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Bactéria em múmia de 5,3 mil anos dá pistas sobre migração

8 jan 2016 - 12h02
(atualizado às 12h42)
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Cadáver congelado de Ötzi permitiu aos cientistas voltar no tempo em um nível de detalhado e inédito
Cadáver congelado de Ötzi permitiu aos cientistas voltar no tempo em um nível de detalhado e inédito
Foto: EURACMarion Lafogler

Uma nova descoberta feita a partir da análise das entranhas de uma múmia de 5,3 mil anos pode ajudar a detalhar a história da migração humana.

Cientistas afirmaram que Ötzi, o Homem do Gelo, nome dado a um corpo congelado descoberto nos Alpes em 1991, contraiu uma infecção bacteriana que ainda existe nos dias de hoje.

O homem morreu há 5,3 mil anos depois de levar uma flechada.

O estudo foi publicado na revista científica Science.

A nova pesquisa sugere que, pouco antes de morrer, o homem sofria de uma infecção que pode causar úlceras estomacais e gastrite.

Cientistas realizaram uma análise genética da bactéria, o que ajudaria a traçar a história do microorganismo e dar indicações sobre a migração humana na Antiguidade.

O cadáver congelado de Ötzi permitiu aos cientistas voltar no tempo em um nível de detalhadamento inédito.

Um dos primeiros desafios foi obter amostras do estômago sem causar nenhum dano à múmia.

Pesquisas anteriores constataram que o homem tinha entre 40 e 50 anos, olhos castanhos, era coberto de tatuagens e havia comido íbex (um tipo de cabra que vive nos Alpes) pouco antes de morrer.

Ele foi encontrado com uma flecha presa a seu ombro esquerdo, e provavelmente teria morrido de hemorragia. No entanto, também sofreu outros problemas de saúde, incluindo fraturas no calcanhar, artrite e uma eventual doença de Lyme (doença transmitida através da picada de um carrapato que pode causar danos neurológicos se não for tratada adequadamente).

A nova descoberta, no entanto, revela que o homem também sofria de uma infecção causada pela bactéria Helicobacter pylori.

Segundo Albert Zink, diretor do Instituto de Múmias e do Homem de Gelo, ligado ao Museu Arqueológico de Bolzano (EURAC, na sigla em inglês) em Milão, na Itália, um dos primeiros desafios foi "obter amostras do estômago sem causar danos à múmia".

"Em seguida, tivemos de descongelar completamente a múmia, e finalmente ganhamos acesso às suas entranhas a partir de uma abertura que já havia sido feita para a realização de outro estudo".

"Conseguimos obter amostras do conteúdo do estômago, de parte do conteúdo do intestino, e também de partes da parede estomacal".

Bactérias foram extraídas da parede estomacal e dos intestinos de Ötzi
Bactérias foram extraídas da parede estomacal e dos intestinos de Ötzi
Foto: Central Hospital Bolzano

A bactéria encontrada no corpo da múmia está presente em metade da população atualmente, e, em cerca de 10% dos casos, pode levar à inflamação do revestimento da parede do estômago e ao desenvolvimento de úlceras.

Os pesquisadores não sabem quais eram os sintomas clínicos de Ötzi, mas dizem ter provas de que o sistema imunológico da múmia reagiu à infecção bacteriana.

Migração humana

O sequenciamento do genoma do micro-organismo também forneceu novas pistas sobre a migração humana na Antiguidade.

Acredita-se que a cepa que atinge os europeus atualmente seja o resultado da combinação de duas cepas mais antigas ─ uma africana e outra asiática.

Segundo cientistas, isso significa que as pessoas infectadas dessas duas áreas teriam se reunido e se misturado.

No entanto, a bactéria descoberta em Ötzi era diferente.

"Acreditávamos que descobriríamos a mesma cepa de Helicobacter em Ötzi do que nos europeus", afirmou Thomas Rattei, da Universidade de Viena, na Áustria, que participou da pesquisa.

"Esta parece ser uma cepa que é predominantemente observada na Ásia Central e no Sudeste da Ásia hoje em dia".

A descoberta sugere que possa ter havido uma onda de migração de pessoas da África, portadoras da bactéria, ao continente europeu em algum período depois da morte da Ötzi.

"A combinação dessas duas cepas de Helicobacter pylori talvez tenha ocorrido em algum período depois da era Ötzi e isso revela que a história dos assentamentos na Europa é muito mais complexa do que acreditávamos anteriormente", diz Frank Maixner, da Eurac.

A descoberta reforça ainda a crescente evidência de que não houve uma única onda migratória da África em direção à Europa, mas sim, várias.

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