Batatas e tomates contêm substâncias contra câncer? Ao que parece, sim
Segundo os pesquisadores, a dosagem correta dessas substâncias pode transformá-las em medicamentos
A evolução do tratamento do câncer pode dar um salto em breve: uma equipe de pesquisadores poloneses descobriu que compostos bioativos chamados glicoalcalóides, encontrados em vegetais como batatas e tomates, demonstram potencial para ser usado em terapias contra tumores. Os resultados foram publicados nesta quarta-feira (7), na Frontiers in Pharmacology.
No Brasil, o país registra 625 mil novos casos de câncer para cada ano do triênio 2020/2022, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Os tratamentos estão avançando, mas podem danificar células saudáveis ou causar efeitos colaterais graves para os pacientes.
Para a descoberta, os cientistas se concentraram em cinco glicoalcalóides: solanina, chaconina, solasonina, solamargina e tomatina, encontrados em extratos brutos da família de plantas Solanaceae, também conhecidas como solanáceas.
Esta família contém muitas plantas alimentares populares e muitas tóxicas, frequentemente por causa dos alcaloides. Estes compostos derivados de aminas funcionam como defesa contra animais herbívoros. O que a ciência descobriu agora é que a dose correta dessa substância pode transformar um veneno em remédio.
Inibidores de células cancerígenas
A descoberta foi feita com a reavaliação de estudos, e mostrou que os glicoalcalóides, inibem o crescimento e podem promover a morte de células cancerígenas.
Segundo os pesquisadores, estas são as principais áreas-alvo para controlar o câncer e melhorar os prognósticos dos pacientes. Estudos in silico — um primeiro passo importante — sugerem que os glicoalcalóides não são tóxicos e não correm o risco de danificar o DNA ou causar futuros tumores, embora possam haver alguns efeitos no sistema reprodutivo.
"Mesmo que não possamos substituir os medicamentos anticancerígenos usados hoje em dia, talvez a terapia combinada aumente a eficácia desse tratamento", sugeriu Magdalena Winkiel da Universidade Adam Mickiewicz (Polônia), líder do estudo.
Dos vegetais ao tratamento
Um passo necessário é usar estudos in vitro (fora de um organismo vivo) e em animais modelo para determinar quais glicoalcalóides são seguros e promissores o suficiente para serem testados em humanos.
Segundo a equipe de Winkiel, os derivados de batatas, como solanina e chaconina, se mostraram promissores – embora os níveis presentes nesses vegetais dependem do cultivo e das condições de luz e temperatura aos quais as batatas são expostas.
A solanina impede que alguns produtos químicos potencialmente cancerígenos se transformem em cancerígenos no corpo e inibe a metástase (tumores em outros órgãos).
Estudos em um tipo específico de células de leucemia também mostraram que, em doses terapêuticas, a solanina as mata. Chaconine tem propriedades anti-inflamatórias, com potencial para tratar a sepse.
Outra propriedade, a solamargina – encontrada principalmente na berinjela – impede a reprodução das células cancerígenas do fígado. A solamargina é um dos vários glicoalcalóides que podem ser cruciais como tratamento complementar porque tem como alvo as células-tronco do câncer, que desempenham um papel significativo na resistência aos medicamentos contra o tumor.
Apesar das decobertas, mais pesquisas serão necessárias para determinar como esse potencial in vitro pode ser melhor transformado em medicina prática, segundo Winkiel e sua equipe. Há razões para acreditar que o processamento de alta temperatura melhora as propriedades dos glicoalcalóides.