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Cinco fatores que podem estar te fazendo engordar sem que você saiba o porquê

Muita gente acredita que a luta contra a obesidade é apenas questão de força de vontade, mas as pesquisas médicas mais recentes sugerem o contrário.

30 abr 2018 - 19h36
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Jackie (à esquerda) e Gillian (à direita) são gêmeas, mas têm pesos diferentes
Jackie (à esquerda) e Gillian (à direita) são gêmeas, mas têm pesos diferentes
Foto: BBC News Brasil

Muita gente acredita que a luta contra a obesidade é apenas uma questão de força de vontade para manter uma dieta, mas as pesquisas médicas mais recentes sugerem o contrário.

O documentário da BBC The Truth About Obesity ("A Verdade Sobre a Obesidade", em tradução livre), elenca cinco fatores que podem estar afetando o seu peso sem que você saiba.

1. O seu microbioma

O corpo humano é repleto de micro-organismos - há mais células de bactérias, fungos e vírus presentes em nosso organismo do que células humanas. Em número, os micro-organismos são 57% das células no corpo humano, embora as células humanas sejam maiores e representem mais massa e volume.

O entendimento científico dominante hoje é que esses micro-organismos - o chamado microbioma - têm um papel enorme em diversos fatores na nossa vida e na nossa saúde, incluindo o peso.

Afinal, a maior parte desses organismos estão no nosso sistema digestivo.

"Quanto maior a diversidade de microorganismos, mais magra é a pessoa. Se você tem sobrepeso, seus micróbios não são tão diversos como deveriam ser", explica o epidemologista Tim Spector, do King's College, em Londres.

Um exemplo são as gêmeas Gillian e Jackie: são muito parecidas, mas uma tem 41 quilos a mais do que a outra.

Spector acompanhou a saúde das duas durante 25 anos como parte do projeto de pesquisa Twin Research UK, que registra gêmeos no Reino Unido. Ele diz que a diferença de peso entre as irmãs se deve às diferenças em suas faunas microbianas.

Uma análise das fezes das gêmeas mostra que Gillian, a mais magra das duas, tem uma gama muito mais diversa de micróbios, enquanto Jackie tem poucas espécies de microorganismos vivendo em seu intestino.

Um estudo feito por Spector com 5 mil pessoas mostra resultados similares.

Diversos fatores afetam a diversidade dos micro-organismos no corpo humano - do tipo de parto aos antibióticos usados durante a vida.

Parte dos microorganismos são herdados da mãe, durante o parto normal. Outros são adquiridos no ambiente. Mas a maior parte vêm - e se prolifera - pela alimentação.

"Toda vez que você come, alimenta cem bilhões de micróbios. Você nunca janta sozinho", diz Spector.

Uma dieta rica em fibras, por exemplo, ajuda o microbioma intestinal a se desenvolver de maneira saudável.

2. A loteria dos genes

Porque algumas pessoas seguem dietas rigorosas e fazem exercício regularmente e mesmo assim sofrem para conseguir perder peso, enquanto outras se alimentam mal e são sedentárias, mas continuam magras?

Pesquisadores da Universidade de Cambridge dizem que os genes que herdamos têm uma influência de 40% a 70% sobre nosso peso.

"É uma loteria", diz a médica Sadaf Farooqi, pesquisadora da Universidade de Cambridge. "Os genes estão envolvidas na regulação do peso e - se você tem uma falha em alguns genes, isso pode ser suficiente para estimular a obesidade."

Certos genes afetam o apetite - da quantidade de comida que se tem vontade de comer ao tipo de alimento que alguém pode preferir. Outros afetam a forma que queimamos calorias e se nossos corpos administrarão a quantidade de gordura de maneira eficiente.

Há pelo menos 100 genes que podem afetar o peso, incluindo um chamado MC4R. Acredita-se que uma em cada mil pessoal tenha uma mutação no MC4R, que afeta a fome e o apetite. As pessoas com essa mutação tendem a ter mais fome e comer comida mais gordurosa.

"Realmente não há nada que se possa fazer em relação aos genes. Mas, para algumas pessoas, saber que os genes as predispõem a engordar pode ajudar a lidar com a questão da dieta e dos exercícios", explica a pesquisadora.

3. A rotina

Há um fundo de verdade no velho ditado: "tome café da manhã como um rei, almoce como um lorde e jante como um mendigo".

O médico James Brown, especialista em obesidade, diz que quanto mais tarde comemos, maior a probabilidade de que ganhemos peso. Não porque estamos menos ativos à noite, como muitos acreditam, mas por cuasa de nosso relógio biológico.

"O corpo humano está programado de forma que manejamos com maior eficiência as calorias durante o dia, quando há luz, do que à noite, quando está escuro", explica ele.

Durante a noite, nosso corpo tem mais dificuldade de digerir gorduras e açúcares.

Na última década, a hora do jantar no Reino Unido, na média, passou das 17h para as 20h - e isso contribuiu para o aumento nos níveis de obesidade do país, segundo Brown.

4. O efeito visual

O pesquisador britânico Hugo Harper, que pesquisa comportamento, diz que existem formas de mudar o comportamento alimentar insconciente em vez de apenas contar calorias.

Uma estratégia, diz o especialista, é eliminar as tentações visuais. Isso pode ser mais efetivo do que confiar na nossa força de vontade consciente.

Portanto é recomendável simplesmente não ter alimentos pouco saudáveis em casa, no ambiente de trabalho ou na bolsa.

É melhor ter sempre uma fruta ou algo leve por perto, caso tenha fome do caminho para casa ou no trabalho. Na cozinha, deixar os alimentos saudáveis à vista também aumenta as chances de você consumi-los.

Segundo Harper, temos uma tendência de comer sem pensar. Então uma boa ideia é tentar evitar ao máximo o hábito de comer coisas pouco saudáveis "automaticamente" - escondendo comidas gordurosas ou muito doces ou mesmo diminuindo o tamanho do prato.

5. Os hormônios

Nosso apetite é controlado por hormônios, cuja produção pode ser afetada por diversos fatores.

Alguns dos tratamentos para níveis extremos de obesidade funcionam também por controlar os hormônios.

O resultado da cirurgia bariátrica, por exemplo, não se deve apenas à redução do estômago do paciente, mas também ao efeito que ela provoca na produção de hormônios.

A cirurgia bariátrica faz com que os hormônios da saciedade sejam produzidos em maior quantidade e reduz a produção dos hormônios que causam fome.

No entanto é uma operação arriscada, usada apenas em casos graves de obesidade.

Pesquisadores do Imperial College, em Londres, conseguiram recriar os hormônios que provocam a mudança do apetite após cirurgias do tipo com o objetivo de fazer um estudo clínico sobre isso.

A pesquisa envolve dar aos pacientes, com uma injeção, uma mistura de três hormônios. Eles são utilizadas todos os dias, durante quatro semanas.

"Eles sentem menos fome, estão comendo menos e perdendo entre 2 a 8 quilos em menos de um mês", explica a médica Tricia Tan, que participa do estudo.

Ainda é preciso fazer mais testes para comprovar que o tratamento é seguro. Se for o caso, o plano é tratar os pacientes até que alcancem um peso saudável.

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