Com menos filas, campuseiros e seguranças têm menos atrito
Os seguranças da Campus Party Brasil estão enfrentando menos reclamações e agressões verbais neste ano, uma vez que as filas para entrar e sair na arena do evento, no Parque Anhembi, estão menores. Segundo o chefe da segurança, Iaci Xavier, as filas foram reorganizadas, com novas orientações para quem está sem mochila e sem equipamento, o que diminui o tempo de espera.
Infográfico: Saiba o que pode e o que não pode levar para a arena da Campus Party
"Na segunda e na terça-feira foi quando houve mais situações, depois o pessoal se acostumou, entendeu o procedimento", conta Xavier. Ele lembra que os profissionais que trabalham nas entradas e saídas da maior festa geek do planeta tiveram dois dias de treinamento exclusivo para cuidar da segurança do evento.
Em cada porta detectora, há três profissionais trabalhando, e além deles há outros dois seguranças de apoio após a esteira, com detectores de metal portáteis, as "raquetes".
O que não entra
Segundo a segurança Maria Celia, que trabalha na porta de entrada, as pessoas são barradas, em geral, por portarem objetos cortantes, como facas, navalhas, estiletes e tesouras - inclusive as de unha. Pinças e bicos de pato - uma espécie de prendedor de cabelo - também estão proibidos. "Na quinta-feira, tentaram entrar até com punhais. E teve um dia que apareceu alguém com uma faca de carne de cozinha", lembra.
Quem porta esses objetos é orientado a procurar a produção do evento e deixá-los por lá. Os artigos ficam guardados até a pessoa ir embora. Quem trabalha na Campus Party e precisa entrar com as ferramentas vai ao mesmo local e consegue uma autorização especial.
Também não entram na arena do evento garrafas ou copos de vidro, e as únicas canecas de cerâmica autorizadas são as que foram dadas como brindes dentro da festa geek. No caso de latas, valem refrigerantes, sucos, energéticos – bebida alcoólica, nem pensar. "Se vemos uma lata e não temos certeza, pedimos que a pessoa tire da mochila. E no caso de garrafas de água com o lacre rompido, pedimos para abrir e cheiramos", explica a segurança. O evento permite a participação de menores de idade e por isso não é permitido o consumo de bebidas alcoólicas.
Na entrada, não há muitas situações de atrito, afirma Maria e a colega Abadias Lurdes. "Considerando a quantidade de pessoas, não são tantas reclamações, e o pessoal procura colaborar", diz Abadias. As duas ponderam que os profissionais da segurança também buscam agilizar o processo, para que os participantes não precisem ficar muito tempo na fila.
Além do scanner, elas também trabalham com as raquetes, uma verificação dupla além da porta controladora. "Focamos nas costas e abdômen, que é onde é possível esconder algo. Se apita no bolso, em geral é celular", diz Abadias, lembrando que, mesmo assim, em caso de dúvida, as seguranças podem pedir que a pessoa mostre o objeto que disparou o alarme do detector.
Desentendimento
Xavier detalha que as principais situações de atrito com participantes do evento são quando eles desejam sair mas não cadastraram o equipamento. Em geral, é o próprio segurança quem lida com a situação. "Mas se a pessoa se exalta, interfiro e converso em reservado, logo a pessoa se acalma", diz o chefe da segurança.
Trabalhando na porta de saída, Gabriel de Oliveria Campos concorda, e pela observação diz que os mais jovens em geral são mais "tranquilos" e entendem as orientações sobre a necessidade de cadastrar o equipamento. "Os mais velhos é que se irritam mais, dizem que é 'uma palhaçada', mas a gente não deixa passar do mesmo jeito", conta.
Violência física ele e os colegas dizem que nunca precisaram enfrentar, "mas a verbal é muito frequente", completa a segurança Janaina Rodrigues. Na porta de saída, a necessidade de registro dos notebooks gera um número maior de pessoas barradas. "As pessoas querem o direito delas, mas esquecem do nosso dever, é nosso trabalho garantir a segurança", comenta Janaina. "Muitos tentam facilitar o nosso trabalho, mas alguns causam constrangimento", completa.
"Os palestrantes e a imprensa são os que mais reclamam, não querem pegar fila, mas precisam passar", continua Campos. O mais complicado, para ele, é quando o problema é com alguém que não fala português. "Quando eles dizem 'no portuguese' ('não português', em tradução literal), a gente chama alguém da organização ou acompanha até as mesas de registro", explica.
Histórias de segurança
Passando 12 horas por dia na segurança das entradas e saídas, esses profissionais acabam vivenciando situações engraçadas e estranhas. Campos diz que o mais esquisito que já viu foi um rapaz que tentou entrar com uma chave de roda - usada para trocar pneus. "Não sei para o que ele ia usar isso lá dentro", comenta. A ferramenta não entrou.
Xavier lembra o caso de uma senhora que foi barrada na saída por não ter cadastrado o computador. "Ela tirou todos os documentos da mochila dizendo que o equipamento era dela, me mandou para todos os lugares possíveis e imagináveis, e depois recolheu tudo e foi lá cadastrar o notebook", lembra Xavier.
Maria teve de encarar duas penetras nesta semana. Elas exibiram o crachá mas a segurança desconfiou que as credenciais não eram das jovens. "Nesses casos, a gente pergunta qual é o RG. Se for a pessoa, nem vai olhar para a tela, vai falar de cabeça. Essa moça disse que tinha esquecido a carteira no carro, e logo a amiga dela confessou que elas estavam com crachás emprestados", conta. Sem poder entrar as jovens foram embora, mas voltaram algum tempo depois e a situação se repetiu. "Elas acharam que a gente não ia lembrar do rosto, porque são muitas pessoas que passam aqui", diz Maria. "As pessoas que entram e saem muito a gente procura lembrar e fica ainda mais atento para ver se quem está entrando é mesmo o dono do crachá", completa Abadias.