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Cumprir Acordo de Paris evitaria dengue na América Latina

Limitar o aquecimento global a 2°C evitaria 2,8 milhões de casos da doença a cada ano até 2100 no continente

29 mai 2018 - 16h57
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Limitar o aquecimento global a 2°C poderia evitar 2,8 milhões de casos de dengue por ano até o fim do século na América Latina, de acordo com um novo estudo internacional feito com participação brasileira. Segundo a pesquisa, um limite de aquecimento de 1.5°C representaria uma redução 3,3 milhões de casos anuais até 2100 no continente, sendo 1,4 milhão só no Brasil.

O estudo, que teve seus resultados apresentados nesta segunda-feira, 28, em artigo publicado na revista científica PNAS, também revela que limitar o aquecimento do planeta impediria que a dengue se intensificasse em áreas onde a incidência é atualmente baixa, ou que se espalhasse por áreas do continente onde ainda não há casos.

Para fazer as projeções, os pesquisadores estudaram registros clínicos e laboratoriais de casos de dengue confirmados na América Latina e elaboraram um novo modelo computacional capaz de quantificar as variações na transmissão de dengue na América Latina diante de diferentes cenários de aquecimento global. Segundo os cientistas, a dengue infecta anualmente 390 milhões de pessoas no mundo, sendo 54 milhões na América Latina.

Os dois mapas mostram as mudanças que ocorrerão até 2100 na duração da temporada de transmissão da dengue, que resultam em maior número de casos da doença na América Latina; o mapa da esquerda indica a situação caso o aquecimento global seja limitado a 1,5 ◦C e o mapa da direita mostra a intensificação e alastramento da doença caso o aquecimento chegue a 3,7◦C.
Os dois mapas mostram as mudanças que ocorrerão até 2100 na duração da temporada de transmissão da dengue, que resultam em maior número de casos da doença na América Latina; o mapa da esquerda indica a situação caso o aquecimento global seja limitado a 1,5 ◦C e o mapa da direita mostra a intensificação e alastramento da doença caso o aquecimento chegue a 3,7◦C.
Foto: PNAS / Divulgação

As reduções no número de casos de dengue em cenários com aquecimento limitado a 2°C e 1.5°C - as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris - foram calculadas em comparação ao número de casos estimados para 2100 se as temperaturas médias subirem a 3,7°C, que é a elevação esperada caso as emissões de carbono continuem nas taxas atuais, sem nenhuma medida para deter o aquecimento global.

O Acordo de Paris, estabelecido em 2015, determina que os 195 países signatários se esforcem para conter o aquecimento global a menos de 2°C até o final do século, com tentativas de atingir uma meta mais ambiciosa de limitar o aquecimento a 1,5°C, em comparação aos níveis pré-industriais.

De acordo com o novo estudo, limitar o aquecimento a 2°C representaria uma redução de 800 mil casos por ano até 2050 e de 2,8 milhões de casos por ano até 2100. Limitar o aquecimento a 1,5°C produziria uma redução de 1,1 milhão de casos anuais até 2050 e de 3,3 milhões de casos por ano até 2100.

O Brasil, segundo os pesquisadores, seria um dos países mais beneficiados com a limitação da temperatura média global às metas mais ambiciosas do Acordo de Paris. Com uma limitação do aquecimento a 1,5°C, o País evitaria 500 mil casos por ano até 2050 e .1,4 milhão de casos anuais até 2100.

De acordo com o primeiro autor do estudo, o pesquisador mexicano Felipe Colón-González, da Escola de Ciências Ambientais da Universidade East Anglia (Reino Unido), a pesquisa demonstra que limitar o aquecimento global a 2°C ou 1.5°C poderia trazer importantes benefícios à saúde humana.

"Existe uma preocupação crescente sobre os potenciais impactos das mudanças climáticas sobre a saúde humana. Embora já se reconhecesse que limitar o aquecimento a 1.5°C traria benefícios à saúde humana, a magnitude desses benefícios ainda não havia sido quantificada", disse Colón-González.

O cientista brasileiro Carlos Peres, também da Universidade East Anglia, coautor do estudo e orientador do pós-doutorado de Colón-González, chama a atenção para os impactos econômicos de um aumento continental dos casos de dengue.

"Muitas vezes se pensa que o custo para combater as mudanças climáticas é muito alto. Mas o estudo mostra que, se não houver uma limitação do aquecimento global, teremos uma intensificação dos casos de dengue nos lugares onde eles já ocorrem e, principalmente, haverá uma expansão geográfica da incidência da doença. Essa expansão terá um impacto substancial nos sistemas de saúde, com um custo muito maior que o do combate às mudanças climáticas", disse Peres ao Estado.

Os impactos econômicos negativos gerais do aquecimento global - incluindo saúde pública, agricultura e custos ligados a eventos extremos - já haviam sido quantificados por outro estudo, publicado na revista Nature no dia 23 de março: manter o aquecimento no limite de 1.5°C até 2100, em vez de 2°C, representaria uma economia de US$ 20 trilhões.

Expansão geográfica

Segundo os autores do novo estudo, a costa do Brasil, o sul do México, o Caribe, o norte do Equador, a Colômbia e a Venezuela seriam os locais mais afetados pelo aumento dos casos de dengue provocado pelas mudanças climáticas.

Como o mosquito transmissor da doença, Aedes aegypti, vive em locais quentes e úmidos, o aquecimento global também aumentaria os limites geográficos da doença, incluindo locais onde a incidência é atualmente muito baixa, como o Paraguai e o norte da Argentina.

De acordo com outro dos autores do estudo, Iain Lake, também da Universidade East Anglia, entender e quantificar os impactos do aquecimento na saúde humana é crucial para que os sistemas de saúde pública se preparem e possam responder às epidemias.

"O aquecimento já chegou a 1°C acima dos níveis pré-industriais e, na atual trajetória, se os países cumprirem suas propostas de redução do CO2, chegaremos a 3°C. Portanto, fica evidente que há muito a ser feito para reduzir o CO2 rapidamente, se quisermos evitar esses impactos", disse Lake.

Além de Peres, Colón-González, e Lake, também participaram do estudo Ian Harris, Timothy Osborn, Paul Hunter - todos da Universidade East Anglia - e Christine Steiner São Bernardo, da Universidade Federal do Mato Grosso.

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