Ciência recria música do Pink Floyd com gravações de ondas cerebrais
Pesquisadores gravaram a atividade das regiões cerebrais ligadas à música enquanto pacientes ouviam "Another Brick in the Wall, Part 1"
Cientistas da Universidade de Berkeley, nos EUA, conseguiram reconstruir tom, ritmo, harmonia e palavras de uma música a partir da leitura de ondas cerebrais registradas em pacientes que ouviam a canção. O estudo foi publicado na revista Plos Biology na terça-feira (15).
A pesquisa, que se estendeu por mais de uma década e contou com a análise de dados de 29 participantes, é pioneira no feito — mas os pesquisadores afirmam que ainda falta um tanto para conseguirmos "ler mentes" de verdade.
Usando eletrodos colocados na superfície do cérebro, os neurocientistas gravaram a atividade das regiões cerebrais responsáveis por processar características musicais enquanto pacientes ouviam a icônica música "Another Brick in the Wall, Part 1" da banda Pink Floyd.
Depois de um minucioso processo de análise e processamento dos dados, o resultado final foi compartilhado. A frase "All in all it was just a brick in the wall" é identificada na reprodução, mantendo ritmo relativamente intacto.
Ouça reconstrução
O Dr. Robert Knight, neurologista e professor de psicologia do Instituto de Neurociência Helen Wills da UC Berkeley, classificou o resultado como "maravilhoso".
"Com o avanço das interfaces cérebro-máquina, essa pesquisa abre caminho para adicionar musicalidade a futuros implantes cerebrais para pessoas que precisam, como pacientes com ELA [doença que afeta o sistema nervoso de forma degenerativa e progressiva] ou outras condições neurológicas que comprometem a fala", disse.
Embora a pesquisa tenha sido realizada com eletrodos posicionados diretamente na superfície do cérebro, os cientistas acreditam que no futuro seja possível realizar registros semelhantes sem a necessidade de cirurgia, usando aparelhos sensíveis presos ao couro cabeludo.
"Técnicas não invasivas simplesmente não são precisas o suficiente hoje. Vamos esperar, para os pacientes, que no futuro possamos, apenas com eletrodos colocados fora do crânio, ler a atividade de regiões mais profundas do cérebro com uma boa qualidade de sinal. Mas estamos longe de lá", disse Ludovic Bellier, pesquisador da mesma universidade envolvido no projeto.
Bellier espera que interfaces cérebro-máquina mais avançadas possam decodificar palavras de maneira mais fluida. Atualmente, tecnologias só permitem a identificação de palavras de forma "robótica", na sua avaliação.
"No momento, a tecnologia é mais como um teclado para a mente", disse Bellier. "Você não pode ler seus pensamentos em um teclado. Você precisa apertar os botões", afirmou.
Os pesquisadores também confirmaram que o lado direito do cérebro está mais sintonizado com a música do que o lado esquerdo.
"A linguagem é mais do lado esquerdo do cérebro. A música é mais distribuída, com uma tendência para o lado direito", disse Knight.