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Em "repovoamento", bugios voltam Parque da Tijuca

18 set 2015 - 17h20
(atualizado às 18h39)
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Pouco depois de a gaiola ser aberta, quatro hesitantes bugios deram seus primeiros passos no Parque Nacional da Tijuca, no coração do Rio de Janeiro, em 3 de setembro.

Foto: Divulgação

Não demorou, porém, até que os animais (também chamados de macacos-barbados e guaribas) começassem a se adaptar à nova casa, escalando as árvores e se alimentando de seus frutos.

A espécie estava ausente do local havia mais de cem anos, segundo estimativas de pesquisadores, provavelmente por culpa da caça predatória e do desmatamento.

A chegada dos novos bugios é parte de um projeto maior, de reconstrução da fauna do Parque Nacional da Tijuca, para combater o chamado mal da "floresta vazia": a perda de animais de médio e grande porte por conta da caça tem efeitos muito prejudiciais à sobrevivência da própria floresta.

"A Tijuca está se tornando um laboratório em técnicas de reintrodução da fauna", explica à BBC Brasil Fernando Fernandez, da UFRJ, pesquisador responsável pelo projeto, que teve apoio financeiro da Fundação Grupo Boticário. "Alguns desses animais são importantes dispersores de sementes, ajudando (na reprodução) de árvores ameaçadas."

Fernandez explica que o primeiro animal a ser reintroduzido no parque pelo projeto foi a cutia, em 2010, conhecida justamente por sua capacidade de transportar e enterrar sementes. Agora já há 35 cutias habitando as matas da Tijuca.

"Os bugios também têm um papel importante, porque alguns besouros usam as fezes (dos primatas) para liberar nutrientes no solo", explica Fernandez.

Autossustentável

O plano, diz o pesquisador, é levar mais três grupos de cinco bugios à natureza nos próximos anos, com o objetivo de tornar a população autossustentável.

Antes de serem reintroduzidos no parque, eles passaram oito meses sob observação no centro de pesquisas da UFRJ, passando por exames médicos, recebendo colares e tornozeleiras de monitoramento e aprendendo a conviver entre si.

"Isso é muito importante porque os bugios montam grupos sociais, permanecendo juntos na floresta", prossegue o pesquisador.

O grupo inicialmente tinha cinco primatas, mas um deles acabou sendo expulso pelo macho dominante. Precisou, então, ser retirado do projeto, caso contrário seria morto pelos demais.

"Vamos monitorá-los até termos a confiança de que estão bem, para se reproduzir e crescer como população", diz.

Além de bugios, existe a intenção de reintroduzir ao parque espécies como o cateto (porco-do-mato), o jupará, o preguiça-de-coleira e o mico-leão dourado.

"A ideia é reconstruir a floresta no longo prazo, como parte de um projeto maior de 'refaunação' do Rio de Janeiro e de outras partes do país."

Agora, é bem possível que o bugio - conhecido por seus ruídos, que podem ser ouvidos a quilômetros de distância durante as disputas territoriais dos animais - comece a ser avistado pelos milhões de visitantes anuais do Parque Nacional da Tijuca.

A interação com humanos deixa Fernandez animado, mas também preocupado.

"Espero que a reação (das pessoas) seja boa, porque são bichos muito carismáticos. O que eu recomendo é que se mantenha distância, não se tente interagir com ele, e por favor não se dê comida a ele, que pode fazer mal. Observe e curta os bichos porque eles são muito legais, mas guarde distância. Muita gente vai ao Parque Nacional da Tijuca mais pelo Cristo (Redentor), mas haverá cada vez mais animais ali. É uma chance de valorizar a fauna e aprender a conservá-la."

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