Chimpanzés são "farmacêuticos": pesquisa comprova automedicação com plantas
Estudo foi baseado em testes farmacológicos de plantas que os animais consumiam e observações comportamentais
Pesquisadores descobriram que chimpanzés selvagens (Pan troglodytes) utilizam plantas medicinais quando estão doentes. O estudo foi publicado na revista científica PLOS ONE.
Com base em uma combinação de observações comportamentais na Reserva Florestal Central de Budongo, Uganda e testes farmacológicos de plantas que os animais consumiam, cientistas perceberam que 88% dos extratos vegetais apresentavam propriedades antibacterianas e 33% eram anti-inflamatórios.
Um dos resultados mais notáveis foi a madeira morta da árvore Alstonia boonei, que apresentou forte atividade antibacteriana e propriedades anti-inflamatórias.
Essa planta, consumida por chimpanzés doentes ou feridos, também é utilizada como planta medicinal em comunidades da África Oriental para tratar diversas condições.
Mais exemplos
Outro exemplo é a samambaia Christella parasitica, cujas folhas foram observadas sendo comidas por um chimpanzé com a mão machucada, possivelmente para reduzir dor e inchaço.
A casca do espinheiro-de-gato (Scutia myrtina), consumida por um indivíduo com infecção parasitária, também apresentou propriedades anti-inflamatórias e antimicrobianas, algo que nunca havia sido observado antes nesse grupo de chimpanzés.
“Para estudar a automedicação em chimpanzés selvagens, é preciso agir como um detetive, reunindo evidências multidisciplinares”, afirma Elodie Freymann, autora principal do estudo.
Os resultados fornecem fortes indícios de que os chimpanzés selecionam plantas específicas por seus efeitos medicinais.
Além disso, as plantas medicinais da Reserva Florestal Central de Budongo podem auxiliar no desenvolvimento de novos remédios para combater bactérias resistentes a antibióticos e doenças inflamatórias crônicas.
“Nosso estudo destaca o conhecimento medicinal que podemos obter observando outras espécies na natureza e ressalta a necessidade urgente de preservar essas farmácias florestais para as futuras gerações”, conclui Freymann.