Consumo na China levou à matança de 280 mil tubarões no Brasil
A demanda por alimentos feitos a partir da barbatana de tubarão na Ásia está sendo apontada como a causa da matança ilegal de 280 mil animais na costa brasileira, nos cálculos de uma organização não-governamental com base em Porto Alegre.
O Instituto de Justiça Ambiental, que fez a estimativa a partir de autos de infração e apreensões do Ibama no Pará, entrou com uma ação na Justiça na qual demanda uma indenização bilionária de uma empresa de pesca por danos ambientais "irreversíveis e incontáveis" na costa paraense.
Os danos se referem à captura ilegal de 25 toneladas de barbatanas de tubarão e bexigas natatórias de animais não identificados, que a ONG acusa uma empresa de processar e revender ilegalmente. A mercadoria seria enviada provavelmente de portos no Rio Grande do Sul para o mercado asiático.
O instituto pede uma indenização de quase R$ 1,4 bilhão. No entanto, diz a ONG, o valor deverá subir à medida que forem apresentados pareceres técnicos sobre todos os ecossistemas afetados no decorrer do processo.
"Nunca ouvimos nada parecido. O que é assustador é que provém de apenas uma empresa. Imaginem então as quantidades que escapam da fiscalização do Ibama/PA", disse o diretor do IJA, Cristiano Pacheco.
"Quase não se fala na área costeira amazônica. Os brasileiros precisam saber que é a mais rica do país em biodiversidade marinha, banhada pela foz do Rio Amazonas."
Iguaria
As barbatanas de tubarão são consideradas uma iguaria na cozinha do leste asiático, e analistas dizem que o aumento da demanda, sobretudo da China, tem incentivado a extração dessa parte do animal para exportação ilegal.
O aumento do consumo do produto também atesta o crescimento do poder de compra dos consumidores chineses. Além disso, a barbatana de tubarão é usada em medicamentos.
Segundo o Instituo de Justiça Ambiental, os animais normalmente têm suas barbatanas retiradas para exportação ilegal e em seguida são jogados de volta ao mar.
"Essa é uma situação extremamente séria e representa apenas uma fração dos tubarões ilegalmente abatidos na costa do Nordeste brasileiro", disse Pacheco.
Dentre os animais abatidos, segundo a ONG, estão espécies marinhas em risco de extinção e vulnerabilidade, como o tubarão-grelha. "Suprimir os tubarões dessa forma absurda e descontrolada colocará em colapso os ecossistemas marinhos na região, já que o tubarão é topo de cadeia, inventor da seleção natural nos oceanos e habitante deste planeta há mais de 400 milhões de anos."
Em maio, agentes do Ibama no Pará conduziram uma batida na empresa acusada e apreenderam cerca de 3,3 toneladas de barbatana de tubarão e mais 2 toneladas de bexiga natatória de outros peixes. A licença ambiental da empresa só permitia a comercialização de uma tonelada do produto por mês.
Segundo declarou o Ibama na época, as barbatanas seriam vendidas a R$ 65 o quilo, enquanto as as bexigas natatórias custariam entre R$ 21 e R$ 81 o quilo.