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Choquei: falta legislação para combater as fake news no Brasil?

Jessica Canedo, de 22 anos, morreu após ter prints de conversas falsas com Whinderson Nunes divulgados pela página Choquei

26 dez 2023 - 16h16
(atualizado em 27/12/2023 às 10h16)
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Página de fofocas na internet divulgou falsas conversas entre jovem de 22 anos e o humorista Whinderson Nunes
Página de fofocas na internet divulgou falsas conversas entre jovem de 22 anos e o humorista Whinderson Nunes
Foto: Instagram/Choquei / Pipoca Moderna

A morte da jovem Jessica Canedo, de 22 anos, reacendeu a discussão sobre a urgência da regulamentação nas redes sociais contra a propagação de fake news. Jessica morreu após ser mais uma vítima de notícias falsas que se espalharam na internet. O perfil Choquei, presente no Twitter/X e Instagram, divulgou um suposto affair da moça com o humorista Whindersson Nunes. Ambos negaram que teriam um relacionamento. 

Na semana passada, prints de uma conversa falsa entre Jessica e o comediante foram publicadas pelo perfil de fofocas de celebridades, que tem milhões de seguidores nas redes sociais. Com a repercussão, a mulher começou a receber ataques nas redes.

No dia 22 de dezembro a mãe da jovem emitiu uma nota informando o falecimento dela, afirmando que "não resistiu a depressão e tanto ódio". 

Em entrevista ao Byte, a advogada especialista em Direito Digital e CTO da consultoria de proteção de dados DataLegal, Camila Studart, afirmou que o caso já é punível pela nossa legislação e mesmo assim foi praticado.

"Se já tivéssemos uma regulamentação eficaz e tipos penais específicos, certamente os criadores do conteúdo teriam pensado duas vezes antes de produzir uma imbecilidade dessas".

"E, se mesmo assim tivessem publicado, a plataforma teria tido a obrigação legal de se comportar de forma diferente e muito provavelmente não teria tomado a proporção que tomou, culminando na morte de uma jovem", complementou a advogada. 

PL das Fake News

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva espera que o Congresso retome em 2024 o projeto de lei PL 2630/2020 para regular as redes sociais no país, conhecido como PL das Fake News, disse à Reuters o secretário nacional de Políticas Digitais, João Brant.

No entanto, o debate sobre plataformas digitais pagarem por conteúdos jornalísticos e direitos autorais ainda barra o avanço da proposta, segundo Brant e o relator do projeto, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP).

O texto está parado na Câmara dos Deputados desde maio, quando Silva pediu ao presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), o adiamento da votação diante da falta de apoio para aprovação, depois que plataformas de redes sociais se mobilizaram para barrar a proposta.

De acordo com Silva, a regulação das redes sociais "não vai evoluir" sem um acordo sobre a remuneração pelas empresas de tecnologia. Leia os destaques e polêmicas da PL das Fake News

Jessica e Whinderson negaram relacionamento, afirmando, inclusive, que nem se conheciam
Jessica e Whinderson negaram relacionamento, afirmando, inclusive, que nem se conheciam
Foto: Mais Goiás

Quem se responsabiliza pela morte?

Ao comentar sobre a responsabilidade por este caso, Studart diz que ainda é prematuro imputar as responsabilidades antes do término das investigações.

Contudo, pelas informações já divulgadas, diversos podem ser os responsáveis por essa tragédia, "incluindo os criadores e disseminadores da notícia falsa, por diversos crimes como difamação, injúria e induzimento, instigação ou auxílio a suicídio, além da responsabilidade na esfera civil". 

"É um perfil que possui, hoje, mais de 20 milhões de seguidores, vive da exposição da vida alheia e precisa arcar com as consequências da “monetização do sofrimento”, como citou o Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida", disse a especialista.

Também a plataforma deverá ser responsabilizada na medida de sua culpa, acrescenta a advogada. "O perfil @choquei ainda está ativo, o que demonstra o completo desprezo da Meta [dona do Instagram] a esse caso". 

Além disso, a especialista destaca que "todos aqueles que atacaram a jovem, como ela mesma escreveu antes de morrer, com discursos de ódio, classismo, xingamentos e ameaças, deverão ser exemplarmente responsabilizados e punidos, nas esferas cível e criminal". 

O Byte entrou pediu esclarecimentos à Meta, ao X (ex-Twitter) e à página Choquei, e mantém o espaço aberto para o posicionamento. 

Entenda o caso

Na semana passada, prints de uma conversa falsa entre Jessica e o comediante Whindersson Nunes foram publicadas pelo perfil da Choquei, que tem milhares de seguidores nas redes sociais.

Com a repercussão da divulgação dos prints, a moça começou a receber ataques nas redes.

A jovem criou um perfil para negar o relacionamento e em um texto que publicou se posicionando, pediu: "Parem de vir até o meu perfil destilar tanto ódio. Vocês estão falando da minha aparência, da minha classe social, xingando minha família. Pensem nas consequências do que estão fazendo".

O responsável pela página que havia feito as postagens, no entanto, ironizou o texto. "Avisa pra ela que a redação do ENEM já passou. Pelo amor de Deus!", disse Raphael Souza em um comentário no Instagram em seu perfil pessoal (@raphaelsoux).

No perfil de Ines Oliveira, a mãe de Jéssica, foi publicada uma nota de falecimento no dia 22 de dezembro. "É com pesar que informamos que nessa manhã do dia 22/12 a Jéssica não resistiu a depressão e tanto ódio e veio a óbito".

A mãe relatou à Record que a filha, que já sofria de depressão, sofreu muito com os ataques que recebeu na internet. "Ela chegava aqui chorando [e falando]: 'Mamãe pede para eles pararem, porque eu não estou aguentando, faz alguma coisa'. O que eu podia fazer? Eu só gravei um vídeo pedindo para eles pelo amor de Deus que parassem porque se eles tivessem parado, capaz que a minha filha hoje estaria aqui", lamentou Inês.

Após a morte de Jessica, a Choquei apagou as postagens sobre conversas falsas e afirmou não ter responsabilidade pelos atos praticados. No dia 23 de dezembro, a página emitiu um comunicado assinado pela advogada e ex-BBB Adelia Soares.

"Em relação aos eventos que circulam nas redes sociais e que foram associados a um trágico evento envolvendo a jovem Jéssica Vitória Canedo, queremos ressaltar que todas as publicações foram feitas com os dados disponíveis no momento e em estrito cumprimento das atividades habituais decorrentes do exercício do direito à informação", dizia o texto.

Como se respaldar contra fake news na internet?

Ao Byte, Camila Studart, da DataLegal, explica que a vítima de fake news deve coletar o maior número de provas possível, da maneira correta, o que inclui a preservação de prints (sem manipulação ou cortes) e o salvamento da URL da informação falsa.

"É importante que a pessoa dê a devida validade jurídica a esse material, assim, pode ir até um cartório para obtenção de uma ata notarial, ou, como alternativa à ata notarial, se utilizar da Verifact, plataforma online de registro de provas que atende as normas forenses e os princípios de coleta e preservação da cadeia de custódia", explicou a advogada.

Em caso de fake news em redes sociais, é importante denunciar para a plataforma e registrar prova disso, sempre.

"Um boletim de ocorrência também deve ser feito e notificações para remoção de conteúdo também devem ser realizadas, dentre outras ações, por isso, é importante o acompanhamento de um advogado especialista desde o início", afirmou Camila Studart. 

Importante: Se você está passando por crises emocionais e precisa de ajuda, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), que promove apoio e prevenção ao suicídio. O telefone do CVV é 188. Caso presencie um caso de emergência médica, entre em contato com o Corpo de Bombeiros (193) ou com o Samu (192).

Fonte: Redação Byte
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