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Como funciona a vacina 'personalizada' contra melanoma, que promete revolucionar tratamento de forma mais letal de câncer de pele

Pesquisadores estão trabalhando nos últimos testes de uma vacina contra o melanoma projetada 'sob medida' para ajudar cada paciente.

29 abr 2024 - 06h15
(atualizado às 07h38)
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Steve Young participou dos últimos testes de vacinas em Londres
Steve Young participou dos últimos testes de vacinas em Londres
Foto: PA Media / BBC News Brasil

É um ensaio importante e pioneiro que pode representar um avanço significativo na luta contra o câncer.

Pesquisadores em Londres estão testando a primeira vacina "personalizada" de RNA mensageiro (mRNA) projetada para combater o melanoma, a forma mais letal de câncer de pele.

A vacina, chamada tecnicamente de mRNA-4157 (V940), utiliza a mesma tecnologia das vacinas contra a covid-19 mais recentes e está sendo testada em ensaios de fase III, última fase de testes antes da avaliação final para aprovação e liberação do uso em larga escala.

Participam também do programa de testes os Estados Unidos e a Austrália, porém, o Reino Unido foi o primeiro dos três países a iniciarem a fase III, após apreciação positiva dos resultados nas duas fases anteriores.

Um dos primeiros pacientes a testar esta vacina na fase III é Steve Young, de 52 anos, que teve um melanoma removido do couro cabeludo em agosto do ano passado.

O objetivo é ajudar o sistema imunológico dele a reconhecer e eliminar qualquer célula cancerígena que possa ter permanecido em seu corpo. Se tudo correr bem, isso impedirá que o câncer retorne.

Os médicos do University College London Hospitals (UCLH) estão administrando a vacina em conjunto com outro medicamento, o pembrolizumab ou Keytruda, que também auxilia o sistema imunológico a destruir as células cancerígenas.

Assinatura genética

O tratamento com a vacina e o medicamento, fabricados pelas empresas Moderna e Merck Sharp and Dohme (MSD), ainda não está disponível fora dos ensaios clínicos. Especialistas de outros países, incluindo a Austrália, também estão testando em pacientes para reunir mais evidências e determinar se deve ser generalizado.

É chamada de vacina personalizada porque sua composição é modificada para se adequar a cada paciente. É gerada especificamente para corresponder à assinatura genética única do próprio tumor do paciente e age instruindo o corpo a produzir proteínas ou anticorpos que atacam os marcadores ou antígenos encontrados apenas nessas células cancerígenas.

A Dra. Heather Shaw faz parte dos testes realizados nos hospitais da University College London
A Dra. Heather Shaw faz parte dos testes realizados nos hospitais da University College London
Foto: PA Media / BBC News Brasil

A Dra. Heather Shaw, pesquisadora do UCLH, explicou que a vacina tem o potencial de curar pacientes com melanoma e está sendo testada em outros tipos de câncer, como pulmão, bexiga e rim. "

É uma das coisas mais emocionantes que vimos em muito tempo", afirmou. "Por ser personalizada, não poderia ser administrada a outro paciente, porque não se esperaria que funcionasse."

"É verdadeiramente personalizada. Essas coisas são muito técnicas e são pensadas para o paciente", acrescenta.

"Com as luvas postas"

O objetivo do ensaio internacional no Reino Unido é recrutar entre 60 e 70 pacientes em oito clínicas nas cidades de Londres, Manchester, Edimburgo e Leeds.

Os pacientes do experimento devem ter sido submetidos à remoção cirúrgica de melanoma de alto risco nas últimas 12 semanas para garantir o melhor resultado. Alguns deles receberão uma injeção simulada ou placebo em vez da vacina. No entanto, nenhum deles sabe qual irá receber.

"[O ensaio] me deu a oportunidade de sentir que realmente estava fazendo algo para lutar contra um possível inimigo invisível", disse Young à emissora Radio 4 da BBC.

"Os exames mostraram que eu estava radiologicamente limpo, mas obviamente ainda havia a possibilidade de células cancerígenas flutuando por aí sem serem detectadas. Então, em vez de ficar sentado esperando que não voltasse a aparecer, tive a oportunidade de vestir as luvas de boxe e enfrentá-lo".

Em janeiro de 2023, era assim o caroço no couro cabeludo que Young
Em janeiro de 2023, era assim o caroço no couro cabeludo que Young
Foto: PA Media / BBC News Brasil

Sintomas do melanoma

Young, que é músico de profissão, teve um caroço no couro cabeludo por muitos anos antes de perceber que se tratava de um câncer. Ele disse que o diagnóstico causou um "impacto enorme" nele.

"Passei literalmente duas semanas pensando 'é o fim'", explica. "Meu pai morreu de enfisema aos 57 anos e eu pensei 'vou morrer mais jovem que meu pai'".

Os sinais mais comuns de melanoma que as pessoas devem ficar atentas são:

  • Um novo sinal (como pinta, mancha ou verruga) anormal
  • Um sinal existente que parece estar crescendo ou mudando
  • Uma mudança (de cor ou textura, por exemplo) em uma área da pele que era normal.
É importante detectar a tempo a alterações suspeitas na pele no caso de melanoma
É importante detectar a tempo a alterações suspeitas na pele no caso de melanoma
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Qual o aspecto do melanoma?

A mudança de aparência de um sinal, como nessas quatro imagens, pode ser um sinal de melanoma. A lista de verificação ABCDE pode ajudar a identificar se um sinal é anormal:

A - assimétrico (o sinal tem uma forma irregular?)

B - borda (as bordas são irregulares ou desiguais?)

C - cor (o sinal tem uma cor irregular com diferentes tons ?)

D - diâmetro (o sinal é maior que os outros?)

E - evolução (está mudando? Começou, por exemplo, a coçar, sangrar ou formar crostas?)

Essas mudanças nem sempre são cancerígenas, mas é importante fazer uma revisão. Quanto mais cedo um melanoma for detectado, mais fácil será tratá-lo e maiores serão as chances de sucesso.

Fotos de manchas que indicam melanoma
Fotos de manchas que indicam melanoma
Foto: NHS / BBC News Brasil

Os dados do ensaio de fase II, publicados em dezembro, revelaram que as pessoas com melanomas graves de alto risco que receberam a injeção junto com a imunoterapia Keytruda tinham quase metade (49%) das chances de morrer ou de ter o câncer reaparecido após três anos em comparação com aquelas que apenas receberam o medicamento.

Shaw afirmou que havia uma esperança real de que a terapia pudesse "mudar as regras do jogo", especialmente porque parecia ter "efeitos colaterais relativamente toleráveis".

Estes incluem cansaço e dor no braço quando a injeção é administrada, e acrescenta que, para a maioria dos pacientes, não parece ser pior do que a vacina contra a gripe ou a covid-19.

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