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O cinematográfico resgate de um leopardo na Índia

Em rara ocasião, moradores e guardas florestais trabalharam juntos para tirar animal de um poço.

17 nov 2017 - 16h36
(atualizado às 18h08)
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Por volta das 8h da manhã do dia 19 de julho de 2012, o fotógrafo Anand Bora recebeu uma ligação telefônica sobre um leopardo que estava preso em um poço em um vilarejo no Estado de Maharashtra, oeste da Índia.

Leopardo olha para moradores e guardas que tentavam resgatá-lo.
Leopardo olha para moradores e guardas que tentavam resgatá-lo.
Foto: Anand Bora / BBC News Brasil

Bora está acostumado a este tipo de "emergência" - além de professor, ele também fotografa animais selvagens e já documentou diversas missões realizadas por guardas florestais.

Ele correu para o vilarejo, Bubali, e fotografou o esforço de três horas e meia para evitar que o animal cansado e apavorado se afogasse.

Uma dessas fotos, na qual o leopardo olha para seus salvadores, ganhou um dos mais importantes prêmios de fotografia de vida selvagem na Índia, gerando interesse sobre a história por trás da imagem.

Cinco anos depois do incidente, a foto ainda se destaca em meio ao crescente número de conflitos entre humanos e animais no país. Nela, o leopardo parece olhar com confiança para os moradores locais e guardas florestais que tentavam resgatá-lo.

"Quando ele olhou para nós, parecia saber que não iríamos machucá-lo, que estávamos tentando ajudar", disse Bora em entrevista à BBC.

Confiança

Quando os guardas florestais chegaram, os moradores disseram a eles que o leopardo estava há 25 horas tentando se manter com a cabeça fora d'água.

Estava chovendo e os moradores estavam direcionando a água da chuva para o poço, pensando que o leopardo poderia nadar até o topo, com o aumento do nível de água.

"Dissemos a eles que, na verdade, o animal se afogaria se esperássemos tanto", disse à BBC Suresh Wadekar, um dos guardas florestais, que supervisionou o resgate.

Por isso, Wadekar decidiu deixar o animal descansar, porque notou que ele estava "respirando pesadamente". O grupo colocou no poço uma espécie de "jangada" de madeira que flutuava sobre dois pneus.

Quando o leopardo subiu na jangada, parte dos homens a segurou por cordas enquanto outra parte foi procurar uma charpoy, uma espécie de cama trançada apoiada em pernas de madeira.

O felino descansou por cerca de uma hora e meia antes, e pulou prontamente na cama quando ela foi colocada no poço, diz Bora.

"Quando puxaram a cama para cima, ele olhou bem para as pessoas que tinham se juntando para acompanhar o resgate. De repente, pulou pela borda do poço e correu para a floresta. Isso tudo aconteceu em alguns segundos."

Cooperação

Hienas, raposas e leopardos costumam se perder em plantações de cana-de-açúcar na região enquanto caçam ou procuram água. Também é comum que eles caiam em poços ou fiquem presos de outras maneiras.

Bora diz ter fotografado mais de 100 operações de resgate, incluindo algumas que envolviam bufos-reais, uma espécie de coruja. Um desses animais, que perdeu uma das asas numa batalha com um corvo, precisou de meses de tratamento antes de poder ser libertado novamente.

Bufo-real resgatado em agosto de 2012
Bufo-real resgatado em agosto de 2012
Foto: Anand Bora / BBC News Brasil

Bora diz que a missão no poço em Bubali diz que a operação foi incomum porque os moradores do vilarejo não exigiram que o animal fosse tranquilizado.

Ele lembra de outra ocasião, quando um leopardo ficou preso em um poço e os moradores locais ameaçaram bater nos guardas caso eles não usassem tranquilizante no animal e o levassem.

"Dessa vez não houve pressão", relembra. Mesmo que muitas pessoas estivessem presentes durante o resgate em Bubali, Bora disse que elas se mantiveram calmas e afastadas do poço, porque Wadekar estava preocupado que a multidão agitasse o leopardo.

O guarda florestal, que fez 137 resgates de leopardo em 20 anos, disse ter precisado usar tranquilizante em mais de 100 destas operações. Ele acredita que, por este ser um vilarejo tribal, eles pareciam "aceitar" melhor a presença dos animais.

Guardas florestais resgatam uma hiena de um poço seco em 2013
Guardas florestais resgatam uma hiena de um poço seco em 2013
Foto: Anand Bora / BBC News Brasil

Mortes

Mas nem todos os encontros de humanos com leopardos acabam assim. Em novembro de 2016, um desses felinos morreu queimado por uma multidão depois de matar uma garotinha.

No mesmo ano, outro leopardo feriu seis pessoas em uma escola na cidade indiana de Bangalore. Depois, foi sedado e libertado.

Só em 2017, segundo Wadekar, duas crianças foram mortas por leopardos no vilarejo de Nashik, mas os moradores locais nunca pegaram os animais.

"É preciso conscientizar as pessoas de que essas mortes são acidentais. Eles não caçam humanos", afirma.

Mas o número de confrontos entre humanos e animais tem aumentado na Índia, onde a diminuição dos habitats dos animais está levando elefantes, tigres e leopardos a circular mais em áreas residenciais.

Conservacionistas também alertam que o número de incidentes violentos entre homens e animais deve aumentar.

Leopardos são uma espécie protegida na Índia e todo o comércio internacional de partes de seus corpos é proibido.

Especialistas em vida selvagem dizem que não há estimativas confiáveis da população desses grandes felinos na Índia, mas um censo recente estimou o número de leopardos entre 12 mil e 14 mil.

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