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Como e quando os humanos começaram a ficar de pé e andar

O bipedismo não apareceu simplesmente da noite para o dia — foi resultado de uma evolução gradual que começou há muitos milhões de anos.

4 dez 2021 - 21h21
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Lucy (ao centro) e dois indivíduos da espécie Australopithecus sediba, um ancestral dos humanos modernos de 2 milhões de anos atrás
Lucy (ao centro) e dois indivíduos da espécie Australopithecus sediba, um ancestral dos humanos modernos de 2 milhões de anos atrás
Foto: Wikimedia Commons / BBC News Brasil

Quando e como começamos a andar? — Rayssa, 11 anos, Newark, New Jersey.

Esta é uma pergunta importante porque muitos antropólogos veem o bipedismo — que significa andar sobre duas pernas — como uma das características que definem os "hominídeos", ou humanos modernos, e seus ancestrais.

Mas é difícil dar uma resposta simples porque o bipedismo não apareceu da noite para o dia. Foi resultado de uma evolução gradual que começou há muitos milhões de anos.

E é claro que não há vídeos da primeira pessoa que andou ereta. Então, como os cientistas tentam responder às perguntas sobre como os humanos se moviam em um passado remoto?

Felizmente, a forma dos ossos de uma criatura e a maneira como eles se encaixam podem contar a história de como aquele corpo se movia quando estava vivo. E os antropólogos podem encontrar outras evidências na paisagem, por exemplo, que indicam como os povos antigos caminhavam.

Em 1994, os primeiros fósseis de um hominídeo até então desconhecido foram encontrados na Etiópia. Os antropólogos responsáveis pela descoberta descreveram os restos mortais como sendo de uma mulher adulta, e decidiram chamar a espécie de Ardipithecus ramidus, apelidada de "Ardi".

Ao longo dos dez anos seguintes, mais de cem fósseis da espécie de Ardi foram encontrados e datados entre 4,2 milhões e 4,4 milhões de anos.

Quando os cientistas examinaram essa coleção de ossos, eles identificaram certas características que indicavam bipedismo. O pé, por exemplo, tinha uma estrutura que permitia dar passos com o impulso dos dedos, como fazemos hoje, o que os símios que caminham sobre quatro patas não fazem.

A forma dos ossos pélvicos, a maneira que as pernas estavam posicionadas sob a pélvis e como os ossos das pernas se encaixavam, também sugeriam que andavam eretos.

Pode ser que Ardi não andasse exatamente como fazemos hoje, mas o bipedismo, como forma normal de movimento, parece ser uma característica desses fósseis de 4,4 milhões de anos atrás.

Reprodução do que viria a ser Lucy, da espécie de Australopithecus afarensis
Reprodução do que viria a ser Lucy, da espécie de Australopithecus afarensis
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Antropólogos já haviam encontrado quase 40% do esqueleto completo de uma espécie de hominídeo que viveu cerca de 1 milhão de anos depois de Ardi, também na Etiópia.

Por causa de sua semelhança com outros fósseis encontrados no sul e no leste da África, chamaram a espécie de Australopithecus afarensis, que em latim significa "símio do sul de uma região distante".

Os restos mortais encontrados também eram do sexo feminino, então eles apelidaram de "Lucy" em homenagem a uma música dos Beatles (Lucy In The Sky With Diamonds) popular na época.

Vários outros fósseis desta espécie — mais de 300 indivíduos — foram adicionados ao grupo, e hoje os pesquisadores sabem muito sobre Lucy e seus parentes.

Lucy tinha uma pelve parcial, mas bem preservada, que foi como os antropólogos sabiam que ela era do sexo feminino.

A pélvis e os ossos da coxa se encaixavam de uma maneira que mostrava que ela caminhava ereta sobre as duas pernas. Nenhum osso dos pés foi preservado, mas descobertas posteriores de A. afarensis incluem pés e indicam também o andar bípede.

Além de restos fósseis, os cientistas encontraram outras evidências notáveis de como a espécie de Lucy se deslocou na região de Laetoli, na Tanzânia.

Esqueletos da espécie de Lucy continuaram a ser encontrados na Etiópia
Esqueletos da espécie de Lucy continuaram a ser encontrados na Etiópia
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Sob uma camada de cinzas vulcânicas que data de 3,6 milhões de anos atrás, antropólogos encontraram pegadas fossilizadas no que antes havia sido uma superfície úmida de cinzas vulcânicas.

Os rastros se estendem por quase 30 metros, e 70 impressões individuais indicam a presença de pelo menos três indivíduos caminhando eretos sobre os dois pés.

Dada a idade presumida, os donos das pegadas eram provavelmente Australopithecus afarensis.

As pegadas comprovam que esses hominídeos caminhavam sobre duas pernas, mas o andar parece um pouco diferente do nosso de hoje. Ainda assim, Laetoli fornece evidências sólidas do bipedismo há 3,5 milhões de anos.

Um hominídeo com anatomia tão parecida com a nossa e que podemos dizer que caminhava como nós só apareceu na África há 1,8 milhão de anos.

O Homo erectus foi o primeiro a ter pernas longas e braços mais curtos que tornariam possível andar, correr e se deslocar pelas paisagens da Terra como fazemos hoje.

O Homo erectus também tinha um cérebro muito maior do que os hominídeos bípedes anteriores, e fabricava e usava ferramentas de pedra chamadas instrumentos acheulianos.

Antropólogos consideram o Homo erectus nosso parente próximo e um dos primeiros membros de nosso próprio gênero, Homo.

Então, como você pode ver, o andar humano demorou muito para se desenvolver. Surgiu na África há mais de 4,4 milhões de anos, muito antes do início da fabricação de ferramentas.

Por que os hominídeos andam eretos? Talvez isso tenha permitido que eles avistassem os predadores com mais facilidade ou corressem mais rápido, ou talvez o ambiente tenha mudado e houvesse menos árvores para subir, como os primeiros hominídeos faziam.

Seja como for, os humanos e seus ancestrais começaram a caminhar muito cedo em sua história evolutiva.

Embora o bipedismo tenha vindo antes da fabricação de ferramentas, a postura ereta liberou as mãos deles para fazer e usar ferramentas, o que acabou se tornando uma das marcas registradas dos humanos como nós.

*Jan Simek é professor de Antropologia na Universidade do Tennessee, nos EUA.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).

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