Brincalhonas ou agressivas? Veja por que orcas estão batendo em barcos
Nos últimos três anos, o Estreito de Gibraltar, na Espanha, teve mais de 500 ocorrências entre orcas e embarcações
Nos últimos três anos, o Estreito de Gibraltar, um corredor marítimo de 13 quilômetros de largura que separa a Europa da África, teve mais de 500 interações entre orcas e embarcações.
Os eventos contêm algumas similaridades, como a junção de cerca de 15 animais, que afundaram três embarcações e danificaram outras dezenas, segundo Mónica González, bióloga marinha do CEMMA e coordenadora para o Estudo dos Mamíferos Mariños.
A organização não-governamental da Espanha está reunindo dados sobre as orcas no estreito. O motivo pelo qual as baleias estão se interessando tanto por barcos ainda não está clara, mas os especialistas têm algumas teorias.
Hipóteses
O Estreito de Gibraltar é uma das vias navegáveis mais movimentadas do mundo e, embora as orcas se aproximem apenas de uma pequena fração dos barcos que passam pelo local, cerca de 1 em cada 5 interações resultam em danos graves que exigem reboque, disse Mónica González em entrevista à CNN.
A taxa atual de interações está em um pico sazonal de cerca de 20 a 25 por mês, disse a especialista.
“Há mais encontros no verão porque a presa da orca, o atum rabilho, está no estreito, então elas estão esperando lá. Quando termina o verão, o atum desloca-se para o norte da Espanha e as orcas o acompanham”.
Ela explica que o número total de orcas no estreito é de apenas 40 – uma subpopulação listada como criticamente ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza – com cerca de 15 delas se aproximando dos barcos.
Dentre as orcas que interagem com os barcos, há apenas dois adultos, o que pode trazer pistas sobre sua motivação.
“Temos duas teorias sobre por que essas interações começaram. A primeira é que as orcas estão apenas brincando, e a outra é que um animal sofreu um momento aversivo e as orcas estão tentando parar os barcos para evitar que isso aconteça novamente – mas não sabemos exatamente o que aconteceu em primeiro lugar”, disse a bióloga marinha à CNN.
Brincalhonas
Segundo a bióloga marinha Hanne Strager, autora de “The Killer Whales Journals”, por mais que a origem traumática do comportamento das baleias não possa ser descartada, ela também acredita que a brincadeira é uma explicação mais viável.
De acordo com a especialista, os animais são atraídos pelo leme, e que se o empurrarem para o lado podem rachar o casco.
“Elas podem achar que é divertido – como chutar uma bola no gramado para ver o que acontece. Mas para as pessoas que estão experimentando isso em seu barco multimilionário, não é divertido, não é brincadeira. É bem assustador”, disse a bióloga à CNN.
No entanto, não há evidências de que as baleias queiram prejudicar os humanos, acrescentou Strager.
O capitão Daniel Kriz, que viveu a experiência de ter um barco afundado por baleias no Estreito de Gibraltar, também descartou qualquer intenção hostil por parte dos mamíferos.
“Eu não acho que isso seja um comportamento agressivo e definitivamente não é direcionado aos humanos. Elas basicamente brincam com os lemes até tirá-los”, disse ele à CNN.
“Elas podiam nos ver – estávamos filmando e tirando fotos delas do barco e não houve nenhuma interação de nenhum dos lados. Elas não bateram em nenhum outro lugar do barco. Apenas nos lemes”, incluiu.
As embarcações que passam pelo Estreito de Gibraltar são aconselhadas pelas autoridades a verificar o site do Atlantic Orca Working Group e baixar um aplicativo chamado GT Orcas para descobrir os pontos de atividade que devem ser evitados.
Caso encontre um grupo de orcas, o recomendado é não fazer nada. “A recomendação oficial é não fazer nada, desligar o motor ou abaixar as velas e ser o menos interessante possível para as orcas. Não grite, não grite, não grite”, aconselhou Hanne Strager.