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A base militar secreta dos EUA que está 'vindo à tona' com derretimento do gelo na Groenlândia

Instalação militar foi abandonada e agora gera preocupação com as perspectivas trazidas pelas mudanças climáticas.

5 ago 2019 - 09h50
(atualizado às 09h56)
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Foto do exército americano dos anos 60 retrata a base militar
Foto do exército americano dos anos 60 retrata a base militar
Foto: US Army / BBC News Brasil

Uma base militar secreta norte-americana abandonada no auge da Guerra Fria e que foi totalmente coberta por camadas de gelo na Groenlândia está lentamente retornando à superfície e eventualmente pode cair no mar, segundo revelou um relatório publicado por cientistas dinamarqueses.

Pesquisas feitas com radares, entretanto, indicaram que a base, conhecida como Camp Century, ainda está a 100 km da borda (da calota polar), e que "levará muitos, muitos anos antes de chegar a um ponto crítico", segundo a glaciologista dinamarquês Nanna Karlsson.

O campo foi erguido no extremo norte da Groenlândia nos anos 50 oficialmente como uma estação de pesquisa. Mas décadas mais tarde foi revelado que se tratou de uma base militar secreta, abastecida pelo primeiro reator nuclear móvel do mundo, com o objetivo de eventualmente servir de base de lançamento de mísseis nucleares contra a União Soviética em caso de guerra.

Os mísseis seriam armazenados em uma rede de túneis e laboratórios, mas problemas de engenharia e objeções da Dinamarca - que governava a Groenlândia na época e à qual a ilha ainda é vinculada, mesmo que com um grau considerável de autonomia - sobre o objetivo real da base levaram os militares americanos a fechá-la em 1966, confiantes de que a instalação gradualmente seria enterrada naturalmente no gelo.

Mas, como relata o canal dinamarquês TV2, "as mudanças climáticas colocaram em dúvida este plano", porque o gelo da Groenlândia está derretendo.

Imagem de radar de 2017 mostra tetos da base subterrânea de Camp Century
Imagem de radar de 2017 mostra tetos da base subterrânea de Camp Century
Foto: GEUS / BBC News Brasil

Risco ambiental de 'esqueleto' que ficou para trás

Ruth Mottram, do Instituto Meteorológico Dinamarquês, diz que a camada de gelo da Groenlândia parece ter encolhido mais no último mês do que a média de um ano inteiro desde 2002, segundo dados provisórios de satélite.

Os governos da Dinamarca e da Groenlândia montaram um programa de monitoramento climático em 2017 para rastrear os restos do Camp Century. O mais recente relatório de Karlsson e seus colegas do Serviço Geológico da Dinamarca e Groenlândia (GEUS) usa dados de radar para detalhar o quanto a base se moveu desde 1959.

Os cientistas percorreram a calota de gelo há dois anos, arrastando consigo dispositivos de radar. Karlsson diz que foram localizadas as formas cônicas dos tetos dos túneis a uma profundidade de 50 metros.

A expedição também descobriu que a base e suas estimadas 9,2 mil toneladas de sucata e resíduos de óleos, que representam um risco ambiental, além da preocupação gerada pelos resíduos radioativos do reator nuclear, estão afundando.

Os cientistas do GEUS dizem que o afundamento da base "pode ter um impacto no tempo que a instalação vai levar para emergir do gelo", relata a TV2.

Mudanças climáticas e seus efeitos no derretimento de gelo na Groenlândia colocam dúvidas sobre quando o Camp Century poderá emergir
Mudanças climáticas e seus efeitos no derretimento de gelo na Groenlândia colocam dúvidas sobre quando o Camp Century poderá emergir
Foto: REUTERS/Lucas Jackson / BBC News Brasil

'Forma nova de disputa política'

E a fica a questão sobre quem vai limpar a "sujeira", dado que a base foi construída sob um acordo EUA-Dinamarca - portanto, sem que o povo da Groenlândia tivesse voz na época.

O acordo "permitiu ao Camp Century afundar no gelo com tudo o que continha, incluindo poluentes", reclamou o ministro das Finanças da Groenlândia, Vittus Qujaukitsoq, ao site de notícias dinamarquês Altinget no ano passado, indicando que o governo da ilha espera que a Dinamarca e os EUA estejam prontos para assumir a responsabilidade quando a base emergir.

Teme-se que a base possa lançar ao mar resíduos químicos e nucleares - e causar problemas ao ecossistema da região.

William Colgan, cientista especializado em clima e geleiras, afirma que a incerteza sobre quem assumirá a função de dar conta deste esqueleto da Guerra Fria poderia criar "uma forma totalmente nova de disputa política, resultante das mudanças climáticas".

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