Cobras venenosas descritas em papiro egípcio são identificadas
Um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade de Bangor, no Reino Unido, fez uma releitura do chamado Papiro do Brooklyn, um tratado médico do Antigo Egito sobre tratamento de picadas de cobra datado entre 660 a.C. e 330 a.C. A pesquisa conseguiu identificar dez espécies entre as 34 citadas no documento.
A descoberta põe fim a controvérsias entre os especialistas que vinham tentando determinar essas espécies com base nas descrições dos sacerdotes da época. Trabalhando sob orientação da antropóloga Isabelle Winder e do ecologista de venenos Wolfgang Wüster, a mestranda em Zoologia, Elysha McBride, utilizou uma técnica chamada modelagem de nicho.
Esse tipo de abordagem, que estuda o nicho ecológico de uma espécie animal dentro do seu habitat, considera as condições ambientais onde determinada espécie vive nos dias de hoje e depois agrega informações climáticas de outros lugares para determinar outros possíveis lares adequados.
Como foram descobertos os antigos habitats das cobras egípcias?
Muito usado por conservacionistas para implantar medidas de proteção para espécies ameaçadas, o método de modelagem de nicho foi usado por McBride em sentido contrário, para voltar no tempo e descobrir onde certas cobras poderiam ter provavelmente vivido no passado, através da incorporação de dados climáticos antigos.
O estudo revelou que, por serem bem mais úmidos no passado, os climas do Egito poderiam ter sustentados muitas serpentes que atualmente não vivem mais lá. A pesquisa se concentrou particularmente em dez espécies características dos trópicos africanos hoje, entre as quais algumas das mais venenosas do mundo, como a mamba negra, a víbora e a boomslang.
A "aposta" se mostrou acertada, pois, das dez espécies testadas, nove provavelmente poderiam ter vivido no sul e sudeste do antigo Egito sob as condições climáticas daquela época. Outras linhagens podem ter existido no Kemet, a fértil planície aluvial do rio Nilo.
Quais cobras foram identificadas no Papiro do Brooklyn?
As cobras descritas no manuscrito do Museu do Brooklyn totalizam 34 espécies, das quais 13 caracterizações foram perdidas. A mais famosa delas — a grande cobra de Apófis (deus do caos) — tinha quatro presas. Essa característica incomum pode muitas vezes ser encontrada na atual boomslang (Disopholidus typus) das savanas da África Subsaariana, encontrada nos dias atuais a 650 quilômetros ao sul do Egito.
De acordo com o estudo, as paleodistribuições mostraram quatro espécies dentro do Egito moderno (Bitis arietans , Dolichophis jugularis , Macrovipera lebetina e Daboia mauritanica). A Daboia palaestinae ocuparia um habitat no Egito moderno, mas separada da área central da espécie. Já a décima espécie, Causus rhombeatus teria estado em tradicionais reinos parceiros dos antigos egípcios.
A conclusão foi que "todas as dez espécies modeladas neste estudo poderiam ter mordido pessoas do Antigo Egito". Além disso, o estudo mostrou que a modelagem de nicho "reversa" foi eficaz para identificar um ecossistema ancestral.