Bolsonaristas usam números internacionais para burlar bloqueios e acessar canais derrubados pelo TSE
Números internacionais e VPN são usados para burlar decisão do TSE que derrubou grupos golpistas
No Telegram e Twitter, bolsonaristas estão ensinando outros usuários a burlar a decisão do TSE que bloqueou canais de teor golpista, que organizavam paralisações para contestar o resultado da eleição presidencial.
O bloqueio imposto pelo TSE parece apenas impactar usuários com números e contas localizadas no Brasil.
O Núcleo confirmou nesta quinta-feira, 3, com três pessoas que moram no exterior e possuem números não brasileiros que é possível acessar o histórico de alguns grandes grupos, enquanto em outros casos (como do famigerado Supergrupo B-38) é até possível mandar mensagens.
Um estrangeiro que mora no Brasil e possui número internacional e VPN também conseguiu esse mesmo acesso.
O que é VPN
Rede privada virtual (VPN, na sigla em inglês) é uma tecnologia que mascara o endereço de IP de uma conexão e potencialmente permite ao usuário acesso a um conteúdo bloqueado no país, e assim burlando as políticas de comunidade da plataforma naquele local.
Na noite de segunda, 31, o Telegram derrubou uma série de canais de extrema direita envolvidos na organização de manifestações golpistas.
Mostramos no Núcleo como desde o momento que foram criados, esses canais captaram milhares de bolsonaristas de maneira supostamente orgânica. Alguns dos canais conseguiram 10 mil membros em poucas horas de criação.
Na página inicial do Telegram de usuários brasileiros, é possível ver que mensagens continuam sendo trocadas nesses canais, além do nome de quem está digitando no momento. Ao clicar no chat, aparece a mensagem: "Essa comunidade foi bloqueada no Brasil por conta de uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)."
Avisos que aparecem na tela de início do Telegram a usuários que continuam nos canais bloqueados. As capturas foram feitas às 11:58 desta quinta-feira pelo Núcleo.
A decisão do TSE não afeta usuários com números do exterior, ou, aparentemente, que estejam usando VPNs extremamente seguras que mascarem a localização do usuário.
Um leitor com número de telefone de Portugal enviou ao Núcleo capturas de tela que mostram acesso aos canais, identificando múltiplas mensagens de teor golpista.
Entre o histórico das mensagens há uma postagem explicando a diferença entre os termos "intervenção federal", "intervenção militar" e o Artigo 142 da Constituição, e pedindo uma intervenção federal com "a manutenção de Bolsonaro no Poder!".
Capturas de tela realizadas pelo Núcleo mostrando que os canais ainda estão ativos fora do Brasil.
Segundo monitoramento de redes feito pelo Núcleo, mensagens citando o termo "VPN" tiveram um aumento súbito na terça-feira, 1º, com mais de 291 mensagens citando o termo naquele mesmo dia.
Desde segunda, já foram mais de 421 mensagens citando o termo entre os canais monitorados no Telegram, somando mais de 971 mil visualizações.
No Twitter e em canais de Telegram ainda não derrubados pelo TSE, bolsonaristas estão passando tutoriais de como usarem VPNs "contra a censura" em prol da "resistência civil".
Desde o começo das paralisações, bolsonaristas estão optando por usar os termos intervenção federal e resistência civil para evitar serem encontrados por jornalistas, pesquisadores e o próprio TSE.
Bolsonaristas ensinam usuários do Telegram como burlar decisão judicial do TSE para acessarem conteúdo de canais golpistas. O Núcleo não confirmou se as VPNs citadas são eficazes ou seguras.