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Vício em smartphones gera Síndrome do 'Sempre Ligado'

Americano cria aplicativo para monitorar seu próprio uso de smartphone e equilibrar o tempo gasto com o celular e a família

16 ago 2014 - 20h50
(atualizado às 21h15)
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Síndrome do "sempre ligado" afeta pessoas que não conseguem largar de seus smartphones
Síndrome do "sempre ligado" afeta pessoas que não conseguem largar de seus smartphones
Foto: Thinkstock / BBC Mundo

Você está de férias, mas checa os e-mails do trabalho assim que acorda. E fica preocupado se o hotel não tiver um bom wi-fi ou se seu celular ficar sem sinal.

Esses são típicos indícios de que você pode sofrer do estresse conhecido como "sempre ligado", que afeta pessoas que não conseguem largar de seus smartphones.

Para alguns, os aparelhos os liberaram de uma rotina rígida no escritório. As horas de trabalho ficaram mais flexíveis, dando mais autonomia ao funcionário. Para outros, no entanto, os smartphones se transformaram em verdadeiros tiranos dentro do bolso, impedindo que seus usuários se desconectem do trabalho.

E essa dependência torna-se cada vez mais preocupante, segundo observadores.

O americano Kevin Holesh estava tão preocupado com o fato de ignorar cada vez mais parentes e amigos por conta de seu iPhone que criou um aplicativo - Moment - para monitorar seu próprio uso.

O aplicativo lhe permite contar a quantidade de tempo gasta no smartphone e adverte se esse uso ultrapassar limites que Holesh se autoimpôs.

"O objetivo é promover o equilíbrio na vida", diz seu site. "(Passar) um tempo no telefone e um tempo sem ele, aproveitando sua família e seus amigos."

Desligar

E alguns empregadores estão percebendo que não é muito fácil manter esse equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Alguns precisam de ajuda externa.

A montadora alemã Daimler, por exemplo, recentemente passou a oferecer um "apagador" automático de e-mails para funcionários em férias, reconhecendo que muitos têm dificuldade em se desligar do trabalho.

"Os impactos negativos dessa cultura do 'sempre ligado' são que a sua mente nunca descansa, você não dá ao seu corpo o tempo para se recuperar e fica sempre estressado", disse à BBC a psicóloga ocupacional Christine Grant, do centro de pesquisas em psicologia e comportamento da Universidade Coventry (Grã-Bretanha).

"E, quanto mais cansaço e estresse, mais erros cometemos. A saúde mental e física pode sofrer."

O fato de podermos estar conectados ao trabalho em qualquer lugar do mundo está fomentando inseguranças, prossegue Grant.

"Há uma enorme ansiedade quanto a delegar", diz. "Na minha pesquisa, encontrei diversas pessoas exaustas porque viajavam conectadas o tempo todo, independentemente do fuso horário em que estivessem."

As mulheres causam preocupação em especial: muitas passam o dia trabalhando, voltam para casa para cuidar dos filhos e ainda fazem uma jornada extra no computador antes de dormir.

"Essa jornada tripla pode ter um grande impacto na saúde", opina Grant.

Adoecendo

O presidente da Sociedade Britânica de Medicina Ocupacional, Alastair Emslie, concorda, alegando que centenas de milhares de britânicos relatam anualmente sofrer de estresse no trabalho - a ponto de adoecerem.

"As mudanças tecnológicas contribuem para isso, sobretudo se fizerem os funcionários se sentirem incapazes de lidar com as crescentes demandas ou perderem o controle sobre sua carga de trabalho."

Dados indicam que os britânicos passam até 11 horas diárias consumindo mídias; e o Brasil tem um dos maiores índices globais de uso diário de smartphones (cerca de uma hora e meia).

E, com o crescimento no número de smartphones, cresce também a quantidade de dados à nossa disposição - o que pode levar a uma espécie de paralisia, argumenta Michael Rendell, que trabalha com a consultoria PwC.

"Isso cria mais estresse no ambiente de trabalho porque as pessoas estão tendo de englobar uma quantidade maior de informações e meios de comunicação, e é difícil gerenciar tudo. Torna-se mais difícil tomar decisões, e muitos perdem produtividade por estarem sobrecarregados e sentirem que nunca escapam do trabalho."

"Achamos que ficar checando e-mails é trabalhar, mas muitas vezes não é algo produtivo", argumenta o advogado britânico Tim Forer.

Ele explica que a checagem constante de e-mails fora do escritório pode, em alguns casos, desrespeitar legislações trabalhistas. "Isso coloca em risco o dever da empresa em zelar por seus empregados", diz.

Disponíveis

Uma pesquisa da empresa de TI SolarWinds diz que mais da metade dos trabalhadores entrevistados sente que é esperado que eles trabalhem mais rápido e cumpram prazos menores por estarem mais conectados. Quase a metade deles acha que seus empregadores esperam que eles estejam disponíveis a qualquer hora ou lugar.

Claro que nem tudo é negativo. Chris Kozup, diretor da empresa de telecom Aruba Networks, diz que um estudo conduzido pela própria empresa "mostra que essa ideia de estar 'sempre ligado' está, na verdade, ajudando os trabalhadores a gerenciarem o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal".

A chave é fazer com que essa flexibilidade aja em seu favor e ser disciplinado quanto ao uso de smartphones.

Ou seja, se você vai sair de férias, lembre-se de ativar os alertas que avisarão que você estará "fora do escritório", de desligar seu telefone e mantê-lo longe do alcance quando for dormir. E o conselho de Christine Grant é: lembre-se de que "raramente você é o único capaz de resolver um problema" no escritório.

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