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A cirurgia que é nova esperança contra o câncer de pâncreas, um dos mais letais

Médicos empregaram com sucesso um novo método em que uma agulha é introduzida para queimar as células tumorais aplicando calor.

18 dez 2018 - 18h04
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María José del Valle (ao centro) foi operada com radiofrequência em Barcelona
María José del Valle (ao centro) foi operada com radiofrequência em Barcelona
Foto: Twitter Vall d'Hebron / BBC News Brasil

A cada dia, mais de 1,2 mil pessoas em todo mundo são diagnosticadas com câncer de pâncreas, que tem uma das taxas de sobrevivência mais baixas deste tipo de doença. Mas, agora, uma nova técnica pode representar um grande avanço para os pacientes.

O câncer de pâncreas é um dos mais agressivos. Segundo a Sociedade Americana do Câncer, na melhor das hipóteses, a taxa de sobrevivência em cinco anos é de 14%, enquanto no pior dos prognósticos, é de apenas 1%.

Agora, o Hospital Vall d'Hebron de Barcelona, na Espanha, está testando um método pioneiro que pode melhorar essa situação. Chama-se radiofrequência, um procedimento com o qual três pessoas já foram operadas com sucesso.

Estes pacientes tinham um tipo específico de tumor, um adenocarcinoma de pâncreas localmente avançado, inoperável com as técnicas tradicionais e cujo tratamento é a quimioterapia paliativa.

Por isso, a radiofrequência poderia ser uma alternativa eficaz à quimioterapia na hora de tratar o câncer de pâncreas de pior prognóstico.

Uma técnica inovadora

A técnica consiste em introduzir uma agulha que permite aplicar temperaturas de até 80ºC diretamente na zona tumoral. A alta temperatura queima as células.

Em hospital de Barcelona, na Espanha, três pessoas já foram operadas com sucesso usando a nova técnica
Em hospital de Barcelona, na Espanha, três pessoas já foram operadas com sucesso usando a nova técnica
Foto: Hospital de la Vall d'Hebron / BBC News Brasil

A agulha também conta com um sistema de refrigeração. "Neste tipo de intervenção, é usado um sistema que permite introduzir fluidos que chegam a zonas como o duodeno, para evitar que se aqueçam em excesso", explica a cirurgiã Elizabeth Pando, do Hospital Vall d'Hebron.

As operações foram realizadas como parte de uma pesquisa liderada pelo Centro Médico Acadêmico da Holanda.

O procedimento já é usado para outros tipos de câncer, como de fígado, rins e pulmão, mas nunca havia sido aplicado ao pâncreas. "O estudo rompe essa barreira", diz Pando.

Avaliava-se, até agora, que a radiofrequência não podia ser usada contra o câncer de pâncreas. O risco seria muito alto dada a localização do tumor, rodeado por artérias e veias maiores.

Até agora, acreditava-se que a radiofrequência não poderia ser aplicada ao câncer de pâncreas por causa da localização do tumor
Até agora, acreditava-se que a radiofrequência não poderia ser aplicada ao câncer de pâncreas por causa da localização do tumor
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Se os bons resultados forem confirmados, a partir de 2020 ou 2012, o procedimento pode vir a se tornar uma opção para os pacientes que não podem passar por cirurgia.

'Tinha seis meses de vida'

Estima-se que cerca de 40% dos casos de câncer no pâncreas sejam diagnosticados já em estado avançado. Os pacientes sobrevivem, em média, oito meses após o diagnóstico.

Após o diagnóstico, só 20% destes tumores podem ser operados. Para 80% dos casos, a única opção até agora era a quimioterapia.

Uma das pacientes operadas com a radiofrequência na Espanha é María José del Valle, que esteve junto com os médicos na semana passada em uma apresentação dos resultados das primeiras intervenções.

O câncer de pâncreas é um dos mais agressivos
O câncer de pâncreas é um dos mais agressivos
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A paciente é médica e estava em sua casa com amigos quando se deu conta de que seu braço estava amarelo. Após exames, foi diagnosticada com câncer de pâncreas.

Foi oferecido a ela participar do estudo clínico. Aos jornalistas, disse que assinou o termo em que aceitava ser incluída na pesquisa "sem lê-lo". Passou por dois meses de quimioterapia antes de se submeter à nova intervenção cirúrgica.

"Sabia que a taxa de sobrevivência era baixa. Tinham me dado seis meses de vida." Agora, ela diz que seu estado de saúde é "fenomenal".

Até o momento, a técnica só foi usada em pacientes estáveis após alguns meses de quimioterapia. Os médicos pedem cautela, mas estão otimistas.

"Se for provado que é uma terapia eficaz contra o adenocarcinoma de pâncreas localmente avançado, teremos enfim uma técnica que permite um melhor prognóstico para esse tumor tão maligno", conclui o médico Ramón Charco.

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