a mãe não se aventure tanto nisso quanto a filha, ela ajuda nos acabamentos. "A gente fala que sou a pedreira, e minha mãe, a servente."

A experiência levou a jovem a estudar engenharia civil em 2013, mas ela largou o curso no primeiro semestre para se dedicar ao YouTube, quando o projeto ainda era sobre outros temas. Hoje, é uma especialista no tema.

Ela estima ter economizado quase R$ 25 mil fazendo a construção e a reforma da sua casa por conta própria. "Com certeza, não teria condições de pagar por todas as coisas que fiz."

Youtuber aprendeu a lidar com comentários machistas

Paloma diz que há muita pesquisa por trás de cada vídeo. "Preciso passar massa corrida na parede? Procuro na internet, aprendo, tento e faço."

Sem uma figura paterna em casa, ela diz que a inspiração de entrar em um ramo tão dominado por homens veio da mãe. "Ela faz de tudo. Quando a gente era criança, levantava às 5h pra capinar lote. É essa força de vontade de ir lá e fazer que me incentiva."

As duas irmãs de Paloma não se envolvem nas reformas, mas a youtuber tem a ajuda do irmão com o canal. Paulo, de 13 anos, colabora com a produção dos vídeos. "Ele não coloca a mão na massa, mas estou ensinando", garante.

Muitos seguidores do canal, no entanto, estranham o fato de Paloma, e não Paulo, ser a responsável pelas reformas em casa. "Antigamente, ficava chateada com pessoas comentando que não era eu quem fazia as coisas, que era algum homem", relembra.

Ela conta que não raro recebe comentários preconceituosos, principalmente de homens que trabalham na construção civil.

"Por exemplo, ensino a fazer algo de tal forma. Vem um homem que acha que deve fazer de um jeito diferente e diz que estou errada. Mas, no fim, eu fiz certo. O ponto é que alguns sentem a necessidade de apontar erros mesmo quando eles não existem."

A princípio, os comentários em seus vídeos no YouTube a entristeciam. Mas ela aprendeu a relevar. "Apago os comentários machistas, mas, em geral, são tão ridículos que os outros seguidores nem dão ibope", diz. Há, entretanto, alguns que ainda a incomodam: "Aqueles que me sexualizam".

Por enquanto, o público de seu canal é majoritariamente masculino: cerca de 60% dos espectadores são homens. Mas Paloma diz que o número de mulheres tem aumentado.

As seguidoras costumam fazem elogios. "Parabéns pelo trabalho, através dos seus vídeos, terminei minha casa sem ajuda de pedreiro", disse uma delas. "Vou fazer. Tô cansada de esperar pelo meu marido", escreveu outra.

Um destes relatos foi marcante. Uma mulher de pouco mais de 40 anos colocou piso na casa toda vendo seus vídeos. "Eu me lembrei da minha casa sem piso e com piso. Quem nunca passou por isso não faz ideia da diferença que faz."

A tendência do 'faça você mesmo'

A mineira é a única brasileira a ensinar a como construir no YouTube
A mineira é a única brasileira a ensinar a como construir no YouTube
Foto: Arquivo Pessoal / BBC News Brasil

Muitas empresas já vêm apostando no nicho de ensinar a construir por meio de vídeos no YouTube. No Brasil, alguns homens têm se aventurado nesse mercado. E, mesmo sendo a única mulher, Paloma é quem tem mais seguidores.

Nos Estados Unidos, o filão já é mais desenvolvido. Ainda assim, a maioria dos canais estilo "faça você mesmo" (do it yourself, na expressão em inglês, ou DIY) são apresentados por homens.

Paloma tem uma estratégia para continuar crescendo. Aposta no desconhecimento das mulheres de sua capacidade de fazer consertos por conta própria. "Eu ser mulher mostra aos homens que mulheres não são inferiores e, para as mulheres, que elas também podem", diz.

"Se eu pude fazer um pilar de concreto, sem nem sequer ser formada em engenharia, por que elas não conseguiriam trocar um chuveiro?"

A youtuber diz que esse aprendizado é importante, independentemente se as mulheres trabalharão com isso. "Não é questão de saber fazer, mas de ter a informação para nunca ser passada para trás", afirma.

Além disso, "é importante ensinar os caras que não precisamos deles tanto quanto imaginam", diz ela, entre risos.

Profissão: youtuber

O sucesso do canal, que tem mais de 150 vídeos, permitiu que Paloma se tornasse youtuber profissional. "Filmo, edito, produzo", conta a jovem, que já trabalhou como digitadora, vendedora e entregando panfletos.

A confecção de cada vídeo - usando apenas uma câmera e um tripé para a filmagem e um computador para a edição - leva, no mínimo, um dia, mas, em média, é algo que exige três dias de trabalho.

Paloma diz que se inspira das necessidades que encontra dentro de casa. "Tudo o que precisa, eu faço. Não tínhamos sofá, fiz um. Já assentei piso, coloquei porta, reboquei parede, passei massa corrida, instalei placa de decoração, pintei parede, fiz textura, piscina, estante…" Ela diz que, quando começou, sua casa estava sem qualquer acabamento. "Hoje, está quase completa."

A youtuber agora viaja com frequência para dar oficinas em lojas que a patrocinam e complementam sua renda. O dinheiro é suficiente para se manter, pagar a faculdade de publicidade e ajudar a família.

Em resumo, Paloma é "mulher para toda obra". E é isso o que ela quer ensinar com seus vídeos.

"Sei que minha vivência não é a mesma de outras mulheres, mas vai lá, pega e faz! Não fica pensando, duvidando de si mesma. 'Como eu queria fazer…' 'Por que eu não aprendi…' Essas perguntas não têm de ser feitas. Quando estiver pronto, você avalia e aprende com isso".

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O "Professor Pardal" da internet espanhola:
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