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As 'aves incendiárias' que usam o fogo para facilitar a caça

Pesquisadores australianos listam três aves de rapina do país que alastram incêndios para capturar suas presas com mais facilidade.

10 jan 2018 - 19h27
(atualizado em 11/1/2018 às 09h05)
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Pesquisadores apontam que aves alastram incêndios para capturar suas presas com mais facilidade
Pesquisadores apontam que aves alastram incêndios para capturar suas presas com mais facilidade
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A Austrália é o lar de inúmeras espécies perigosas: de crocodilos a cobras, de aranhas a águas-vivas venenosas.

Três animais aparentemente inofensivos foram acrescentados à lista, de acordo com um novo estudo baseado em diversas observações.

São três espécies de aves de rapina, descritas pelos pesquisadores como "incendiárias".

Segundo Bob Gosford, ornitologista do Central Land Council (um dos conselhos comunitários que se organizam por região no país, neste caso no Território do Norte) e coautor da pesquisa, as aves são o milhafre-preto (Milvus migrans), o milhafre-assobiador (Haliastur sphenurus) e o falcão-marrom (Falco berigora), que ampliam deliberadamente os incêndios florestais para forçar os animais que moram na floresta a fugir das chamas e, assim, caçá-los com mais facilidade.

Para fazer isso, as aves pegam um galho em chamas com o bico ou com as garras e o deixam cair em uma área ainda não atingida pelo fogo.

Além disso, dizem os pesquisadores, as aves podem ter aprendido a controlar e a usar o fogo a seu favor antes mesmo dos humanos.

O estudo foi publicado na revista científica Journal of Ethnobiology.

Forte evidência

A crença de que essas aves têm a capacidade de espalhar as chamas vem de longa data - e inclusive celebrada em antigas danças cerimoniais nas culturas aborígenes do país.

Com seu bico ou garras, o falcão-marrom carrega galho em chamas e o deixa em cair área da floresta ainda não atingida pelo fogo para facilitar sua caça
Com seu bico ou garras, o falcão-marrom carrega galho em chamas e o deixa em cair área da floresta ainda não atingida pelo fogo para facilitar sua caça
Foto: BBC News Brasil

No entanto, quando Gosford publicou o resultado de suas observações iniciais em 2016, muitos especialistas em comportamento de aves reagiram com ceticismo.

Agora, com 20 novos depoimentos, Gosford conseguiu convencer os cientistas que chegaram a questionar as evidências.

Um desses depoimentos é de Dick Eussen, fotojornalista, ex-bombeiro e coautor do estudo, que observou esse comportamento ao tentar apagar um incêndio no Território do Norte, nos anos 1980.

Um dos episódios mais recentes ocorreu em março de 2017, na mesma região, mas os milhafres não alcançaram seu objetivo.

Aves antes dos humanos

Ainda não está claro o quão comum é esse comportamento, mas, de acordo com as evidências, essas aves só recorrem a essa metodologia de caça se o incêndio atingiu seu limite de expansão e ameaça se apagar.

Para saber a frequência e se esta técnica é exclusiva dessas espécies, tanto na Austrália como no resto do mundo, os pesquisadores planejam fazer experimentos em condições controladas.

Pesquisadores planejam fazer experimentos em condições controladas para verificar se apenas essas espécies de aves podem ampliar incêndios
Pesquisadores planejam fazer experimentos em condições controladas para verificar se apenas essas espécies de aves podem ampliar incêndios
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Outro ângulo interessante que surge das observações é que é bem possível que as aves de rapina tenham aprendido a controlar incêndios antes de nós.

A evidência confirmada mais antiga do uso do fogo por humanos é de 400 mil anos atrás.

No entanto, aves de rapina estiveram no planeta milhões de anos antes, então elas podem ter descoberto antes dos humanos, disse Alex Kacelnik, o especialista em inteligência de pássaros da Universidade de Oxford, no Reino Unido, à revista New Scientist.

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