Derretimento do maior iceberg do mundo liberou quase 50 vezes consumo de água do Brasil por dia
O A68 foi, por um curto período, o maior iceberg do mundo. Ele cobria uma área de quase seis mil quilômetros quadrados quando se soltou da Antártida em 2017.
O gigantesco iceberg A68 despejou mais de 1,5 bilhão de toneladas de água doce no oceano todos os dias no auge de seu derretimento.
Para colocar isso em contexto, é cerca de 48 vezes a quantidade de água usada diariamente por todos os brasileiros (considerando-se que cada brasileiro consome 154 litros de água diariamente, totalizando cerca de 32 milhões de toneladas por dia).
O A68 foi, por um curto período, o maior iceberg do mundo.
Ele cobria uma área de quase seis mil quilômetros quadrados quando se soltou da Antártida em 2017. Mas no início de 2021, ele já havia desaparecido.
Um trilhão de toneladas de gelo derreteram.
Pesquisadores estão atualmente tentando avaliar o impacto que o A68 teve no meio ambiente.
E uma equipe liderada pela Universidade de Leeds revisou todos os dados de satélite para calcular as dimensões do gigantesco iceberg à medida que ele se deslocava para o norte da Antártida, através do Oceano Antártico e para o Atlântico Sul.
Isso permitiu que o grupo avaliasse as taxas de fusão variáveis durante os três anos e meio de existência do iceberg.
Um dos períodos-chave foi no final, quando o A68 se aproximou dos climas mais quentes do Território Ultramarino Britânico da Geórgia do Sul.
Por um tempo, houve temores de que o bloco gigante pudesse encalhar nas águas rasas ao redor, bloqueando as rotas de milhões de pinguins, focas e baleias.
Mas isso nunca aconteceu porque, como a equipe pode mostrar agora, o A68 perdeu profundidade suficiente para permanecer flutuando.
"Parece que ele tocou brevemente a plataforma continental. Foi quando o iceberg fez uma curva e vimos um pequeno pedaço se partir. Mas não foi suficiente para derrubar o A68", disse Anne Braakmann-Folgmann, de Leeds, à BBC News.
"E acho que você pode ver o porquê nas estimativas de espessura", disse Andrew Shepherd, co-autor do estudo. "Aquela altura, a quilha do iceberg era de 141m, em média, e as cartas de batimetria (profundidade) na área mostravam 150m. No final, foi por pouco."
Em abril de 2021, o A68 havia se quebrado em inúmeros pequenos fragmentos que não podiam ser rastreados. Mas seus impactos no ecossistema terão uma vida muito mais longa.
Os icebergs gigantes, ou de topo plano, são agora reconhecidos por terem uma influência considerável onde quer que passem.
O derretimento desses pedaços enormes de água doce vai alterar as correntes locais. E todo o ferro, outros minerais e até matéria orgânica apanhados ao longo de suas vidas e posteriormente lançados no oceano entrarão na produção biológica.
O British Antarctic Survey conseguiu colocar alguns planadores robotizados nas proximidades do A68 para monitorar as condições antes que a massa de gelo se desfizesse totalmente.
Os dados recuperados desses e de outros instrumentos, embora ainda não totalmente analisados, revelam algumas características interessantes, segundo o oceanógrafo biológico Geraint Tarling.
"Achamos que há um sinal muito forte na mudança da flora das espécies de fitoplâncton em torno de A68, e também na deposição real de material nas partes mais profundas do oceano. O sensor de partículas no planador estava captando alguns sinais muito fortes de deposição vindo do iceberg", disse ele à BBC News.
Detalhes da mudança de forma e fluxos de água doce do A68 estão contidos em um artigo publicado na revista Remote Sensing of Environment.
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