Cachorros podem comer comida de humanos? Veja o que a ciência diz
Pesquisa da Universidade de Illinois mostra que dieta baseada em alimentos "de humanos" é mais digerível, mas não se sabe se mais saudável
Embora os animais devam evitar chocolates, temperos e frutas, muitos tipos de proteínas e vegetais podem ser digeridos por cães quando devidamente preparados, de acordo com uma pesquisa da Universidade de Illinois, publicada em 2021 no Journal of Animal Science.
Apesar disso, os impactos ambientais seriam grandes, o que leva os cientistas a recomendarem ainda uma terceira opção de dieta.
Durante milhares de anos, os humanos alimentaram os animais com restos de comida, o que fez com que, aos poucos, os caninos evoluíssem para digeri-los. Já a ração é mais nova: tem apenas um século e meio de idade e provavelmente surgiu como uma forma de tornar o desperdício de alimentos mais rentável.
Muitos donos de cães compartilham da ideia de que os restos de alimentos são prejudiciais para seus bichinhos, enquanto a ração possui todos os nutrientes necessários. Porém, nos últimos anos, questões de segurança foram levantadas sobre as rações, algo que tem levado a alternativas caseiras mais populares.
Donos estão tentando fazer uma dieta com opções comerciais saudáveis, frescas, orgânicas, livre de grãos e pouco processadas, mas esse tipo de dieta ainda não havia sido fortemente testada e comparada com outras em grande escala. No entanto, tecnicamente elas atendem aos padrões de nutrição “completa ou equilibrada”.
Agora, algumas das primeiras pesquisas sobre o assunto mostraram que há várias vantagens em trocar as rações por uma mistura de carne e vegetais, que os próprios humanos gostariam de comer – e que fazem os cães defecarem muito menos.
A pesquisa da Universidade de Illinois utilizou uma dúzia de beagles para receber uma dieta padrão com ração durante quatro semanas, e os caninos tiveram que comer muito mais para manter o peso, indo defecar até três vezes mais do que quando receberam a dieta de ingredientes de qualidade humana.
Isso mostra que os itens frescos da dieta humana são mais fáceis de digerir. As últimas duas dietas montadas para os cães também parecem ter modificado as bactérias do intestino dos animais de uma forma que a ração não conseguia.
"Como mostramos em estudos anteriores, as comunidades microbianas fecais de cães saudáveis alimentadas com dietas frescas eram diferentes daquelas alimentadas com ração", disse a cientista nutricional Kelly Swanson, da Universidade de Illinois.
Segundo ela, “esses perfis microbianos únicos provavelmente foram devido a diferenças no processamento da dieta, na fonte dos ingredientes e na concentração e tipo de fibras dietéticas, proteínas e gorduras que são conhecidas por influenciar o que é digerido pelo cão e o que atinge o cólon para fermentação”.
Os resultados estão alinhados com pesquisas anteriores que descobriram que dietas de carne fresca ou crua também podem alterar o microbioma de um cão, mas outras análises ainda são necessárias.
Mais fáceis de digerir, mas não necessariamente mais saudáveis
Em 2018, Swanson havia observado oito beagles com dietas de ração, dieta assada sem grãos e dieta crua. Analisando atividade física, urina, fezes e sangue, os autores descobriram que dietas assadas eram mais fáceis de digerir do que ração. Tanto as dietas livres de grãos quanto cruas resultaram em níveis mais baixos de açúcar no sangue e níveis mais altos de gordura.
Porém, isso não significa necessariamente que esse tipo de alimentação é mais saudável. Há alguns anos, certos alimentos de cães sem grãos estavam ligados a uma forma de doença cardíaca canina, o que levou até a Assessoria Federal de Drogas dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) a alertar contra esse tipo de dieta.
O impacto ambiental também deve ser observado, já que se todos os cães comessem carne, peixes e vegetais de qualidade humana, as consequências para o meio ambiente seriam imensas.
Por isso, cientistas defendem que sejam trocadas as dietas de ração e alimentos de qualidade humana por dietas baseadas em insetos, que podem produzir 25 vezes menos gases do efeito estufa por km de agricultura do que a carne bovina, usando 47 vezes menos terra e 20 vezes menos água.
Para Swanson, enquanto uma dieta se mostrar segura e atender às necessidades do cão, ela é aceitável. “Para mim, o mais importante é testar esses novos formatos de dieta e produtos antes que eles estejam disponíveis comercialmente”, disse.