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Chuvas intensas no Rio Grande do Sul: como a ciência explica esses fenômenos

Região sofre com enchentes e alagamentos; até o momento, 24 pessoas morreram

2 mai 2024 - 14h33
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Parte do Morro do Cechella, no bairro Itararé, em Santa Maria (RS), deslizou devido as chuvas
Parte do Morro do Cechella, no bairro Itararé, em Santa Maria (RS), deslizou devido as chuvas
Foto: Divulgação/Prefeitura de Santa Maria

Desde a última sexta-feira (26), o Rio Grande do Sul sofre temporais extremos e com a passagem de uma frente fria que provocou a estragos e alagamentos.

A previsão da meteorologia para a região Sul do Brasil nos próximos continua a ser de chuva intensa. O RS, Junto com Santa Catarina, pode sofrer casos de microexplosão nesta quinta-feira (2).

Esse evento a ocorre quando uma corrente de vento extremamente forte se desprende de uma nuvem de tempestade e se dirige em direção ao solo. Esse fenômeno pode causar danos significativos na área afetada.

Com resultado das chuvas, até o momento 24 pessoas morreram e 21 estão desaparecidas na região Central no RS, de acordo com as últimas atualizações da Defesa Civil e da Polícia Civil. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) informou que essa situação deve continuar até a próxima segunda-feira (6). 

Os fenômenos que aconteceram nos últimos dias não são novos na região. Em setembro de 2023, o Rio Grande do Sul estava em estado de alerta devido à passagem de um sistema de baixa pressão, mas se intensificou e tornou-se um ciclone extratropical, que acabou devastando várias cidades e resultou na perda de pelo menos 50 vidas. 

Com casos extremos se repetindo, é inevitável procurar por respostas do porquê isso acontece. 

O que causa os eventos

Para o evento específico que está acontecendo no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina nesta semana, é importante entender que há três fenômenos ocorrendo ao mesmo tempo: 

  • A atuação de um sistema de baixa pressão conhecido como “Cavado”, geralmente está associado a condições de mau tempo, como chuvas, ventos fortes e instabilidade atmosférica;
  • Um corredor de umidade vindo da Amazônia diretamente para o Sul do país;
  • Bloqueio atmosférico resultante da onda de calor, que causou o interior do país a ficar seco e quente, enquanto a chuva se concentrava nas regiões extremas do país.

Esses fatores combinados contribuíram para as chuvas extremas nos últimos dias, que favorecem a ocorrência de chuvas intensas, resultando em alagamentos, enxurradas e deslizamentos de terra.

Esse bloqueio atmosférico vem de uma área de alta pressão no centro-leste do país, que colabora na hora de manter o tempo seco e quente na região Central e Sudeste do país, mas ainda, também leva ar quente para a região Sul. 

Qual a diferença entre El Niño e La Niña? Qual a diferença entre El Niño e La Niña?

“Este ar quente, muito intenso para a época, contrasta com o ar frio que está represado sobre a Argentina, gerando grandes e fortes instabilidades sobre o RS e SC, algo mais típico de primavera, mas que está acontecendo agora no outono”, disse ao Byte Vinícius Lucyrio, meteorologista da Climatempo.

Segundo ele, o El Niño, mesmo enfraquecido, tem uma parcela de culpa, já que favorece chuvas extremas no Sul do país.

Mudanças climáticas

De acordo com Lucyrio, a principal causa desses eventos extremos que vêm acontecendo no país é uma consequência da instalação do El Niño, que começou em junho do ano passado. 

“O El Niño forte que se instalou desde junho passado, e favoreceu seca extrema na Amazônia, chuvas excessivas no Sul, atraso da regularidade das chuvas de verão em todo o Centro-Oeste e Sudeste, além das grandes ondas de calor”, explicou.

Ele destaca que com o aumento da temperatura no Oceano Atlântico em toda a porção tropical, numa extensa área, favorece a formação e manutenção de mais bloqueios atmosféricos agora durante o outono.

A condição também armazena muito calor. Isso aumenta a dificuldade da entrada de frentes frias no Sudeste, eventualmente as “prendendo” no extremo Sul. Isso causa os excessos de chuva no mesmo período que o Sudeste se encontra num calor histórico, segundo o meteorologista. 

“O aquecimento global, que diminui o tempo de recorrência de eventos extremos de chuva, seca e calor, passam a ocorrer com intervalos menores entre os eventos, em maior duração, em maiores áreas, com maior intensidade e 'fora' dos períodos típicos”, afirmou.

Previsões para o meio do ano e a influência de La Niña

Atualmente, não estamos sob a influência do fenômeno La Niña no Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Mas isso pode mudar, segundo o meteorologista Piter Scheuer.

“A perspectiva é que, a partir da metade do ano, tenhamos um quadro de seca no Sul do Brasil e chuvas mais intensas no nordeste do país devido ao La Niña, que fortalece os ventos no oceano Pacífico equatorial, resfriando-o e intensificando o fenômeno, podendo até causar um super La Niña”, disse o Scheuer ao Byte.

Lucyrio destaca que dentro de um cenário de aquecimento planetário, o aumento das temperaturas do Atlântico tropical se torna um fator importante na formação de bloqueios atmosféricos no centro-leste do país, dentro dos períodos de estiagem (entre abril e setembro), em especial no Sudeste e Centro-Oeste. 

Com os bloqueios continuamente barrando as frentes frias no Sul, os cenários de previsão apontam uma tendência de aumento na pluviosidade média na região. Ou seja, é possível prever que eventos extremos de chuva como os que estão acontecendo agora se repitam com mais frequência, em um menor intervalo de tempo.

Dificuldade na previsão

Scheuer acredita que atualmente, um dos desafios da previsão meteorológica é a escassez de dados, pois há várias estações meteorológicas desativadas, com problemas de manutenção ou falta de verba. 

“Todos os equipamentos, como sondas, informações de temperaturas máximas e mínimas, velocidade do vento, radares e satélite, são essenciais para alimentar o banco de dados e melhorar a qualidade das projeções computacionais e matemáticas”, afirmou. 

Por outro lado, na visão de Lucyrio, hoje já existem softwares de modelos meteorológicos que simulam a atmosfera, seus movimentos e sua interação com diversos meios.

“Ao longo dos anos, os modelos estão ficando com resolução mais refinada, ou seja, conseguem detalhar melhor as feições dos terrenos, diminuindo, portanto, os erros embutidos”, disse. 

O meteorologista da Climatempo pontua que há dificuldades em relação a quantidade de dados nas condições iniciais destes modelos: “Se há baixa cobertura de medições de variáveis por estações meteorológicas, há maiores erros logo no início, mas é também algo que está melhorando ao longo dos anos.”

Para ambos, a pesquisa científica do clima é fundamental, especialmente por conta dos eventos climáticos extremos que agora acontecem com frequência.

“Dados meteorológicos detalhados, cientificamente estudados, incluindo variáveis como temperatura, umidade, pressão atmosférica e precipitação, são essenciais para prevenir e lidar com eventos extremos de forma mais eficaz”, disse Scheuer. 

O estudo de sistemas meteorológicos e oscilações são muito importantes para melhor compreensão do sistema climático, segundo Lucyrio.

“É algo que deve ser desenvolvido continuamente, pois permite visualizar particularidades dos mesmos e os efeitos provocados em cada região, bem como os efeitos para a população e para diversos tipos de negócios”, disse. 

Ele ainda ressalta que as pesquisas de clima futuro são essenciais, pois revelam uma previsão de como os eventos extremos vão se comportar e afetar a vida das pessoas, o que colabora na hora de encontrar formas de mitigação ou adaptação.

Fonte: Redação Byte
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