2023: um ano de virada para as energias renováveis
Nos últimos 12 meses, mundo viu o crescimento da demanda por bombas de calor, energia solar e uma explosão na procura por baterias para a mobilidade elétrica.Para os especialistas, o ano de 2023 foi um divisor de águas para o cenário energético global, com fontes renováveis como a solar e a eólica e outras tecnologias inovadoras moldando um futuro mais sustentável.
Os combustíveis fósseis ainda abastecem cerca de 80% das necessidades energéticas do mundo, mas 2023 registrou avanços significativos no uso da energia renovável.
A Agência Internacional de Energia (AIE) reportou que a capacidade global de energia renovável teve o maior crescimento de todos os tempos este ano, chamando o aumento de "sem precedentes".
Energia solar como propulsor da transformação energética
"As energias renováveis estão se tornando cada vez mais baratas. Assim, pela primeira vez, mais investimentos estão sendo voltados para, por exemplo, a energia solar do que para a produção de petróleo", diz a professora Claudia Kemfert, do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica.
Como resultado, a energia solar superou as expectativas "mais uma vez", disse Gunnar Luderer, especialista em sistemas de energia do Instituto Potsdam de Pesquisa sobre o Impacto Climático (PIK), da Alemanha.
Segundo previsões, as novas instalações de energia solar em todo o mundo devem atingir este ano uma capacidade total de 400 gigawatts (GW). Em 2022, o aumento foi de 239 GW.
Cerca de 110 GW de energia eólica foi acrescida à rede em 2023, de acordo com a Associação Mundial de Energia Eólica.
Em 2023, também quatro novos reatores nucleares com uma capacidade total de 4 GW foram concluídos, enquanto cinco reatores com uma capacidade de 6 GW foram desativados na Alemanha, na Bélgica e em Taiwan.
Energia solar e eólica barateiam a eletricidade
O custo favorável da eletricidade proveniente de fontes renováveis foi um dos principais motivos por trás do forte crescimento das energias eólica e solar.
A eletricidade produzida por novas turbinas eólicas em terra custou, em média, 3 centavos de euro por quilowatt-hora (kWh) em 2022 em todo o mundo, segundo um relatório da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA).
A eletricidade produzida em grandes parques solares custou 4,5 centavos de euro por kWh - bem mais barato do que os combustíveis fósseis, que custam até 22 centavos de euro por kWh em todo o mundo.
O preço da eletricidade de novas instalações solares continuou a cair nos últimos 12 meses, principalmente porque os sistemas de energia solar se tornaram mais acessíveis. Na Europa, os custos foram 40% menores do que no ano passado.
Placas solares mais baratas, principalmente na China
O aumento da produção de placas solares na China foi um dos principais impulsionadores da queda dos preços. De acordo com o site ambiental Carbon Brief, do Reino Unido, o país produziu 600 GW de células solares este ano - 225 GW a mais do que em 2022. Até 2025, esse número poderá chegar a 1.000 GW.
A Índia, os EUA e a União Europeia (UE) também planejam investir mais em grandes fábricas de energia solar. Na Índia, os módulos com uma capacidade anual de 100 GW deverão ser fabricados em 2027, e as empresas da UE começarão a fabricar módulos de 30 GW em 2025.
"Isso está acontecendo mais rápido do que o esperado", disse Niklas Höhne, do NewClimate Institute, um think tank de Colônia, na Alemanha. "A energia fotovoltaica está sendo expandida com extrema rapidez. E, de fato, tão rapidamente a ponto de se alinhar com a meta de aquecimento [máximo] de 1,5°C [em relação aos níveis pré-industriais]."
Novas tecnologias para baterias e mais veículos elétricos
"O ano de 2023 pode entrar para a história como o ponto de virada para as baterias na transição energética global", acredita Christian Breyer, professor de economia solar da Universidade Técnica Lappeenranta (LUT), na Finlândia.
As baterias de lítio, cobalto e níquel estão bem estabelecidas, "mas agora as baterias de íons de sódio também estão sendo introduzidas no mercado", disse Breyer.
O lítio é raro e caro, enquanto o sódio para as novas baterias de íons de sódio é muito mais barato, e o suprimento é praticamente ilimitado, por exemplo, no sal de cozinha.
De acordo com a revista de negócios Clean Thinking, o preço das baterias de sódio já é 40% menor do que o das células de íons de lítio. Entretanto, elas ainda estão nos estágios iniciais de desenvolvimento comercial e atualmente representam menos de 1% das baterias. No futuro, o sódio poderá ser usado principalmente para baterias estacionárias.
Ainda assim, as baterias de íon-lítio comumente usadas estão se tornando mais baratas devido à queda do preço das matérias-primas.
As baterias são cada vez mais usadas em pequenos sistemas solares e em parques solares para armazenar eletricidade barata para uso noturno. Mais baterias também são necessárias à medida que a mobilidade elétrica se expande. A participação dos carros elétricos nas vendas globais de veículos aumentou de 1,6% em 2018 para cerca de 18% em 2023.
Aumenta a demanda global por bombas de calor
Também está havendo progresso na tecnologia de aquecimento. De acordo com a AIE, as bombas de calor estão se tornando uma tecnologia fundamental na transição global para o abastecimento do aquecimento sustentável.
"A tecnologia pode ser implantada em grande escala. Muitos países, especialmente na Escandinávia, mostram como a tecnologia funciona bem, mesmo quando faz muito frio, como é o caso da Finlândia", disse Breyer, da LUT.
Segundo a AIE, as bombas de calor cobrem cerca de 10% da demanda global de aquecimento em edifícios. Em 2022, as vendas da tecnologia aumentaram 11% globalmente e 38% na Europa. Na Alemanha, os números preliminares mostram que as vendas em 2023 aumentaram quase 50% em relação ao ano anterior.
Apesar do crescimento, "os investimentos em bombas de calor estão abaixo do necessário para atingir as metas do Acordo de Paris", diz Roland Rösch, diretor do Centro de Inovação e Tecnologia da IRENA.
Para manter-se dentro do limite de 1,5°C e evitar mudanças climáticas catastróficas, os atuais 64 bilhões de dólares em financiamento global anual para bombas de calor precisam quadruplicar até 2030, ainda de acordo com a IRENA.