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Até que ponto é saudável compartilhar vida digital com familia e amigos?

Localização em tempo real é questão de segurança ou beira a obsessão por informações o tempo inteiro?

8 dez 2022 - 05h00
(atualizado às 17h19)
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Qual o limite entre a privacidade e a praticidade na hora de dividir informações com parceiros?
Qual o limite entre a privacidade e a praticidade na hora de dividir informações com parceiros?
Foto: Priscilla Du Peeez / Unsplash

Fernanda*, advogada de 24 anos que mora em São Paulo, é adepta de um aplicativo que permite separar e compartilhar informações digitais com pessoas de grupos específicos, o Life 360. A partir do recurso de GPS dos smartphones, a plataforma oferece um acompanhamento em tempo real da localização de usuários cadastrados.

O exemplo mostra como o desenvolvimento da tecnologia traz cada vez mais impasses sobre as fronteiras da privacidade. Um deles é até onde dividir a vida digital com amigos e família pode ser saudável.

No Life 360, a jovem e mais dois amigos compartilham suas localizações durante todo o tempo em um grupo. O monitoramento ocorre de forma harmoniosa, mas, para se sentir confortável, Fernanda precisou escolher a dedo com quem iria dividir as informações de sua vida.

“A gente baixou o aplicativo mais pra se divertir, mesmo. Ficamos zoando uns aos outros”, conta.

Fernanda (nome fictício), advogada de 24 anos, compartilha sua localização real com amigos
Fernanda (nome fictício), advogada de 24 anos, compartilha sua localização real com amigos
Foto: Terra Byte

Os limites da vida online

O problema é que o caminho muitas vezes não é tão simples assim, segundo Cristiano Nabuco de Abreu, doutor em psicologia e coordenador do Grupo de Dependência Tecnológica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).

O especialista entende que o nosso cérebro tem limites para aprender a lidar de forma saudável com uma vida de informações em tempo real. Para Nabuco de Abreu, criar o costume de viver com dados instantâneos a todo momento deve ser evitado.

Ele explica que, em interações na vida real, o cérebro tem alguns milissegundos para processar informações e transformar algumas emoções instantâneas e mais primitivas em pensamentos racionais e mais ponderados.

Nas interações online, por outro lado, os dados instantâneos nos fazem “pular” esta etapa importante do processamento racional. Isso pode nos tornar mais impulsivos e até mesmo menos equilibrados emocionalmente ao longo do tempo. “Todo esse movimento é muito deletério para o desenvolvimento e equilíbrio emocional humano”, diz.

Discrição online é também seguro

Mas, para muitos, o costume de compartilhar informações pode envolver aspectos práticos difíceis de abrir mão, como a própria segurança. A partir do histórico de localização do Life 360, por exemplo, Fernanda e seus amigos checam se todos chegaram bem em casa depois de terem bebido em uma festa.

Recentemente, casos de sequestros relâmpago aumentaram em muitas capitais do Brasil, principalmente em extorsões por meio de Pix, plataforma de pagamentos via celular que tornou o crime mais rápido e simples. Relatos envolvendo sequestros e agressões sexuais envolvendo transportes por aplicativo também não são raros.

Entretanto, Fernanda reconhece que essa divisão entre a privacidade e praticidade pode ficar mais tênue em outros tipos de relações. “Difícil dizer se eu dividiria a minha localização com um parceiro afetivo, por exemplo. Acredito que não. Tem até algumas amizades com as quais eu nunca usaria um aplicativo desse”, diz.

Relacionamento a dois pode ser afetado por necessidade de informações a todo instante
Relacionamento a dois pode ser afetado por necessidade de informações a todo instante
Foto: Laresised Leneseur / Unsplash

Quebras de expectativas

Para Ailton Batista, psicólogo especializado em saúde pública pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), a tecnologia pode criar imagens e expectativas irreais em outras pessoas, principalmente no relacionamento a dois. Se nos condicionarmos a sempre aceitar (ou até exigir) informações cada vez mais rápidas, podemos acabar criando problemas com relação a limites de privacidade estipulados pelo parceiro.

“A tecnologia vai criando uma certa ilusão de que o outro está o tempo todo disponível e pronto para atender às nossas necessidades, como se o outro fosse uma máquina que operasse segundo os nossos desejos, mas é muito pelo contrário. O outro também tem desejos próprios".

Cláudio *, estudante de arquitetura de 22 anos de Curitiba, conta que dividiria a sua localização em tempo real com a namorada sem grandes problemas. Mas, para dividir a mesma informação com a sua mãe, a coisa já é bem diferente.

“Se dependesse da minha mãe, ela teria minha localização o tempo todo, mas eu me recusei. É invasão de privacidade demais pra mim”.

A mãe de Cláudio, que compartilha a sua localização em tempo real com ele durante todo o tempo, no final das contas, teve que aceitar a decisão do filho — mas não sem nenhuma negociação.

“Quando vou viajar, ela pede que eu compartilhe a localização. Eu não gosto, mas é mais fácil fazer do que reclamar, então eu faço”, brincou.

* Nomes fictícios, criados a pedido das pessoas citadas na reportagem

Fonte: Redação Byte
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