Cientistas desvendam o misterioso zumbido dos 'peixes cantores'
Quando donos de navios escutaram um zumbido submarino grave e monótono na Califórnia dos anos 1980, a princípio pensaram se tratar de bombas de esgoto, experimentos militares e até extraterrestres.
O curioso som noturno era, na verdade, o chamado de acasalamento de peixes do gênero Porichthys - um peixe-sapo que se esconde sob a areia durante o dia e flutua logo acima dela à noite.
Mas a explicação de por que o canto só era ouvido pela noite permanecia um segredo biológico que só agora os cientistas conseguiram desvendar.
Para achar as respostas, os pesquisadores das universidades americanas de Cornell e Yale fizeram experimentos com os peixes em laboratório - as conclusões foram detalhadas na publicação científica Current Biology.
Segundo eles, o zumbido ritmado e constante dos Porichthys é controlado por um hormônio que também regula o sono e o relógio biológico em diversos seres vivos, inclusive nos humanos - a melatonina.
Para ilustrar essa relação, os pesquisadores primeiro mantiveram os peixes sob luz constante - essa ação praticamente quase suprimiu o zunido dos animais.
Mas quando os cientistas administraram um substituto da melatonina aos peixes, eles voltaram a "cantar", porém em horas aleatórias e de forma desritmada.
"A melatonina age como um sinal verde para o canto noturno dos Porichthys", disse o coordenador da pesquisa, Andrew Bass, do Departamento de Neurobiologia e Comportamento da Universidade de Cornell.
'Peixes cantores'
Bass conta que, embora o canto dos Porichthys já fosse conhecido antes, o interesse nessa espécie aumentou a partir de um estudo de 1924 de Charles Greene, que se referiu a eles como "peixes cantores".
"Descobrimos que as fêmeas também podem emitir sons, mas apenas os machos territoriais é que constroem ninhos, e produzem o zunido para atrair as fêmeas para esses ninhos", disse o pesquisador.
Limitar o seu canto à noite provavelmente traz benefícios para os peixes - a serenata noturna pode pegar as fêmeas em seu momento mais receptivo, ou quando há menos chance de ser ouvida por um de seus predadores.
O estudo também sugere que melatonina pode ter um papel fundamental em todo o gênero vertebrado.
Identificar um peixe com comportamento tão intrinsecamente ligado ao relógio biológico indica que esse circuito cerebral evolui desde os nossos ancestrais aquáticos mais primitivos.
"Nosso estudo mostra que os peixes cantores podem ser um modelo útil para estudar hormônios e comportamentos de comunicação vocal relacionados à reprodução em diversas espécies de vertebrados", disse Ni Feng, de Yale.