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Cientistas brasileiros descobrem novo alvo para terapias contra o câncer

Estudo mostra que proteína mutante se aglomera de forma anormal no núcleo das células; mais da metade dos casos de câncer em todo o mundo estão associados a mutações genéticas nessas proteínas

8 jan 2020 - 15h40
(atualizado em 9/1/2020 às 01h07)
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RIO DE JANEIRO - Alguns pacientes de câncer reagem muito bem à quimioterapia, enquanto outros simplesmente não reagem a esse tratamento - um dos mais usados contra a doença. As razões por trás dessas diferenças não são ainda totalmente compreendidas, mas um grupo de cientistas do Brasil e do exterior apresentou nesta quarta-feira, 8, um estudo inédito sobre o assunto que explica parte do que acontece. O trabalho também aponta para o desenvolvimento de novas terapias.

Já se sabia que a proteína P53 protege o DNA de alterações que podem levar à formação de tumores cancerígenos. Por isso, ela é conhecida como 'anjo protetor' ou 'guardiã' do genoma. Mais da metade dos casos de câncer em todo o mundo estão associados a mutações genéticas nessas proteínas.

Essas mutações levam à formação de agregados anômalos de proteína no núcleo das células. Com isso, a proteína não só deixa de proteger o organismo contra o câncer, como também induz à criação de uma resistência ao tratamento por quimioterapia e facilita o surgimento de metástases.

Os cientistas não sabem exatamente o que provoca as mutações. Em geral, elas são aleatórias. Já se sabe, no entanto, que hábitos como fumar e beber álcool em excesso podem contribuir para as alterações.

O novo estudo foi publicado na iScience (da Cell), um grupo de pesquisadores liderado pelo bioquímico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Jerson Lima Silva. Os cientistas identificaram grande quantidade desses aglomerados anômalos em células resistentes à quimioterapia derivadas de glioblastoma, um tumor cerebral muito agressivo. Foi a primeira vez que essas estruturas foram observadas no núcleo de células vivas.

"Quando comparamos duas células, uma com a proteína normal e outra com a proteína com mutação, vemos que a segunda fica ainda mais oncogênica, com maior tendência à metástase", explicou Lima Silva. "Nosso estudo foi feito com um glioblastoma, que é um tumor praticamente intratável; e a única droga que existe não funciona diante da mutação."

O grupo de Lima Silva estuda as alterações da P53 há mais de quinze anos. O laboratório da UFRJ foi o primeiro a constatar que a proteína tende a formar agregados anômalos quando sofre uma mutação, desempenhando um papel crucial no desenvolvimento do câncer.

O mesmo grupo já tinha observado que esses agregados anômalos de P53 estão presentes também em cânceres de mama, ovário e próstata. No novo estudo, os cientistas constataram que os aglomerados estão presentes também em casos de glioblastoma e, ainda, na resistência à temozolomida, o principal remédio usado no tratamento desse tipo de tumor.

A pesquisa foi realizada a partir de uma mutação específica na P53, conhecida como M237I.

"Isso é importante porque a P53 com outras mutações já estudadas ou sem mutação alguma não é capaz de conferir o mesmo quadro de resistência", ressalta um dos coordenadores do estudo, Guilherme de Oliveira, pesquisador visitante da Universidade de Virginia.

A expectativa agora é usar os aglomerados anômalos como possíveis alvos para o desenvolvimento de novos tratamentos.

"O nosso estudo indica que agregados do mutante P53 são alvos formidáveis para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas contra o câncer", resumiu Lima Silva.

O estudo foi financiado pela Faperj e pelo CNPq.

Estadão
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