Apesar de clima extremo, 'Saara' mexicano tem diversidade de espécies
Um manto coberto por rios de lava negra e vermelha, uma paisagem formada por vulcões adormecidos e um assombroso mar de dunas que mudam de lugar: a riqueza da Reserva da Biosfera El Pinacate e o Grande Deserto de Altar é tal que a Unesco a declarou recentemente como Patrimônio da Humanidade.
"É praticamente como conhecer o Saara", explicou o subdiretor da reserva, Horacio Ortega, em um encontro com jornalistas durante uma viagem pelo local no último final de semana.
Esta reserva localizada no estado de Sonora, no noroeste do país, tem como particularidade a presença das dunas estrelas, consideradas "únicas no mundo" pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês).
As dunas convivem com enormes cactos chamados saguaros, cujos braços parecem imitar caprichosamente as formas humanas.
Apesar do clima árido do deserto - que pode ultrapassar os 60 graus centígrados - a reserva conta com uma variada fauna que inclui, entre outros, o carneiro selvagem, coiotes, os velozes antilocapras, o veado e os morcegos celestes. "Estas espécies se adaptaram aos climas extremos e normalmente vivem de noite para evitar o calor do dia", explicou Ortega.
Tudo no deserto do Altar tem um fim: um saguaro morto, uma das espécies de cacto que predominam na área, gera nova vida para insetos e outros seres vivos que se refugiam em seus restos.
Desta forma, El Pinacate consegue se sustentar sozinho, mas, para "operar melhor", necessita aumentar seu orçamento, explicou o engenheiro e diretor da reserva, Federico Godinez Leal. "A denominação da Unesco de Patrimônio da Humanidade exige que o Governo Federal forneça os recursos necessários para a conservação, conhecimento e cultura", disse Godinez, que acrescentou que o desafio começa agora.
Turismo
Desde que foi nomeada como Reserva da Biosfera em 1993, a área aumentou notavelmente seu número de visitantes. Na década de 1990, cerca de três mil pessoas visitavam a reserva; em 2012 o número de visitantes aumentou para até 18 mil e para este ano preveem superar os 25 mil.
Godinez admitiu que os turistas são conscientes que em qualquer momento pode acontecer uma erupção vulcânica, mas, acrescentou, a última foi há oito mil anos.
Nicole tem 11 anos e visita a região acompanhada de seus pais e primos. Mas nesta ocasião não percorreu a reserva, explicou que o que mais gosta da área é a variedade de animais que existem.
Chegar à reserva saindo do centro do México significa pegar um voo de mais de duas horas de duração e viajar por terra durante três horas, um trajeto que, na opinião de um dos visitantes, Juan Zamora González, "vale a pena".
"Tomara que o governo do México utilize os recursos oferecidos pela ONU para cuidar da região, e que o dinheiro não seja perdido e pare nos bolsos de outros", disse à Agência Efe Zamora, que chegou ali vindo da cidade central de Cuernavaca.
Neste imenso deserto convivem os índios Tohono e os O'odham o Papago, a apenas meia hora do centro turístico de Puerto Peñasco, onde os complexos hoteleiros rompem com a monotonia do deserto.
"Os tohonos fizeram parte do projeto e sabem que a região foi declarada Patrimônio da Humanidade", afirmou o subdiretor da reserva, que declarou que os lugares sagrados para os índios permanecem fechados ao público.
Trata-se de um lugar sagrado para o povo O'odham, já que para eles El Pinacate é a origem do universo, um lugar que nos dias de hoje continuam preservando por se tratar do centro de suas divindades.
No cair da tarde, uma luz avermelhada inunda o deserto e brinca de maneira caprichosa nas fendas da cratera El Colorado, que recebe este nome pela bela estampa que projeta na chegada do pôr do sol.
