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Como caranguejos de sangue azul podem ajudar no desenvolvimento da vacina contra covid-19 - e morrer por isso

Os caranguejos-ferradura estão entre as criaturas mais antigas do mundo. Seu sangue azul é usado para testar se vacinas são seguras.

10 jul 2020 - 17h12
(atualizado em 14/7/2020 às 10h15)
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Um litro de sangue azul pode ser vendido por até US$ 15 mil (cerca de R$ 80 mil, na cotação atual).
Um litro de sangue azul pode ser vendido por até US$ 15 mil (cerca de R$ 80 mil, na cotação atual).
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Encontrar uma vacina para a covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, seria uma ótima notícia para todos — menos para o caranguejo-ferradura.

Isso porque a descoberta de uma vacina global significaria um grande aumento na demanda por esse artrópode quelicerado.

Os caranguejos-ferradura estão entre as criaturas mais antigas do mundo. Eles sobreviveram aos dinossauros e acredita-se que estejam no planeta há pelo menos 450 milhões de anos.

O sangue desses "fósseis vivos" é usado para testar se as vacinas são seguras.

Cerca de 200 grupos de pesquisa em todo o mundo estão trabalhando em vacinas, e 18 protótipo estão sendo testados em pessoas em ensaios clínicos.

A maioria dos especialistas acredita que uma vacina para covid-19 provavelmente estará amplamente disponível em meados de 2021.

Uma vez que suas conchas são perfuradas perto do coração, cerca de 30% do sangue é colhido
Uma vez que suas conchas são perfuradas perto do coração, cerca de 30% do sangue é colhido
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Colheita de sangue

Os cientistas têm extraído o sangue azul da ferradura desde os anos 1970, para testar se equipamentos médicos e remédios intravenosos são estéreis para uso.

A presença de bactérias nocivas no equipamento pode matar, mas o sangue do caranguejo-ferradura é hipersensível a toxinas bacterianas.

Ele é usado para testar a contaminação durante a fabricação de qualquer coisa que possa entrar no corpo humano, desde vacinas e gotas intravenosas a dispositivos médicos implantados.

Grande negócio

Todos os anos, cerca de meio milhão de caranguejos-ferradura do Atlântico são capturados para uso biomédico, de acordo com a Comissão de Pesca Marinha dos Estados do Atlântico.

O sangue na ferradura é um dos líquidos mais caros do mundo: um litro de sangue azul pode ser vendido por até US$ 15 mil (cerca de R$ 80 mil, na cotação atual).

Por que o sangue é azul?

A cor azul vem do cobre presente no sangue do animal — no sangue humano, os átomos de ferro desempenham a mesma função, gerando a cor vermelha.

Mas não é a cor do sangue do caranguejo-ferradura que interessa aos cientistas.

Além do cobre, o sangue contém um produto químico especial que retém as bactérias por meio da coagulação.

Ele pode detectar a presença de bactérias, mesmo em quantidades extremamente baixas, e o agente de coagulação é usado para fazer os testes — o teste Limulus Amebocyte Lysate (LAL) das espécies americanas, e o teste Tachypleus Amebocyte Lysate (TAL) das espécies asiáticas.

O que acontece com os caranguejos depois?

Uma vez que suas conchas são perfuradas perto do coração, cerca de 30% do sangue é colhido.

Depois, os caranguejos são devolvidos à natureza.

Mas estudos mostram que entre 10% e 30% morrem nesse processo, e as fêmeas sobreviventes têm mais dificuldade para procriar.

Estudos mostram que entre 10% e 30% morrem nesse processo
Estudos mostram que entre 10% e 30% morrem nesse processo
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Existe alternativa?

Atualmente, existem quatro espécies de caranguejos-ferradura no mundo.

Todos as quatro estão ameaçadas por causa do excesso de pesca para uso na indústria biomédica e de seu uso como isca de peixe, mas também devido à poluição.

Os cientistas argumentam que a demanda por testes LAL e TAL deve aumentar à medida que a população global aumenta e as pessoas vivem por mais tempo.

Movimentos conservacionistas reivindicam testes sintéticos como uma abordagem mais ética para detectar toxinas, mas as empresas farmacêuticas dizem que alternativas sintéticas devem provar que podem detectar toxinas no mundo real, não apenas as cepas fabricadas e usadas até agora em seus testes.

Em junho, a Food and Drug Administration (FDA), agência sanitária dos Estados Unidos que decide o que torna os medicamentos seguros, disse que não pode provar que essas alternativas sintéticas são efetivamente capazes de detectar toxinas.

"Existem pelo menos 30 empresas trabalhando com vacinas, então cada uma delas precisa passar por muitos testes de esterilidade", afirmou Barbara Brummer, da The Nature Conservancy, ONG internacional de conservação da biodiversidade, em Nova Jersey, estado americano onde muitos caranguejos são retirados da natureza.

Portanto, as empresas que desejam vender medicamentos, incluindo vacinas para covid-19, vão precisar usar cada vez mais sangue dos caranguejo-ferradura para realizar os testes.

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