Beats Fit Pro: fone de ouvido encosta na qualidade dos AirPods Pro
Até então, aparelhos da Beats eram inferiores aos da Apple em portabilidade e bateria
Apple e Beats são dois lados da mesma moeda: a dona do iPhone comprou a marca de fones de ouvido em 2014 por US$ 3 bilhões. À época, a jogada era unir a biblioteca vasta do iTunes ao Beats Music, serviço pioneiro de streaming que seria remodelado no Apple Music, hoje um dos maiores concorrentes do Spotify.
Junto com isso, a empresa fundada por Steve Jobs adquiriu a linha de aparelhos de som de alta qualidade da Beats, especialmente focados em apreciadores de rap e hip-hop por causa do grave parrudo dos dispositivos.
De lá para cá, porém, o papel da Beats na estratégia da empresa mais valiosa do mundo parece ser secundário. Sem muito alarde, novos fones de ouvido portáteis têm sido lançados, com especial apelo para o mercado esportivo — opções de cores vibrantes, materiais mais resistentes e preços competitivos com o resto do mercado são diferenciais em relação ao branco "sem graça" dos AirPods. Em qualidade, os fones da casa parecem superiores aos da marca irmã.
Essa dinâmica parece ter mudado com os Beats Fit Pro, lançados em novembro de 2021 nos Estados Unidos e recém-chegados ao Brasil em fevereiro por R$ 2,6 mil. Como se tornou comum na categoria dos earbuds, os produtos miram a portabilidade (há um estojo onde é feito o carregamento quando estão em descanso) e praticidade (a conectividade, seja em iPhone ou Android, leva milissegundos após o pareamento inicial).
Nos testes do Estadão, os Fit Pro são os melhores fones de ouvido portáteis da Beats (embora os Powerbeats Pro também tenham bastante destaque no portfólio da empresa). Surpreendentemente, também são os que melhor encostam na qualidade dos AirPods Pro, que ainda seguem como os mais práticos, bonitos e de melhor qualidade — mas por muito pouco.
O que há de bom?
Os Beats Fit Pro são um avanço excelente em comparação a outros modelos da marca, como os Studio Buds, de 2020. Primeiro, porque são mais bonitos e práticos: o estojo quadrangular (e não retangular) é mais charmoso. Também é mais fácil de abri-lo, já que há um espaço discreto para encaixar os dedos e levantar a tampa. Com acabamento fosco, está disponível nas cores preto, branco, grafite e roxo.
Segundo, porque são mais funcionais. De tipo intra-auricular (na caixa, vêm 3 tamanhos de pontas de silicone), o novo modelo se ajusta melhor ao ouvido ao trazer de forma inédita uma "asa" para ser adaptada à orelha, dando mais firmeza ao encaixe. Marcas como JBL e Samsung já se aventuraram nesse tipo de design.
A adição das "asinhas" torna os Fit Pro mais seguros na orelha para esportes de impacto, um ponto muito positivo em relação a diversos modelos da própria Beats e a outros fones da Apple. Mesmo com fio no pescoço para equilíbrio, os Beats Flex (2019), por exemplo, costumavam cair da orelha em corridas, quando suor e impacto tornam o dispositivo mais frouxo à orelha.
No dia a dia, as novas asas são uma mudança bem pouco perceptível para quem vê de fora — alguém mais desatento pode nem notar o recurso. E tampouco são incômodas para quem a usa, o que é bastante importante. Ou seja, a novidade é um sucesso ao unir design e funcionalidade.
É também uma evolução dos Powerbeats Pro, que têm uma argola para prender na orelha. Elas funcionam, mas são desconfortáveis.
Também de maneira muito positiva, o Fit Pro "invade" menos o ouvido quando o botão (onde aparece o logotipo da marca no dispositivo, discretíssimo) é pressionado, já que as asas ficam mais firmes à orelha. É uma mudança muito bem-vinda, porque, nos Studio Buds (2020), trocar canções pelo botão era mais desconfortável para o ouvido. Mas ambos são inferiores aos AirPods Pro, que possuem um bastão para cliques, sem incômodo algum.
O dispositivo também traz os dois modos de som característicos dos fones dessa categoria: cancelamento ativo de ruído (turbinado pelo bom encaixe ao ouvido, ajudando a isolar sons externos) e ambiente (inferior à naturalidade dos AirPods Pro na rua, mas ainda assim bons). A façanha é processada pelo chip H1, de última geração, presente em outros fones da Apple.
Por fim, sobre o motivo pelo qual pessoas compram fones, vale dizer: a qualidade do som é boa, como se espera de um fone da Beats. Mas, a esta altura do campeonato, isso é o mínimo.
O que há de ruim?
Nem tudo é perfeito, claro.
Rapidamente, é fácil notar que os Beats Fit Pro não são próprios para longos períodos de uso. Na verdade, utilizá-lo durante longas reuniões por vídeochamada, por exemplo, é bastante incômodo: a asa acaba incomodando se ficar tempo demais à orelha. No fim das contas, é um aparelho próprio para exercícios, que não vão levar 4 horas.
Além disso, item também importante em reuniões, o microfone do Fit Pro está abaixo dos AirPods Pro (2019). Ao longo de chamadas, pessoas questionavam a qualidade do microfone, dizendo que a conexão era interrompida e que a fala estava abafada.
Outro ponto, mais polêmico, é o cabo de carregamento de tipo USB-C nas duas pontas — ou seja, o estojo de recarga exige entrada USB-C e, no outro lado do fio, a entrada é também de USB-C, exigindo um carregador de tomada compatível. Esse é o atual padrão do mercado e, em tese, seria o ideal.
O problema do cabo USB-C, no caso dos Fit Pro, é que a Apple não fornece carregador de tomada, da mesma maneira que tem feito com o iPhone. E, no caso do smartphone, o cabo na caixa é de USB-C numa ponta e Lightning na outra. Ou seja, para carregar os fones, é preciso andar com dois cabos diferentes — gerando mais bugigangas por usuário e, consequentemente, aumentando o lixo eletrônico que a companhia afirma evitar.
Além disso, o estojo de recarga dos Fit Pro não têm padrão de carregamento sem fio Qi, algo que AirPods e outras marcas já possuem. No longo prazo, essa ausência deve fazer diferença, quando mais casas tiverem seus carregadores de base wireless.
São esses defeitos que fazem os últimos fones da Beats inferiores aos AirPods Pro, rival do mesmo berço. Embora sejam ideais para exercícios, é difícil imaginar alguém desembolsando R$ 2,6 mil apenas para um aparelho próprio para corridas — nesse sentido, parece ter melhor custo-benefício investir R$ 3 mil e pegar o topo de linha da Apple, que é muito mais versátil em todas as tarefas.