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Césio-137 | A história do acidente num ferro-velho de Goiânia

O acidente com o césio-135 em Goiânia, em 1987, foi o maior acidente radioativo fora de uma usina nuclear. Relembre como e por que ele aconteceu

5 fev 2023 - 13h31
(atualizado em 6/2/2023 às 11h07)
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Em setembro de 1987, a capital de Goiás, Goiânia, vivenciou a maior tragédia radioativa fora de usinas e testes nucleares. Um aparelho de radioterapia foi violado é expôs uma boa quantidade de césio-137, contaminando a população e levando pessoas a óbito.

O acidente com Césio-137 em Goiânia

A história começa quando um equipamento hospitalar, do antigo Instituto Goiano de Radiologia, foi abandonado e, posteriormente, encontrado por catadores de material reciclável. Estes venderam a peça para um ferro-velho, onde foi aberta pelo dono do local.

O proprietário do ferro-velho e seus funcionários encontraram dentro do aparelho um material branco que ficava azul no escuro e levaram a substância para mostrar às suas famílias, deixando todos maravilhados com o brilho azulado.

Aquela novidade considerada quase "mágica" foi exibida a crianças e vizinhos, até que vários moradores de Goiânia começaram a apresentar sinais de contaminação antes mesmo de identificarem o material como perigoso.

Quando a amostra radioativa foi identificada pelas autoridades como a causadora dos problemas de saúde na região, os afetados foram submetidos a rígidos protocolos de isolamento e tratamento.

O material abandonado

O Instituto Goiano de Radioterapia (IGR) se ficava na Avenida Paranaíba, no Centro de Goiânia, fechado naquele endereço em 1985. O equipamento de radioterapia foi abandonado no interior das antigas instalações e algumas instalações da clínica foram demolidas, exceto algumas salas.

Uma disputa judicial entre o Instituto Goiano de Radioterapia (IGR) e a Sociedade de São Vicente de Paula, dona do terreno, levou a uma ação de despejo em 1984. Em seguida, a sociedade vendeu o terreno para o Instituto de Previdência e Assistência do Estado de Goiás (IPASGO), que iniciou a demolição completa do prédio em 1987.

Contudo, o processo foi interrompido devido a uma liminar que obrigou a paralisação imediata da demolição. Assim, as ruínas que sobraram do prédio ficaram abandonas e o equipamento foi encontrado por catadores, que removeram um invólucro de chumbo na expectativa de obter algum valor em dinheiro.

Já no ferro-velho de Devair Ferreira, o invólucro foi aberto na tentativa de reaproveitar o chumbo da caixa. O problema é que esta cápsula era a responsável por proteger o ambiente do material radioativo. Assim, 19,26 g de cloreto de césio-137 (CsCl) foram expostas.

O que é o Césio-137

O elemento césio (Cs) tem número atómico 55, massa atômica de 132,9 u e se trata de um metal alcalino macio de cor prateada-dourada. Já o césio-137 é um isótopo deste elemento, ou seja, uma "versão" com o mesmo número atômico, mas com diferentes números de nêutrons em seus núcleos.

Esse isótopo é formado a partir da fissão nuclear de urânio-235 (que é um isótopo do urânio) em reatores nucleares e armas nucleares. Por isso, ele é liberado em acidentes envolvendo o urânio-235, como ocorreu no caso de Chernobyl, e em testes nucleares.

No corpo humano, o césio fica distribuído quase uniformemente, com as maiores concentrações nos tecidos moles. O tecido pancreático é um forte acumulador e secretor no intestino de césio radioativo, segundo estudos realizados nos corpos de vítimas de Chernobyl.

A meia-vida biológica do césio — o tempo necessário para que metade de uma substância seja removida do organismo — é de cerca de 70 dias.

Para que serve o Césio-137

Apesar do perigo, o césio-137 tem vários usos favoráveis, como na radioterapia. Ele também é usado para datar vinho e detectar falsificações, além de possibilitar a avaliação da idade da sedimentação que ocorreu após 1945.

Consequências do acidente de Goiânia

Com a exposição à radiação do césio-137, a população apresentou sintomas como náuseas, vômitos, diarreia, tonturas e queimaduras. Milhares de profissionais estiveram envolvidos no processo de contenção do material e tratamento das vítimas.

O saldo mais trágico do acidente foram quatro vítimas fatais logo nas primeiras semanas. Dezenas ficaram com problemas e desenvolveram doenças como o câncer, falecendo anos depois.

Devair Alves Ferreira, dono do ferro-velho sofreu efeitos como a perda de cabelo e problemas em seus órgãos, morrendo 7 anos depois. Segundo a Associação das Vítimas do Césio 137, 104 pessoas morreram até 2012 devido à contaminação, e cerca de 1.600 foram afetadas diretamente.

Após o acidente, o aparelho que continha a cápsula de césio foi recolhido pelo Exército e levado para exposição no interior da Escola de Instrução Especializada, no Rio de Janeiro, onde se encontra até hoje para homenagear os que participaram da limpeza da área contaminada.

O material radioativo está armazenado de forma segura em Abadia de Goiás, a cerca de 1 km da região habitada da cidade. Ali, dentro do Parque Estadual Telma Ortegal, o césio-135 está armazenado em dois depósitos subterrâneos.

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