"Todos deveriam usar ferramentas de pirataria e contravenção", diz EFF
EFF: 'todos devem usar ferramentas de pirataria e contravenção'
A diretora de ativismo da Electronic Frontier Foundation (EFF), organização que defende a liberdade de expressão e direitos civis, afirmou nesta quarta-feira que "todos nós devemos usar programas de pirataria e contravenção". Em palestra no palco principal da Campus Party Brasil, Rainey Reitman afirmou que o uso desses serviços não deve ser só em momentos de gosto ou necessidade, mas constante, porque um maior volume de usuários ajuda a dificultar identificar pessoas específicas, o que significa "proteger aqueles que realmente precisam dessas ferramentas".
A primeira parte da conversa com os campuseiros no Parque Anhembi foi dedicada a detalhar as diferentes formas de censura e vigilância que os governos usam, segundo Rainey, para "espionar ilegalmente os cidadãos". "Em muitos países, incluindo muitas democracias, essa vigilância é feita sem o conhecimento do público", alertou a diretora de ativismo da EFF.
Para pensar no contra-ataque que os usuários podem fazer às atividades consideradas cerceadoras da liberdade de expressão online - tema central da palestra -, Rainey também lembrou que há "espaços na internet controlados por empresas", que são essas companhias que fazem as escolhas sobre os direitos dos usuários da web.
"As pessoas tem usado e-mail, serviços de mensagem instantânea - inclusive aqueles dentro de rede sociais -, e falado sobre tudo de suas vidas, famílias, religião, negócios. Mas esses dados podem ser interceptados", argumentou. A diretora de ativismo da EFF também citou programas usados por governos para interceptar essas comunicações interpessoais e depois usá-las para perseguir ativistas.
Além das ferramentas, Rainey mencionou estratégias estatais para coibir a expressão de ideias opostas às dos que estão no poder. Entre elas, disse, está a de dificultar o acesso à internet. Mas elas podem ser mais sutis também, continua, como a da China, em que o governo incentivou sites nacionais "clones" do Facebook e do Twitter, proibidos no país. "Como há alternativas nacionais e todo mundo as usa, os chineses tentam menos ativamente acessar os sites internacionais!", detalhou. A diretora da EFF ainda mencionou a "privatização da censura estatal", caso em que empresas particulares autocensuram seus sites para que não sejam bloqueados por mecanismos censores como o chinês.
Rainey lembrou os protestos contra o Sopa e o Pipa, projetos de lei americanos que permitiriam tirar do ar sites como Facebook e YouTube se algum usuário infringisse direitos de autoria. Por causa de pressão popular, online e nas ruas, os dois projetos foram abandonados. Para ela, os resultados da mobilização dos usuários são uma esperança para o futuro da internet.
Contra-ataque
A diretora de ativismo da EFF encerrou a palestra indicando ferramentas para quem quer combater a censura e a vigilância online. A primeira mencionada é o Tor, que mascara o endereço de IP do usuário ao transmitir dados por servidores aleatórios espalhados pelo mundo. Rainey lembrou que durante a Primavera Árabe o uso da rede cresceu exponencialmente, graças aos ativistas que tentavam se esconder no espaço virtual. Ela também explicou que, como o sistema depende de 'nós' voluntários, quem quiser ajudar também pode se dispor a ser um nó, o que permitiria à rede ser mais rápida e angariar mais usuaários.
Para evitar ter as mensagens instantâneas gravadas pelas empresas que oferecem serviços de bate-papo, quando os dados passam por seus servidores, ela indicou o Pidgin. "Os dados são encriptados antes de serem enviados ao servidor do serviço, então mesmo que as empresas entreguem esses dados ao governo, ele não cosneguirá ler o que você escreveu", detalhou. "O programa tem bugs, mas não podemos também lutar sozinhos, precisamos que a comunidade de segurança se junte a nós", conclamou.
A terceira sugestão é a extensão HTTPS Everywhere, para Google Chrome e Mozilla Firefox, que também serve para encriptar a comunicação entre o computador do usuário e os servidores dos sites que acessa. Mas, lembrou Rainey, é preciso que os donos dos sites habilitem a opçção de uso do HHTPS. Por isso, ela citou como forma de ativismo, também, entrar em contato com as empresas cujos sites o usuário acessa para que elas habilitem a opção em suas páginas na internet.
Por fim, Rainey falou do TOSBack, ferramenta de rastreamento de Termos de Serviço (TOS, na sigla em inglês) de sites populares. O recurso busca esses sites e faz uma cópia dos termos de serviço, "que mudam muito" e muitas vezes sem que o usuário saiba ou se dê conta. É uma plataforma open source, mas que no momento está desativada, segundo a diretora da EFF, porque as empresas têm tentado dificultar o acesso da ferramenta aos Termos de Serviço. Na noite desta quarta-feira uma maratona hacker buscará uma forma de conseguir reativar a plataforma.
Após a palestra, Rainey foi questionada sobre o Marco Civil brasileiro, e reforçou a importância de "os usuários de internet se envolverem nessas discussões". Ela também defendeu a criação de uma organização de defesa da liberdade de expressão online, no estilo da EFF, em terras verde-amarelas. "Preciso de mais pessoas com quem trabalhar aqui no Brasil", concluiu.
Campus Party Brasil 2013
A sexta edição da Campus Party Brasil, uma das maiores festas de inovação, tecnologia e cultura digital do mundo, acontece entre 28 de janeiro e 3 de fevereiro no Anhembi Parque, em São Paulo. Na Arena do evento, 8 mil pessoas têm acesso à internet de alta velocidade e a mais de 500 horas de palestras, oficinas e workshops em 18 temáticas, que vão desde mídias sociais e empreendedorismo até robótica e biotecnologia. Cinco mil desses campuseiros passam a semana acampados no local.
A 6ª edição traz ao Brasil nomes como o astronauta Buzz Aldrin, um dos primeiros homens a pisar na Lua, e o fundador da Atari, Nolan Bushnell. Em sua sexta edição em São Paulo, a Campus Party também teve no ano passado a primeira edição em Recife (PE). O evento acontece ainda em países como Colômbia, Estados Unidos, México, Equador e Espanha, onde nasceu em 1997.
Nas edições brasileiras anteriores, o evento trouxe ao País nomes como Tim Berners-Lee, o criador da Web; Kevin Mitnick, um dos mais famosos hackers do mundo; Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos; Steve Wozniak, que fundou a Apple ao lado de Steve Jobs; e Kul Wadhwa, diretor-geral da fundação Wikimedia,que mantém a Wikipédia.
O Terra cobre o evento direto do Anhembi Parque e, além do canal especial Campus Party Brasil 2013, os internautas podem acompanhar as novidades pelo blog Direto da Campus. Para seguir a festa pelo Twitter, basta acompanhar a hashtag oficial do evento, #cpbr6.