Banca da USP: por que determinar se alguém é pardo por chamada de vídeo é problemático
USP utilizou chamadas de vídeo para avaliar cotistas, método polêmico em contexto racial
Estudantes aprovados na Universidade de São Paulo (USP) pelo Provão Paulista, utilizando cotas raciais, recorreram à Justiça nas últimas semanas após terem matrículas negadas por não serem reconhecidos como pardos.
No centro do debate, está a adoção por parte da USP de um método controverso para a verificação da autodeclaração racial de candidatos aprovados via cotas: a avaliação por chamada de vídeo. Por que isso pode ser problemático do ponto de vista tecnológico?
Entenda triagem
Segundo a USP, os candidatos que se autodeclaram Pretos, Pardos e Indígenas (PPI) passam por uma análise fotográfica, por duas bancas de cinco pessoas, que se baseiam em fatores de fenótipo (características externas, morfológicas, fisiológicas dos indivíduos).
Se a foto não for aprovada por nenhuma banca, o candidato que prestou Fuvest, o vestibular da instituição, é chamado para uma análise presencial. No caso do Enem e do Provão Paulista, essa entrevista é realizada virtualmente.
A USP afirma que as bancas avaliam cor da pele, cabelos, forma da boca e do nariz. A universidade justificou que as entrevistas foram feitas virtualmente porque muito dos candidatos moram longe.
Câmeras são a melhor opção?
A adocção da tecnologia de videochamada para assuntos envolvendo raça é polêmica. O que está em jogo é a fidelidade da representação de cores pelas câmeras, historicamente desenvolvidas e calibradas com base em padrões que favorecem tons de pele mais claros.
O candidato que se apresenta por uma vídeochamada para uma validação de raça, por exemplo, está sujeito a distorções comuns causadas em peles escuras pela captura de imagem.
Além disso, a iluminação e a qualidade do equipamento utilizado influenciam significativamente o resultado visual.
O que diz a USP
Ao Byte, a USP afirmou que tem tomado todas as medidas necessárias para assegurar uma avaliação justa e adequada das características fenotípicas, mesmo em um ambiente virtual.
"O processo foi desenhado a partir de um estudo do funcionamento das bancas em outras universidades, mas sempre pode ser aprimorado. No caso em pauta, a USP entende que tomou todas as medidas para garantir uma boa verificação das características fenotípicas, independentemente do suporte de visualização".
A universidade também afirma que, nas avaliações virtuais, "a banca de heteroidentificação toma todo o cuidado para que a visualização das características fenotípicas seja feita de maneira adequada, pedindo, por exemplo, para que os candidatos mudem a posição do corpo e procurem lugares com melhor iluminação".
*Nota atualizada às 14h00 com o posicionamento da USP