As histórias por trás de emojis
Saiba como alguns minúsculos personagens acabaram em bilhões de teclados de smartphones.
Você pode não pensar muito sobre os emojis que usa para enviar mensagens de texto todos os dias, mas há histórias humanas fascinantes por trás deles.
"A música do meu pai é uma mensagem musical, para elevar o mundo de sua mentalidade adormecida", diz o músico de reggae Andrew Tosh, falando de sua casa em Kingston, na Jamaica.
O pai dele, Peter Tosh, foi um dos três membros fundadores da banda The Wailers, nos anos 1960, junto a Bob Marley e Bunny Wailer.
A história de Peter Tosh não teve um final feliz; ele foi assassinado em um ataque horrível na década de 1980, mas deixou um legado musical e político.
E se você abrir o teclado de emoji e pesquisar "levitando", encontrará uma minúscula imagem de um homem vestido com um terno preto elegante, chapéu e óculos escuros.
É Peter Tosh.
Niambe McIntosh, filha de Peter Tosh, cuida de seu patrimônio. Ela diz que o legado do pai é sobre justiça e direitos humanos, e tem orgulho de continuar seu trabalho.
"Ele não queria apenas que as pessoas dançassem; ele queria que elas dançassem para seu próprio despertar (político)."
Ela ri surpresa quando descobre que seu pai está imortalizado em um emoji.
"Não sabia disso... mas eu conheço a foto em que (o emoji) é baseado, de Bob, Bunny e meu pai de terno, e meu pai parece realmente alto."
Foi uma surpresa para seu irmão Andrew também.
"Ah, legal!", diz ele.
"Na verdade, eu conheço essa foto. A versão jovem de Peter Tosh."
Mas como uma lenda do reggae acabou se tornando um emoji?
História da Webdings
Esta é uma história que nos leva de Kingston, na Jamaica, à chuvosa Seattle, nos Estados Unidos; especificamente, para a sede da Microsoft em meados da década de 1990.
Naquela época, a revolução dos computadores pessoais estava apenas começando, e o tipógrafo Vincent Connaire estava trabalhando em novas fontes.
Entre os scripts que ele desenvolveu, estava a Webdings; uma fonte baseada em imagens que deveria ser usada nas primeiras páginas da web.
Connaire é um grande fã de música, especialmente ska. Uma de suas bandas favoritas é o grupo inglês The Specials. Sua gravadora, a 2 Tone Records, tinha um logotipo baseado em uma das primeiras imagens do The Wailers.
Na foto, Peter Tosh está de costas para Bob Marley, olhando para o fotógrafo, de gravata borboleta e óculos escuros. O designer da 2 Tone Records usou esta imagem como inspiração.
E é esse logotipo que foi adaptado por Connaire duas décadas depois para Webdings.
Na versão dele, o homem de terno está pulando; ou mais precisamente "pogando" — tipo de dança popular entre os fãs do The Specials — e tinha a intenção de representar o "salto" de uma página para outra.
Anos depois, muitos símbolos Webdings foram codificados como emoji e lançados em todos os smartphones e plataformas de tecnologia do mundo.
Connaire desenhou muitos outros símbolos que conhecemos.
"Nós apenas olhávamos ao redor e desenhávamos o que víamos", diz ele, parecendo surpreso com o legado duradouro de seus designs.
"O rádio era meu rádio. O símbolo da montanha era o Monte Rainier (perto de Seattle). Fico orgulhoso em perceber que fizemos parte de algo especial."
Memórias de um emoji
Os emojis são aprovados e adicionados à lista oficial pela Unicode, um grupo baseado no Vale do Silício.
Para Yiying Lu e outras pessoas como ela, há algo especial em ter um emoji de sua autoria selecionado.
Ela é uma designer nascida em Xangai, na China, que teve várias propostas adicionadas ao teclado oficial.
O dumpling, o hashi, o biscoito da sorte, a embalagem de comida chinesa para viagem e o bubble tea são de autoria dela — e refletem parte de sua identidade como uma mulher chinesa que vive nos Estados Unidos.
Ela é apaixonada por explorar os significados dos símbolos e ampliar os horizontes culturais das pessoas, e fala com orgulho sobre sua conexão com a comunidade de Chinatown em San Francisco.
Mas o emoji mais significativo no qual Yiying trabalhou não é uma referência à comida de sua cultura.
É o pavão.
Há alguns anos, em uma conferência sobre emojis, ela conheceu Irene Cho, uma executiva de marketing coreano-americana e apresentadora de podcast em San Francisco.
Irene trabalhava em Hollywood para uma rede de restaurantes da moda, Burma Love. A dupla se deu bem de cara.
O restaurante Burma Love era decorado com desenhos de pavão — e Yiying se perguntou por quê.
Depois de descobrir que o pavão é altamente simbólico na cultura birmanesa, a dupla decidiu sugerir um emoji de pavão algum dia. Mas a conferência, e a janela para enviar propostas naquele ano, terminariam no dia seguinte.
As duas decidiram virar a noite. Yiying trabalhou no design artístico, e Irene na proposta escrita. Elas enviaram o emoji de pavão minutos antes do fim do prazo.
Alguns meses depois, a Unicode anunciou que o emoji de pavão havia entrado na lista. Quando Yiying tentou falar com Irene para compartilhar as boas novas, não obteve resposta.
"Eu mandei uma mensagem para ela dizendo: 'Ei, uau! Está acontecendo!', mas ela não respondeu."
Cerca de um ano depois, Yiying viu um estande da rede de restaurantes em um evento em São Francisco e perguntou por Irene.
Tragicamente, Irene havia morrido de repente vítima de um derrame causado pela doença de moyamoya, uma condição que ela tinha há algum tempo.
A morte dela, enquanto se preparava para viajar para a Birmânia, foi um choque para a família e amigos.
Aconteceu no mesmo mês em que o emoji foi selecionado. Muitos dos amigos de Irene não sabiam que ela havia sequer sugerido um emoji.
"É um pequeno aceno do céu", diz Brook Lee, ex-Miss Universo e amiga próxima de Irene, quando contamos a ela que o pequeno pavão em seu telefone foi obra da amiga.
"É como se ela estivesse dizendo: 'Oi! Ainda estou aqui, nem mesmo a morte pode me impedir.'"
Os emojis podem parecer símbolos simples ou uma forma divertida de dar vida às mensagens, mas para Brook, Yiying e muitos outros, eles representam muito mais.
"Irene com certeza ficaria orgulhosa", diz Brook.
"A representação é importante. Coisas que ajudam você a ver que está sendo visto, importam."
Yiying concorda.
"Estou muito feliz por ter podido compartilhar a história com você", ela sorri, se lembrando com ternura da amiga.