Avanços em nanotecnologia melhoram a eficácia terapêutica da cúrcuma
Principal composto bioativo da planta, é objeto de estudos na medicina por suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes
A cúrcuma, uma planta da família Zingiberaceae (a mesma do gengibre), é originária da Ásia, sendo usada como tempero e corante devido ao seu intenso tom amarelo. Além do uso na culinária, a curcumina, o principal composto bioativo da planta, é objeto de estudos na medicina por suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. No entanto, o potencial da curcumina para prevenir e tratar enfermidades encontra obstáculos na su
a absorção pelo corpo, algo que pode ser modificado através da nanotecnologia. Com o uso de técnicas adequadas, podemos manipular a matéria em escalas nanométricas - 1 metro dividido por 1 bilhão.
Caroline Bertoncini Silva, pesquisadora da Divisão de Nutrologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, é responsável por um estudo publicado na revista Antioxidants que revisou achados recentes de pesquisas sobre as propriedades da curcumina e as formas de intensificar essas ações no organismo humano. A pesquisadora informa que potenciais benefícios da curcumina vão das propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, passam pela neuroproteção, melhorando a função cerebral, os benefícios cardiovasculares e a saúde digestiva, chegando aos efeitos antitumorais.
A questão é que a biodisponibilidade do composto bioativo é reduzida, e as formulações farmacêuticas e estudos clínicos ainda estão em fase inicial. “Embora os benefícios sejam promissores, são necessárias mais pesquisas para estabelecer as recomendações terapêuticas específicas. As perspectivas precisam ser confirmadas por estudos maiores e ensaios clínicos”, avalia Caroline Silva.
A boa notícia é que, pelo menos, o problema da biodisponibilidade pode ser solucionado através das nanoformulações de curcumina, um processo que emprega nanotecnologia para diminuir o tamanho dos medicamentos. De acordo com as análises da pesquisadora, as fórmulas nanoestruturadas proporcionam a melhoria necessária para aumentar a biodisponibilidade e a bioatividade (atividade biológica) da curcumina e seus metabólitos.
“A baixa disponibilidade da curcumina em sua forma natural é um desafio e, para superá-la, diversas pesquisas estão investigando formulações para melhorá-la”, conta a pesquisadora, adiantando que parte da baixa absorção da curcumina se deve ao fato de ela ser uma molécula hidrofóbica, ou seja, que possui aversão à água e baixa solubilidade.
Uma das pesquisas examinadas pelos cientistas revelou que uma das nanoformulações mais recentes pode ampliar em até 100 vezes a biodisponibilidade da curcumina no plasma. A pesquisa analisou 11 nanoformulações de curcumina, que foram avaliadas em estudos clínicos e que resultaram em um aumento de nove a 185 vezes na biodisponibilidade do composto.
A curcumina tem um efeito antimicrobiano, prevenindo a proliferação de microrganismos, que também é reforçado pela nanoestrutura. Caroline Silva, com base nos resultados alcançados, prevê que, num futuro próximo, será viável desenvolver essas nanoformulações para atacar microrganismos específicos que provocam enfermidades, especialmente na pele e no intestino. Além disso, as pesquisas sobre os impactos do consumo oral de nanoformulações de curcumina em ratos e camundongos indicaram um aumento na absorção intestinal e na biodisponibilidade, além de uma melhoria na composição da microbiota intestinal, um conjunto de microrganismos existentes no intestino que podem contribuir para o funcionamento de várias funções.
Ao examinar a conexão entre a nanoformulação da curcumina e suas propriedades anti-inflamatórias e antiobesidade, descobertas de várias pesquisas conduzidas com humanos e animais indicam que essas nanoformulações podem apresentar resultados promissores no tratamento da inflamação crônica em seres humanos.
Informações iniciais indicam que a curcumina poderia beneficiar o cérebro, aprimorando a função cognitiva e a memória, sendo testada no tratamento do Alzheimer, e o coração, com potencial para atuar como um agente terapêutico em enfermidades cardiovasculares. Caroline destaca que ainda não existem estudos clínicos que apresentem evidências robustas dos efeitos da curcumina no cérebro e no coração. No entanto, os progressos nas nanoestruturas da curcumina são um grande estímulo para a realização de mais estudos nessas áreas.
É necessário realizar mais pesquisas para confirmar a dosagem, contudo, estudos realizados in vitro, em animais e em seres humanos têm mostrado que a curcumina não é nociva. Os estudos conduzidos em seres humanos indicaram um intervalo de consumo seguro, variando entre 1.125 mg e 2.500 mg de curcumina por dia. Outra pesquisa examinou o consumo de quantidades elevadas e diárias de curcumina, até 8 g por dia, durante três meses, e não identificou toxicidade associada ao bioativo.
Caroline acredita que, mais para frente, ela “pode ser importante no tratamento para doenças crônicas, como artrite reumatoide, diabete e doenças cardiovasculares, pois o efeito anti-inflamatório e antioxidante é potencializado”. Lembra ainda que, com as nanoformulações, a curcumina pode ser útil como neuroproteção nas doenças neurodegenerativas, além do potencial em tratamentos oncológicos, “pois estudos demonstram uma capacidade do bioativo em inibir as células tumorais”.