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Cidade equipa urubu com câmera para achar lixão clandestino

24 dez 2015 - 10h20
(atualizado às 10h43)
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"Durante gerações, temos defendido o homem desses inimigos, armados com nossos sentidos e um estômago capaz de destruir as mais poderosas bactérias, mas o lixo está nos derrotando, a poluição tomou o ar, infectou a água, adoeceu a terra."

Quem "diz" a frase é um urubu em um vídeo da campanha "Gallinazo Avisa", criada para detectar focos de lixo em Lima, no Peru, e chamar atenção das pessoas que o produzem.

Os urubus-de-cabeça-preta que participam da campanha voam pela capital peruana equipados com GPS e estão sendo treinados para levar câmeras GoPro para registrar os lixões em que se alimentam.

Essa ideia nasceu a partir de um projeto de pesquisa da Universidad Nacional Mayor de San Marcos, de Lima, sobre a vida dos urubus, que está sendo feito desde julho.

Os pesquisadores precisavam de equipamentos eletrônicos para monitorar os urubus, explica Letty Salinas, diretora do Departamento de Aves da universidade.

O Ministério do Ambiente, por sua vez, precisava de uma forma de alertar os moradores de Lima sobre o problema de lixo da cidade.

Dessa forma, as agências de publicidade FCB Mayo e SrBurns idealizaram a campanha.

O Ministério do Ambiente do Peru e a Usaid, agência de cooperação internacional dos EUA, entraram com os GPSs e as câmeras GoPro.

Dez urubus

O departamento de aves da San Marcos reuniu dez urubus para a campanha. Alguns eram animais resgatados e outros foram capturados em suas colônias, atraídos por carniça.

Eles passaram por exames médios rigorosos, receberam os equipamentos GPS e foram liberados. Alguns estão sendo treinados para usar as câmeras GoPro.

Desde então, voam por toda a cidade de Lima. Suas asas largas permitem que voem por até quatro horas seguidas para encontrar comida, como restos de alimentos e animais mortos.

Em terra, uma equipe permanente da San Marcos recebe e analisa em tempo real as informações que as aves enviam.

Com isso, reúnem informação sobre sua vida social, deslocamentos, hábitos de alimentação, como fazem ninhos e descanso das aves.

Dez urubus participam do projeto
Dez urubus participam do projeto
Foto: Cesar Arana / BBC News Brasil

A informação sobre os focos de lixo localizados pelos urubus chegam ao Ministério do Ambiente, que fará um mapa virtual dos pontos de despejo ilegal de lixo.

Descarte de lixo

A quantidade de lixo em Lima é tamanha que superou a capacidade da cidade de lidar com ela.

Seus cerca de 9 milhões de habitantes produzem mais de 7,4 mil toneladas de lixo por dia, segundo o Órgão de Avaliação e Fiscalização Ambiental (Oefa). É o peso de até 2.300 elefantes africanos.

Essa quantidade supera a que produzem cidades como Buenos Aires, com mais de 14 milhões de habitantes, que gera cerca de 6 mil toneladas diárias de resíduos sólidos.

E, em 20 anos, a previsão é que Lima irá gerar o dobro de resíduos.

O lixo coletado é despejado em quatro aterros sanitários da cidade. Mas, segundo a Oefa, eles não são suficientes.

"Como consequência direta da falta de aterros sanitários, os resíduos se colocam em lugares de disposição ilegal de resíduos, chamados lixões, que geram focos infecciosos de grande magnitude", disse o Oefa no informe de abril de 2014.

Após instalação do equipamento, aves foram libertadas
Após instalação do equipamento, aves foram libertadas
Foto: Cesar Arana / BBC News Brasil

Em maior deste ano, o Oefa peruano identificou pelo menos 20 pontos ilegais de despejo de lixo na capital.

As subprefeituras dos distritos de Lima são as responsáveis por eliminar os locais de despejo irregular de lixo.

Agora, os urubus ajudam nesta tarefa.

Além da sua capacidade de voo, essas aves contam com uma flora gástrica especial e um sistema imunológico potente que permite que comam alimentos em estado de putrefação sem ficarem doentes.

E eles são capazes de comer até não poder mais voar.

Sua cabeça pelada lhes dá um aspecto desagradável. Mas os mantém a salvo de infecções, já que as bactérias não encontram penas para se alojar.

Assim, pode limpar o ambiente. "Os moradores de Lima reagiram com muita simpatia aos urubus", diz Letty Salinas, de San Marcos. "O mundo seria um lugar mais fedorento sem eles."

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