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Calor intensifica atendimentos médicos por dependência de álcool e drogas

Busca por atendimento médico devido ao vício em álcool ou à dependência química aumenta nos dias quentes, segundo estudo que analisa dados de 20 anos dos EUA

26 set 2023 - 20h49
(atualizado em 27/9/2023 às 11h28)
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Pela primeira vez, cientistas investigam a relação entre a temperatura média do dia e o número de atendimentos hospitalares relacionados com a dependência de álcool ou de drogas ilícitas. Pelo menos nos Estados Unidos, onde a pesquisa da Universidade Columbia foi realizada, os dias mais quentes coincidem com taxas mais altas na busca por atendimento médico emergencial associado com a dependência química.

Foto: StockSnap/Pixabay / Canaltech

Diante das mudanças climáticas e das ondas de calor mais frequentes — o que deve acontecer em todo o planeta, como prevê a Organização das Nações Unidas (ONU) —, esta pode ser uma potencial complicação para um problema de saúde pública já conhecido. É o que aponta o estudo publicado na revista científica Communications Medicine.

Número de atendimentos médicos por causa do vício em álcool ou drogas aumenta nos dias quentes (Imagem: Halfpoint/Envato)
Número de atendimentos médicos por causa do vício em álcool ou drogas aumenta nos dias quentes (Imagem: Halfpoint/Envato)
Foto: Canaltech

"Observamos que durante os dias com temperaturas mais elevadas, há um aumento nas visitas ao hospital relacionadas ao uso [abusivo] de álcool e de outras substâncias, o que chama a atenção para as consequências menos óbvias das mudanças climáticas", afirma Robbie M. Parks, professor assistente da universidade e um dos autores do estudo, em nota.

Dias quentes e os efeitos nos viciados em álcool

Para determinar a relação entre os dias quentes e a busca por ajuda médica em hospitais, os pesquisadores analisaram dados coletados entre os anos 1995 e 2014 no estado de Nova York. Entre as possíveis causas pelo atendimento, foram considerados os usos abusivos de:

  • Álcool, como cervejas e outras bebidas alcoólicas;
  • Cannabis ("maconha");
  • Cocaína;
  • Opioides, como fentanil;
  • Medicamentos sedativos.

Neste intervalo de 20 anos, foi possível rastrear 671 mil atendimentos associados ao uso abusivo de álcool e outros 721 mil atendimentos relacionados ao uso de drogas ilícitas ou de medicamentos sem prescrição médica. Em paralelo, eles analisaram um registro abrangente das temperaturas diárias e a umidade relativa do ar no estado norte-americano.

Após cruzar os dados e usar um modelo estatístico para gerar novas percepções, os pesquisadores perceberam que os dias quentes coincidiam com os números em que a demanda por atendimento médico relacionado a algum tipo de vício se intensificava. Esta relação foi mais forte com o álcool que com as outras drogas analisadas.

Impacto das mudanças climáticas na saúde pública

"O nosso trabalho destaca como as visitas hospitalares devido a distúrbios relacionados com o álcool e outras substâncias são atualmente afetadas por temperaturas elevadas, e podem ser ainda mais afetadas pelo aumento das temperaturas, resultante da crise climática", afirmam os autores, no artigo.

Em outras palavras, os pesquisadores sugerem que, se as mudanças climáticas tornarem os dias mais quentes e as ondas de calor mais comuns, pode se consolidar uma nova demanda pelos atendimentos médicos relacionados ao abuso de substâncias químicas, como álcool e drogas. Isso sem contar o risco à saúde desses indivíduos em situação de vulnerabilidade.

O que explica a maior busca por atendimento médico nos dias mais quentes?

Aqui, é preciso pontuar que o estudo identificou apenas a relação entre os dois pontos — o calor e os atendimentos médicos —, mas não conclui qual é a causa. Para explicar a associação, os pesquisadores têm algumas teorias, como: nos dias quentes, o efeito da desidratação é maior e o uso do álcool pode acelerar ainda mais o processo, o que pode representar complicações para a saúde.

Crise climática pode intensificar complicações de saúde em dependentes químicos (Imagem: NomadSoul1/Envato)
Crise climática pode intensificar complicações de saúde em dependentes químicos (Imagem: NomadSoul1/Envato)
Foto: Canaltech

Por outro lado, em dias mais quentes, as pessoas podem dirigir mais sob influência de substâncias que alteram a mente e sofrerem mais acidentes — porém, a causa que levou a busca pelos atendimentos não foi analisada. Em outra hipótese, o clima mais agradável pode ser apenas um incentivo direto para o uso de drogas.

Outra observação feita pelos autores é que a relação pode ser maior que a apontada. Se o clima for determinante para os problemas de saúde relacionados ao uso de álcool e outras drogas, é possível que uma parcela significativa das complicações não tenham sido registradas por resultarem em óbitos imediatos — sem passagem pelo hospital.

Diante dessas possibilidades, os cientistas sugerem que mais estudos sejam desenvolvidos nessa área. A partir dos dados já óbitos, alguns programas governamentais podem ser desenhados para prevenir os incidentes, como uma postura pró-ativa de campanhas contra o uso de substâncias ilícitas dias antes da elevação das temperaturas.

Fonte: Communications Medicine e Universidade Columbia  

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