Cérebro da mãe realmente muda para receber o bebê, diz estudo
Pesquisa aponta ligação entre surtos de hormônios da gravidez e mudanças na arquitetura em áreas do cérebro
Uma pesquisa publicada nesta terça-feira (22) na revista científica Nature descobriu que durante a gravidez o cérebro da mãe realmente parece mudar para acomodar o bebê. Segundo os resultados, o período que causa uma “névoa mental” — comumente chamado de “cérebro do bebê” — não é apenas resultado de desconforto, estresse hormonal e noites sem dormir.
O novo estudo foi realizado por pesquisadores holandeses da Universidade de Leiden e aponta ligação entre surtos de hormônios da gravidez e mudanças na arquitetura em áreas do cérebro envolvidas com contemplação e devaneios.
De acordo com a pesquisa, as alterações podem ser a maneira da natureza ajudar as mães a se relacionarem com a nova mudança.
Durante a gravidez, uma mulher é exposta a uma inundação incomparável de hormônios. A ciência já sabe que os períodos de distração durante a gravidez são universais, informalmente descritos com termos como "cérebro de mamãe" e "mamnésia".
No entanto, por mais comum que o fenômeno pareça, os efeitos sutis têm sido notoriamente difíceis de medir.
Elseline Hoekzema, neurocientista de Leiden, pesquisou as mudanças neurológicas que acompanham a gestação humana e animal por vários anos. Em 2016, ela havia mostrado como a gravidez coincidiu com reduções significativas na massa cinzenta, o tecido que transmite mensagens e conduz os cálculos do cérebro.
Mapeando os cérebros das mães
Nesta última análise, a pesquisadora analisou o mapa cerebral de 40 mães com ajuda de ressonância magnética. Com seus colegas, Hoekzema realizou os exames durante a pré-gravidez e pré e pós-parto, incluindo imagens de um ano inteiro após o parto do bebê.
Os resultados foram comparados com imagens semelhantes tiradas de uma amostra de 40 mulheres que não estavam grávidas no momento do estudo.
Na pesquisa, os hormônios foram testados por meio de amostras coletadas da urina a cada duas a quatro semanas durante a gravidez do grupo de teste. O emocional das mães em relação aos bebês — como comportamentos de nidificação (quando uma espécie animal faz seu ninho), padrões de sono e níveis de angústia psicológica — foram analisados por meio de pesquisas e questionários.
Das 40 voluntárias, 28 concluíram o estudo e os pesquisadores observaram que os hormônios da gravidez não apenas ajustam as células "pensantes" do cérebro: eles parecem mudar a maneira como as redes cerebrais se conectam.
Mudanças hormonais nas grávidas
De acordo com os pesquisadores, as alterações são mais evidentes entre as regiões do cérebro conhecidas coletivamente como rede de modo padrão, que é ativada quando há mudança de foco do mundo exterior para os pensamentos internos.
Apesar de já ser sabido que hormônios sexuais como o estrogênio e a testosterona influenciam nossas conexões neurológicas, o novo estudo demonstra a maneira como os hormônios flutuantes da gravidez, como o estradiol, exercem uma influência forte sobre regiões específicas do cérebro.
Para os cientistas, essas descobertas sugerem que "as mudanças neurais da gravidez podem criar um plano que facilite o desenvolvimento subsequente do relacionamento mãe-bebê, que poderia ser potencialmente reforçado pela interação com o bebê”, escrevem.