Bolsonaristas adotam "táticas de guerra" no Telegram para fugir de bloqueio do STF
Canais bolsonaristas monitorados pelo STF divulgam informações pessoais de supostos infiltrados e mudam seus nomes diariamente para evitar bloqueios.
Após a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que pediu a suspensão de mais de 50
canais e grupos bolsonaristas no Telegram, o Núcleo identificou que seus integrantes adotaram o que chamam "táticas de guerra", como a mudança diária do nome dos canais. Muitos dos canais listados ainda não foram suspensos.
Monitoramento do Núcleo nesta quinta-feira (12.jan) também revela que os bolsonaristas se tornaram mais preocupados com vigilância de autoridades e passaram a divulgar informações pessoais de supostos infiltrados nos grupos do Telegram.
ESTRATÉGIAS. Oscanais listados na decisão do STF que ainda não foram suspensos estão com, em média, menos de 3 mil
inscritos. No entanto, o Núcleo também identificou que o grupo "O despertar reserva" ainda está em atividade com mais de 15 mil
membros.
Para escapar da moderação, os canais adotaram o que chamam de "táticas de guerra" e mudam constantemente os nomes dos grupos, além de apagar históricos e ativar mensagens temporárias.
Em um dos canais listados pelo STF, uma usuária confusa pergunta qual o nome do grupo originalmente, e diz que muitos mudaram de nome na madrugada de quinta-feira (12.jan.23). Um dos membros responde que "teve uma confusão que obrigou o grupo a fazer alguns ajustes", mas não menciona a decisão da Justiça.
Membros expõem estratégia de mudar de nome várias vezes ao dia, e até mesmo usuários golpistas ficam confusos/Reprodução do monitoramento do Núcleo
"QUEM RIU É INFILTRADO". A preocupação com supostos infiltrados agora é recorrente nos canais, fazendo com que usuários migrem para redes mais criptografadas e até vazem números de telefone de quem desconfiam.
Em um dos grupos bloqueados após decisão do STF, com 3895 mil
inscritos, administradores apagaram todo o histórico de mensagens e fizeram uma pegadinha ao enviar uma mensagem simulando que o canal tinha sido bloqueado pelo Telegram. Após sete horas, coletaram reações dos membros e baniram todos os que chamaram de infiltrados.
Os usuários também migraram para redes consideradas mais seguras, como o Signal. O aplicativo, no entanto, não permite que o usuário esconda seu número de telefone, como no Telegram, e pode facilitar que administradores rastreiem e vazem números de telefone.
O Núcleo também identificou usuários convocando migração para aplicativos como o Element, que usa o protocolo Matrix, uma rede de comunicação de código aberto e criptografado com pouca tração no Brasil.
Logo após a insurreição de extremistas em 8.jan.23 em Brasília, usuários em canais e grupos golpistas passaram a ficar mais alertas com o que chamam de infiltrados. Em alguns canais, discutem a importância de contratarem profissionais de tecnologia de informação e hackers para rastrear pessoas de esquerda, políticos e jornalistas.
DOXXING. Na manhã de quinta (12.jan), vários canais golpistas compartilharam uma lista com cerca de 50
números e nomes dos supostos infiltrados. A prática pode ser considerada doxxing — crime de vazar informações pessoais de alguém na internet , sobretudo se aqueles com dados expostos venham a sofrer assédio.
INFLUENCER INVESTIGADO. O canal do Telegram de Allan dos Santos, influencer bolsonarista investigado pelo STF em dois inquéritos, ainda está ativo e conta com 22 mil
inscritos. Desde 8.jan, Santos publica mensagens de teor extremistas, além de publicamente apoiar a insurreição contra o Estado democrático.
Após os ataques em Brasília, Santos chegou a compartilhar uma publicação de sua conta no Locals, uma rede alternativa de direita, onde fala que Adolf Hilter "usou politicamente o incêndio do congresso alemão" — em uma tentativa de comparar o presidente Lula ao líder nazista.