A mulher que fingia ser rapper enquanto tentava lavar R$ 21 bilhões em bitcoins roubados
Heather Morgan fazia músicas se gabando por ser uma máquina de fazer dinheiro - mas a fortuna vinha de um ataque hacker feito pelo marido dela.
Um casal de cibercriminosos se declarou culpado por tentar lavar 4,5 bilhões de dólares (R$ 21,8 bilhões) em bitcoins roubados num ataque hacker em 2016.
Heather Morgan e seu marido, Ilya Lichtenstein, foram presos em 2022, em Nova York, após a investigação policial rastrear a fortuna bilionária dos dois até o roubo das criptomoedas.
Como parte do acordo judicial, Lichtenstein, que é programador, confessou que estava por trás do ataque hacker, e Morgan também se declarou culpada de uma acusação adicional de conspirar contra os Estados Unidos.
Enquanto a dupla não era descoberta, Morgan se passava por rapper e empresária da área de tecnologia.
Mesmo tentando encobrir os seus crimes, ela postava dezenas de clipes com músicas de rap cheias de palavrões, filmados em locais nos arredores de Nova York, sob o nome artístico de Razzlekhan.
Nas letras, a "rapper" se gabava por ser uma "durona que faz muito dinheiro" e a "crocodilo de Wall Street".
Em artigos publicados na revista Forbes, Morgan ainda se vendia como uma bem-sucedida empresária da tecnologia, se classificando como "economista, empreendedora em série, investidora na área de softwares e rapper".
Mas, enquanto desenvolvia essa "persona" como música e empresária, ela e o marido estavam tentando lavar o dinheiro que haviam conseguido com o ataque hacker contra a Bitfinex, uma plataforma de criptomoedas.
Agora, o casal vai cumprir penas de prisão, com Lichtenstein podendo pegar até 20 anos de reclusão, e Morgan, até 10 anos.
Na época da prisão, em fevereiro de 2022, o montante de 119 mil bitcoins do casal estava avaliado em 4,5 bilhões de dólares - tornando-se a maior apreensão de criptomoedas já realizada por autoridades americanas e a maior apreensão financeira única na história do Departamento de Justiça dos EUA.
Quando o roubo ocorreu, em 2016, os bitcoins valiam cerca de 71 milhões de dólares (R$ 344 milhões).
Esquema criminoso
Documentos apresentados no tribunal mostram detalhadamente como o casal transformou os milhões de dólares em bitcoins da Bitfinex em dinheiro tradicional, usando técnicas sofisticadas para tentar evitar detecção.
Um dos principais deslizes do casal, segundo a polícia, foi realizar compras com cupons de supermercado da Walmart pagos com os recursos roubados.
"A polícia conseguiu ligar os vouchers da Walmart à parte do dinheiro roubado no ataque hacker contra a Bitfinex, o que levou ao avanço da investigação", disse Jonathan Levin, fundador da Chainalysis, empresa de investigação de criptomoedas que esteve envolvida na descoberta.
"Comprar cartões-presente e movimentar o dinheiro entre diferentes corretoras e diferentes criptomoedas nunca criou realmente a quebra de rastreabilidade que o casal desejava," completou.
Quando a polícia fez a operação no apartamento do casal em Manhattan, Nova York, foram encontrados livros ocos feitos para esconder celulares. Também descobriram dezenas de aparelhos celulares descartáveis, diversos pen drives e 40 mil dólares em dinheiro.
Os investigadores conseguiram decifrar uma planilha detalhada que descrevia minuciosamente os métodos do casal para lavar o dinheiro, o que permitiu recuperar quase todo o montante roubado.
Em documentos do tribunal, os promotores afirmam que encontraram registros de comunicação que indicam que Morgan e Lichtenstein planejavam fugir para a Rússia - país natal dele.
Se tivessem conseguido, eles provavelmente viveriam uma vida de bilionários, bem longe de serem presos nos EUA.
Quando o roubo ocorreu, os clientes da Bitfinex sofreram um "corte" forçado, perdendo 36% de seus ativos mantidos na corretora de criptomoedas. Depois, eles foram reembolsados.
Agora, a empresa, que tem sede em Hong Kong, e alguns clientes que trocaram na época suas perdas por ações da Bitfinex estão prestes a receber a recompensa, assim que os bitcoins recuperados forem devolvidos.